CIDADANIA -
Projeto em Ibiporã elegeu nove alunos que serão instruídos por uma comissão sobre temas relevantes para o desenvolvimento do município
Projeto Câmara Mirim aproxima a política de estudantes do ensino fundamental em Ibiporã. Nove alunos dos 7º e 8º anos foram eleitos vereadores mirins e durante todo o ano, participarão de reuniões na Câmara, com o objetivo de debater propostas de interesse do município, como demandas das escolas e dos bairros
Eles não comparecerão às urnas para votar nessas eleições, mas a partir de 2019, nove alunos de 7° e 8° anos do ensino fundamental II, de escolas estaduais e particulares de Ibiporã (região metropolitana de Londrina), passarão a ter um envolvimento direto com a política.
Eles foram eleitos os novos vereadores mirins e durante todo o ano, participarão de reuniões na Câmara Municipal de Ibiporã e poderão até debater propostas de interesse do município.
Essa atuação se dá pelo projeto Câmara Mirim, criado em 1997 e que conta com o apoio da Justiça Eleitoral de Ibiporã. O objetivo principal, segundo o vereador Roberval dos Santos (PSDB), presidente da Câmara Municipal, é envolver os estudantes em atividades informativas e educacionais.
“O projeto completou 21 anos de desempenho de um papel muito importante, que permite a conscientização política e a formação de um elo firme entre o Poder Legislativo e a comunidade escolar para geração de envolvimento e exercício da cidadania. Esperamos também que nos próximos 10 anos, tenhamos esses eleitores transformados”, destacou.
Até o ano passado, a escolha dos vereadores mirins era feita por indicação dos diretores dos colégios, mas nesse ano, com a aprovação do projeto de resolução 001/2018, a eleição passou a ser direta. A votação aconteceu na semana passada, nas escolas participantes, e contou com 46 candidatos disputando nove vagas.
Para se candidatar, os alunos devem cumprir requisitos, como assiduidade igual ou superior a 75%, nota média igual ou superior a 7,0 e não terem recebido advertência ou suspensão nos últimos dois anos. De acordo com Santos, além da eleição direta, foi criado um regimento interno definindo cargos, funções e responsabilidades.
“O projeto original não tinha regras bem definidas e a ideia nesse ano foi estipular normas, que vão desde a comprovação de presença e logística de votos. E para ter pauta, pois eles não são representantes legais da população, teremos uma comissão que ministrará palestras aos vereadores mirins sobre as principais pastas do executivo”, explica.
A expectativa é que os vereadores mirins levem para a Câmara, demandas das escolas e dos bairros. “Isso será em forma de indicação e a presidência da comissão encaminhará para o executivo que avaliará a viabilidade”.
A estudante Sara Estephany Garcia Silva, do 8° ano do Colégio Estadual Unidade Polo, foi eleita com 80% dos votos válidos. “Acho que os demais estudantes perceberam o quanto eu quero aprender sobre política, pois sei que não se trata apenas do que a gente vê na televisão. É claro que tem o lado ruim, mas também tem o lado bom. É o nosso futuro”, comenta. Silva tem 14 anos e espera com ansiedade pelo título de eleitor. Enquanto isso não acontece, alimenta a expectativa de aprender ao máximo como vereadora mirim.
“Essa participação política vai ser uma ótima experiência. Sei que é só um começo, mas já penso em algumas questões que gostaria de melhorar na cidade. Em frente à nossa escola, por exemplo, a faixa de pedestres está apagada. Então, reforçar a sinalização de trânsito no entorno das escolas seria uma proposta”, aponta.
No Colégio Estadual Olavo Bilac, Leonardo Machado de Lima Luiz, 15, aluno do 8° ano, foi o mais votado entre os estudantes e conta que se candidatou com o objetivo de colaborar com propostas de melhorias para a cidade.
“Por exemplo, a questão de vagas de estacionamento nas ruas. Acho que poderia ter algum serviço como o da Zona Azul em Londrina. Também gostaria de melhorar o telhado da escola, pois tem muita goteira em dias de chuva”, diz.
FUTURO
Para Mary Natsue Ogawa, chefe do setor de gestão de programas institucionais, da Escola Judiciária Eleitoral do Paraná, os projetos que envolvem estudantes na política dos municípios são importantes para ampliar a participação deles e desconstruir a visão de política arcaica.
De acordo com ela, criou-se uma imagem muito negativa da política, mas é preciso ensinar os estudantes de que a política está presente no dia a dia, desde os serviços de ônibus, o acesso à educação de qualidade, estrutura da escola.
“A vida está nisso. Tá na hora de mudar nossa forma de pensar e é por eles que a gente vai fazer isso. Essa geração (de estudantes) não precisa aprender a votar. Eles precisam ser preparados para a participação política, pensando na formação de melhores eleitores e quem sabe, futuros candidatos”, afirma.
Entre os programas de visitas nas escolas promovidos pela instituição, Ogawa cita ainda que os alunos têm toda a vivência do processo eleitoral. “Uma das ações envolve jogos de tabuleiro, com cartas proibidas. A intenção é mostrar as pequenas corrupções do dia a dia, como colar na prova, furar a fila, entre outros e fazer os alunos refletirem sobre. É difícil mudar um comportamento de adulto, ao contrário das crianças”, sustenta.
Por meio de projetos em parceria com os municípios, a Escola Judiciária Eleitoral do Paraná, já atendeu cerca de 25 mil alunos.