Folha de Londrina

Eleito o “artista do século”, Charles Aznavour morre aos 94 anos

Charles Aznavour, que viveu pela música e o amor, faleceu na segunda-feira (1); aos 94 anos, ele continuava fazendo shows

- France Presse

- Ele continuou cantando até o último suspiro: Charles Aznavour, embaixador mundial da canção francesa do século XX e autor de um excepciona­l repertório dominado pelo tom nostálgico, faleceu na madrugada de segunda-feira (1,) aos 94 anos.

De origem armênia, o cantor francês mais conhecido no exterior morreu em Alpilles, no sudeste da França, causando uma onda de tristeza entre personalid­ades e admiradore­s.

Aznavour, que vendeu 180 milhões de álbuns em oito décadas, não havia dado sua carreira por terminada.

Ele tinha acabado de voltar de uma turnê pelo Japão, forçado a cancelar vários shows por causa de um braço quebrado em uma queda. Ele ainda pretendia se apresentar em Bruxelas, em outubro.

Aznavour parecia rejuvenesc­er a cada vez que cantava: estreava seus shows com uma voz alquebrada e o corpo frágil, mas concluía o espetáculo com altivez e leve como uma pluma. Nascido em 22 de maio de 1924 em Paris, filho de pais armênios, Aznavour triunfou com canções como “La Bohème”, “La Mamma”, “Comme ils disent”, e “Mes emmerdes”.

Fez shows no Brasil e é muito lembrado como o intérprete de “She”, a canção tema do filme “Um lugar chamado Nottingh Hill”, estrelado por Julia Roberts e Hugh Grant.

SUCESSO GARANTIDO

“Não sou velho, tenho mais idade, é diferente”, brincou Aznavour certa vez em declaraçõe­s à AFP. Uma maneira de desafiar a passagem do tempo para quem o sucesso artístico chegou tarde, aos 36 anos, em uma noite em dezembro de 1960.

Na sala Alhambra de Paris, ele fez seu primeiro show, depois de ter sido alvo dos críticos que não acreditava­m nem no seu talento de palco nem na sua voz. Mas naquela noite ele mudou a mente de todos ao interpreta­r “J’me voyais déjà”, sobre as ilusões perdidas de um artista.

Ele também escreveu para os grandes artistas franceses, como Juliette Gréco, Gilbert Bécaud e Edith Piaf, que sempre o apoiaram, assim como Charles Trénet, Constantin Stanislavs­ki e Maurice Chevalier.

“Ele se atreveu a cantar o amor como nós sentimos, como fazemos, como sofremos”, disse Chevalier, que morreu em 1972.

“Suas obras-primas, seu timbre, seu brilho único sobreviver­ão por muito tempo”, declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, após a notícia de sua morte.

“Charles continuará sendo o monumento e a lenda da canção francesa no mundo, suas canções são atemporais e permanecer­ão gravadas em nossa memória”, declarou a cantora Mireille Mathieu.

A ex-atriz Brigitte Bardot se despediu de Aznavour em um texto enviado à AFP.

“Ele era nosso ás imortal. Nosso ás dos poetas. Nosso ás da canção francesa. Nosso ás da popularida­de. Nosso ás dos embaixador­es do talento no mundo. Ele continuará sendo nosso ‘Ás... navour’ para sempre”, escreveu BB.

O ator Alain Delon também lamentou a morte do artista numa ligação telefônica.

“Estou arrasado (...) Amo esse homem. Eu o conheço desde de meu início. Começamos praticamen­te juntos”, disse Delon, acrescenta­ndo que ele não gostaria de falar em outras mídias sobre este assunto.

ARTISTA DO SÉCULO

Apesar de não ter feito grandes canções nos últimos 30 anos, Aznavour manteve seu mito intacto, atuando nos mais prestigiad­os palcos do mundo. Uma vingança para aqueles que não viram nenhum futuro para ele e que “morreram há muito tempo, enquanto eu ... eu ainda estou aqui”, declarou certa vez.

Em 1998, a CNN e a revista Time o coroaram como “artista de entretenim­ento do século”.

Sempre, preocupado com o drama dos migrantes, muitas vezes lembrou de seu apego à França e à Armênia. “São países inseparáve­is como o café e o leite”, declarou no ano passado, quando recebeu sua estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

A morte do cantor é uma “enorme perda para o mundo inteiro”, declarou o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pachinian, homenagean­do “um filho do povo armênio”.

“É difícil acreditar que uma pessoa que marcou época, que marcou a história, o amor, que serviu ao seu povo, uma pessoa que durante 80 anos maravilhou e aqueceu o coração de dezenas, centenas, milhões de pessoas, não está mais entre nós”, escreveu Pachinian no Facebook.

Aznavour manteve seu mito intacto, atuando nos mais prestigiad­os palcos do mundo

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Fabio Diena/ Shuttersto­ck.com Charles Aznavour vendeu 180 milhões de discos em oito décadas e ainda não tinha dado sua carreira como terminada

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