Pais protestam contra desapropriação de centro de educação infantil
Creche está instalada em terreno doado a instituição filantrópica; comunidade teme fechamento da unidade
Pais e mães de alunos do CEI (Centro de Educação Infantil ) Doutor Jorge Dib Abussafi, localizado no Jardim San Fernando (zona sul), realizaram um protesto em frente à unidade educacional para manifestar contra a desapropriação do terreno onde o CEI está instalado. A rua foi bloqueada e pneus foram queimados para chamar a atenção para o problema. O terreno no qual se encontra a escola teria sido transferido da Fundação Melvin Jones (Lions Club) para o CAPC (Centro de Apoio ao Paciente com Câncer), que quer construir seu instituto na região. Nesta semana foram distribuídos bilhetes nas residências convidando para uma audiência pública referente ao projeto de lei 220/2017 que altera o zoneamento do lote no Jardim San Fernando (zona sul) para a implantação do CAPC , a ser realizada no dia 1º de outubro, às 19 horas, na Câmara Municipal de Londrina, porém muitos pais ficaram inseguros com essa notificação.
A mãe de uma aluna, Luciana Perroni, 35, ressaltou que o temor é de que a comunidade possa ficar sem a creche. “A preocupação não é só minha, mas de todas as mães que moram aqui”, destacou. Para ela, caso resolvam desapropriar o CEI, deve ser criada uma outra solução. “O CAPC deveria doar para a gente um novo terreno para a construção de uma nova creche. Mas isso teria de ser documentado, em nome da creche, para que a gente não tenha mais problemas assim”, sugeriu. “É uma creche que existe há mais de 20 anos e com a qual a gente mantém uma relação afetiva.”
Segundo Vera Pimenta, diretora da unidade, surgiram dúvidas entre os pais diante dessa notificação da audiência pública. “Foram algumas moças que deixaram o convite pelo bairro. Aqui na creche vieram duas meninas. A dúvida sobre essa desapropriação já existia há algum tempo e o bilhete gerou mais dúvidas. Como eu já estava reformulando o estatuto da creche, aproveitei para convocar uma reunião para isso e para esclarecer a situação sobre o CAPC”, destacou.
A creche filantrópica existe há 20 anos e foi criada originalmente pelo Lions Club de Londrina, mas ela recebe apenas 50% dos recursos necessários para a sua manutenção. O orçamento restante é complementado com doações e ações beneficentes, como venda de pastéis e feijoadas. “O que a gente quer é um local para a gente ficar. Se não for aqui, que seja em outro local. Temos 98 crianças matriculadas, além da fila de espera. A gente não tem esse número, porque isso é controlado pela central de vagas”, apontou.
A diretora ressaltou que não possui nada contra o CAPC, mas que a única preocupação é com a creche. “Se registrarem um novo terreno, colocando no nome da creche, não vejo problema. Mas mesmo assim, se formos mudar e construir uma estrutura para as 98 crianças, precisaríamos de pelo menos R$ 16 mil. Se formos aumentar o atendimento, teríamos que conseguir R$ 60 mil. Mas nós não temos caixa para isso. Dependemos de doações. Acho mais fácil o CAPC conseguir esses doadores para a gente, já que eles possuem uma rede de contatos muito mais ampla que a nossa. É mais fácil para eles conseguirem isso para a gente”, declarou.
A reportagem entrou em contato com o fundador do CAPC, o urologista Celso Fernandes Júnior, e ele garantiu que a creche não será fechada.
“Essa incerteza é criação deles. Já foi conversado com eles que a existência da creche foi uma condição da própria doação da Fundação Melvin Jones ao CAPC. A gente deixaria a creche lá até que ela se mudasse. Nós nunca os colocaríamos para fora. Estamos com o terreno há quatro anos e a creche continua normal ali”, declarou. Ele admitiu que o CAPC tentou viabilizar outro local para a creche. “Conversamos com a Secretaria Municipal de Educação, mas a conversa não foi para frente. Mas o CAPC nunca ameaçou ninguém. A escritura foi passada pelo Ministério Público. Não sei de onde veio o comentário de que estamos querendo tirá-los de lá. Eu sou responsável como presidente e não fui dizer nada a eles e não existe documento dizendo que iríamos tirá-los de lá”, argumentou. Segundo ele, no projeto do CAPC há previsão de uma creche para criança portadora de câncer. “Achamos que a creche é tão necessária para a criança com câncer ou não. Sou responsável pelo projeto, e não sei porque desse barulho. Tudo isso é desnecessário. O único movimento que estamos fazendo é para fazer a mudança de zoneamento para que a gente possa dar início às obras”, explicou.
A assessoria de comunicação da prefeitura afirmou que o caso está sendo acompanhando pelo poder executivo e que está tentando ver uma saída para que não tenha prejuízo para as crianças. A assessoria afirmou que a prefeitura está programando construção de um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) para aquela região, mas ele está sendo projetado para 2019 e 2020, mas garantiu que as crianças não irão ficar sem atendimento.
Segundo informações da Câmara, a audiência pública avaliaria a mudança de zoneamento para apenas um lote de terras de zona residencial 3 para zona comercial 6, no entanto há a possibilidade de adiamento da audiência.