Cooperativas de crédito têm crescimento de 27% ao ano
Maior atenção do BC ao sistema nos últimos anos torna associativismo opção à concentração de bancos comerciais
O cooperativismo financeiro cresce de forma significativa no País. Entre 2013 e 2017, as cooperativas de crédito registraram crescimento médio de ativos de 27% ao ano, segundo análise da consultoria PwC com base em dados do Banco Central. Período coincide com regulamentações do órgão em relação a este tipo de instituição financeira e com pós-crise econômica mundial de 2008, que tornou associativismo mais atrativo pela cobrança de juros menores. Paraná tem “números europeus”
As cooperativas de crédito tiveram um crescimento médio de ativos de 27% ao ano no Brasil entre 2013 e 2017, segundo análise da consultoria PwC com base em dados do BC (Banco Central). O período coincide justamente com os anos seguintes às principais resoluções do órgão para regulamentar esse tipo de instituição financeira, que criaram um marco regulatório e passaram a permitir, por exemplo, a adesão a todo o tipo de público e a atuação em cidades de qualquer tamanho. Ainda, remete também a anos pós-crise econômica mundial de 2008, que tornaram o associativismo mais atrativo ao público em geral justamente pela cobrança de juros menores.
Em período eleitoral, os brasileiros passaram a ouvir críticas de candidatos à concentração bancária nas mãos de cinco instituições estatais e privadas, que são Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, que controlavam 82% dos ativos no País em 2016, de acordo com o BC. As cooperativas aparecem justamente como uma opção ao público em geral e receberam nos últimos anos atenção significativa do principal agente regulador do mercado financeiro.
Somente de 2015 a 2017 o BC emitiu várias resoluções que aumentam a fiscalização e regulamentação para cooperativas de crédito, como as que instituem Ouvidoria (4.433/2015), Gerenciamento de Riscos e a Estrutura de Gerenciamento de Capital (4.557/2017), Canal de Denúncia (4.567/2017) e Auditoria Cooperativa (4.454/2015). “Se continuar a dar essa atenção, o crescimento que hoje é de mais de 20% ao ano vai fazer com que as cooperativas ocupem espaços importantes, que não são de interesse dos bancos por uma visão capitalista, como cidades pequenas e bairros”, diz o coordenador do Conselho Especializado de Crédito da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e presidente nacional do Sicredi, Manfred Alfonso Dasenbrock.
Esse movimento tem consolidado uma abertura que ocorreu aos poucos desde a criação das cooperativas de crédito, a partir de 1980. Isso porque, durante a ditadura militar, o governo constituído à época criou dificuldades para o funcionamento do associativismo por considerálo como risco de comunismo, o que atrasou o desenvolvimento dessa modalidade financeira no País.
Um exemplo é que as cooperativas foram impedidas de captar recursos em depósitos a prazo a partir de 1962. A aplicação à vista não foi proibida, mas essas instituições não tinham cheque compensável e, frente à alta inflação da época, não era possível aos associados colocarem recursos do bolso sem recebimento de juros, segundo o Portal do Cooperativismo Financeiro.
Até a reabertura nos anos 1980, fecharam quase 20% das cooperativas de crédito no País. A Constituição Federal de 1988 incluiu essa modalidade no SFN (Sistema Financeiro Nacional), mas somente em 1994 passou a ser permitida a abertura de agências de atendimento além da sede e no ano seguinte, a vinculação de bancos comerciais.
Nos anos 2000 passou a ser permitido atender públicos além dos associados em cooperativas rurais, a formação de poupança própria e a instalação em cidades acima de 1,5 milhão de habitantes, entre outras medidas. Mas foi a partir da crise mundial de 2008 que o cooperativismo de crédito passou a crescer muito acima do mercado em geral. “Por ser próprio da união de pessoas da comunidade e não visar lucro, mas o atendimento dos associados, é possível cobrar taxas mais baixas”, diz Dasenbrock, sobre os motivos do avanço em épocas de recessão.
CARINHO DO BC
O sócio da PwC Brasil, Alex Freitas, responsável pelo levantamento de dados do segmento, afirma que o crescimento se deve ao maior compromisso do BC, que levou a um fortalecimento institucional do associativismo de crédito. “A auditoria cooperativa é algo muito novo, somente o segundo ano em que é feita. Está se olhando para a governança das cooperativas com muito carinho.”
Freitas destaca que o crescimento se dará também porque as cooperativas atuam em áreas onde há falta de agências bancárias, o que só é possível porque os “donos são os cooperados”. Por outro lado, lembra que é exatamente por isso que o BC busca regulamentar muito bem a modalidade. “As cooperativas estão prontas, se capacitando bastante, e alguns sistemas, como o Sicoob e o Sicredi, são muito robustos e próximos aos grandes bancos comerciais”, conta Freitas.
O sócio da PwC diz que há três níveis de constituição. As independentes, que funcionam com capital de empréstimo e um pouco mais de risco, as de segundo nível, que são vinculadas a uma central, e as de terceiro, ligadas a uma central e a uma confederação, que são mais sólidas. “De quase mil, 197 são independentes, porque o BC impõe tantas regras que é melhor se filiar a uma central ou confederação”, explica Freitas, que cita que grandes empresas, como a BRF, preferem ter cooperativas independentes.