Folha de Londrina

Moro quebra sigilo de parte de delação de Antonio Palocci com a PF

Juiz Sergio Moro permite publicação de trechos da delação do ex-ministro, condenado na Lava Jato

- Folhapress

Curitiba e São Paulo - Em trecho de delação premiada divulgado nesta segundafei­ra (1º), o ex-ministro Antonio Palocci afirma que as campanhas presidenci­ais do PT em 2010 e 2014, que elegeram a ex-presidente Dilma Rousseff, custaram até quatro vezes o valor declarado à Justiça Eleitoral. Segundo ele, a campanha de 2010 custou R$ 600 milhões, e a de 2014, R$ 800 milhões. Os gastos declarados, porém, foram de R$ 153 milhões e R$ 350 milhões, respectiva­mente.

Palocci, que foi ministro dos governos Dilma e Lula, afirmou que era um dos arrecadado­res do PT, sendo responsáve­l por tratar de “doações de grande porte junto aos empresário­s”. Essas doações, segundo ele, tinham, em sua maioria, origem ilícita, resultante da negociação de contratos e percentuai­s com o governo.

“Ninguém dá dinheiro para campanhas esperando relações triviais com o governo”, disse o ex-ministro petista, segundo o termo assinado com a Polícia Federal.

Um dos esquemas de arrecadaçã­o seria a venda de emendas legislativ­as e medidas provisória­s, de acordo com Palocci. Segundo ele, 90% das medidas provisória­s propostas pelos governos petistas envolveram pagamentos de propina.

Os contratos de publicidad­e da Petrobras também envolveria­m repasses de 3% ao PT.

A própria proposta de nacionaliz­ar a exploração do pré-sal, de acordo com Palocci, envolveu “um interesse social e um interesse corrupto”, já que atender aos interesses das empreiteir­as nacionais facilitari­a doações para as campanhas do PT.

A delação de Palocci foi homologada em junho pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região. Lá tramita a apelação do ex-ministro contra sua condenação a 12 anos e dois meses de prisão imposta pelo juiz Sergio Moro, em 2017. Nesta segunda, foram tornados públicos os primeiros trechos do acordo, que prevê o pagamento de indenizaçã­o de R$ 37,5 milhões e que o bloqueio de bens seja suspenso para que a obrigação seja quitada. Ele está preso no Paraná há dois anos.

Os termos do compromiss­o firmado também citam a possibilid­ade de uso das informaçõe­s do ex-ministro em cinco casos sob apuração, incluindo um inquérito sobre a hidrelétri­ca de Belo Monte, um procedimen­to sobre a relação do grupo Schahin com o PT e uma outra apuração sobre a atuação da Petrobras na África.

O acordo difere dos demais da Lava Jato porque foi firmado com a Polícia Federal -anteriorme­nte apenas o Ministério Público tinha essa prerrogati­va.

OUTRO LADO

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou que a maneira como o juiz Sergio Moro agiu, ao levantar o sigilo das informaçõe­s, reforça “o caráter político dos processos” relacionad­os ao ex-presidente.

“Moro juntou ao processo, por iniciativa própria (‘de ofício’), depoimento prestado pelo sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados,

até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideraç­ão no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo

Ministério Público.” Para a defesa, o ex-ministro mentiu mais uma vez, “sem apresentar nenhuma prova”, para obter benefícios, como a possibilid­ade de perdão judicial.

 ?? Werther Santana/Estadão Conteúdo ?? Para a defesa de Lula, Palocci mentiu mais uma vez, “sem apresentar nenhuma prova”, para obter benefícios, como a possibilid­ade de perdão judicial
Werther Santana/Estadão Conteúdo Para a defesa de Lula, Palocci mentiu mais uma vez, “sem apresentar nenhuma prova”, para obter benefícios, como a possibilid­ade de perdão judicial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil