Festival Kinoarte
arredar pé de uma mesma área física (a casa de Janet e do marido, interpretado por um semi-catatônico e esplêndido Timothy Spall, muitos quilos a menos) e evitando o bom-mocismo conformado do teatro filmado através de uma aproximação sempre cinematográfica à ação, a roteirista-diretora Sally Potter elege o caos como
Estão abertas as inscrições para a 20ª edição do Festival Kinoarte de Cinema, de Londrina. Curtas-metragens produzidos a partir de janeiro de 2017 podem participar, desde que não excedam 24 minutos e 59 segundos de duração. O filmes concorrem em quatro categorias: Competitiva Nacional, Competitiva Paranaense, Competitiva Regional e Competitiva Ibero-Americana. Os filmes que não são em português devem ser legendados na língua. As inscrições podem ser feitas até o dia 21 de outubro, online ou pelo correio. Mais informações no site do festival. seu mensageiro implacável e entrega uma sátira impiedosa, uma metáfora tanto sobre as perplexidades e temores coletivos causados pelo futuro das democracias liberais como sobre os tempos confusos e o desatino vivido atualmente pela Inglaterra após a vitória do Brexit.
O longa-quase-media-metragem coloca em cena um grupo de personagens que funciona como amostragem da elite urbana progressista, de resto culta, bem pensante mas dolorosamente humana e tragicômica. O personagem de Scott-Thomas percorre tanto a euforia quanto a desolação, se esquecendo de sua militância em nome da conciliação e do diálogo quando empunha uma arma em nome de vingança pessoal. Patrícia Clarkson é a amiga antiga e fiel, uma língua sempre afiada a respingar sarcasmo; o ator alemão Bruno Ganz faz um hippie na terceira idade cozinhando banalidades new age; Cillian Murphy é o jovem banqueiro Tom que não consegue esconder o mal que o devora. E o casal de lésbicas, inseminado artificialmente e à espera de trigêmeos, acaba demonstrando as fissuras de uma relação aparentemente madura e equilibrada.
Sally Potter aplicou em todos os personagens o mesmo padrão de hipocrisia, extraindo deles um lado obscuro proveniente dos dilemas derivados da tensão entre aquilo que consideram correto (ou acham que é) e o que depois marca uma vida pública ou a hora da verdade, hora que afinal sempre chega. Eles representam uma geração de esquerdistas em depressão, um claro reflexo da crise atual sofrida na Inglaterra (e em grande parte da Europa) pela democracia social. Há na trama, evidentemente, o conflito entre o público e o privado. E o que parece ser uma comédia em torno de conversas entre intelectuais progressistas é de fato uma exposição dos possíveis vazios de uma sociedade que perdeu a fé em si mesma e no futuro.