A inadimplência e o rombo bilionário no Fies
Os contratos em atraso do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) bateram recorde. Mais da metade (57,1%) dos 727.522 contratos em fase de amortização em junho estão com atraso de pelo menos um dia. Segundo o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), a dívida oficial cresceu mais de 30 vezes em três anos impactando em um rombo de R$ 20 bilhões, podendo triplicar nos próximos anos. Em 2015, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União, esse número era de R$ 625 milhões.
O rombo bilionário exige uma atitude rápida. Por isso, o órgão responsável pela política, o Comitê Gestor do Fies pretende discutir um novo modelo de renegociação em outubro. A proposta é adotar parcelas menores e mais tempo para quitar a dívida. Dos atrasados, 75% já passam dos 90 dias sem pagar, apresentando maior risco para o governo.
O Fies foi criado em 1999 e teve uma explosão de contratos em 2010, quando os juros caíram de 6,5% para 3,4% ao ano, índice abaixo da inflação. Além disso, o financiamento passou a ser obtido a qualquer momento, a exigência de fiador foi relaxada e o prazo de quitação, alongado. Em 2015, uma série de medidas começou a mudar novamente o programa e a focar em determinados cursos e regiões. As alterações fizeram os financiamentos caírem e o primeiro semestre de 2018 registrou o menor número de novas contratações desde 2011.
Especialistas criticam o modelo anterior, afirmando que o governo fez um financiamento sem garantia e com juros baixos. Como não foi feita uma análise de risco e uma avaliação contínua do sistema, a situação chega agora em uma situação insustentável. O Ministério da Educação responsabiliza a gestão anterior, afirmando que os números refletem a falta de sustentabilidade do modelo antigo do Fies enquanto reconhece que o desafio é negociar com os inadimplentes.
Esses atrasos nos pagamentos são reflexo de um sistema que precisa de ajustes, mas também são consequência da crise econômica que o Brasil atravessa e do alto número de desempregados. Outro reflexo está no aumento preocupante da evasão escolar no ensino superior. Com base em dados de 2010, o MEC divulgou no ano passado um índice assustador: quase metade dos universitários brasileiros desiste do curso antes de se formar. Um cenário que pode justificar a falta de profissionais qualificados em determinadas áreas e a demora na entrada dos jovens no mercado de trabalho.
Especialistas criticam o modelo anterior, afirmando que o governo fez um financiamento sem garantia e com juros baixos