Folha de Londrina

Pesquisa mostra que 75% dos idosos dependem exclusivam­ente do SUS

Levantamen­to aponta que 10,2% foram hospitaliz­ados uma ou mais vezes nos últimos 12 meses

- Pedro Marconi Reportagem Local

Levantamen­to divulgado nesta segundafei­ra (1º) pelo Ministério da Saúde mostra que 75% dos idosos dependem exclusivam­ente do atendiment­o do serviço do SUS (Sistema Único de Saúde). O ELSI-Brasil (Estudo Longitudin­al da Saúde dos Idosos Brasileiro­s) ainda aponta que, nos últimos 12 meses, 86% das pessoas acima dos 50 anos fizeram, pelo menos, uma consulta médica. A pesquisa é do ministério em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais).

Coordenado­ra da pesquisa, Maria Fernanda Lima-Costa, da Fiocruz, em Minas Gerais, destacou que o envelhecim­ento da população brasileira é profundame­nte desigual. “Você tem um envelhecim­ento de primeiro mundo para pessoas com alta renda e alta escolarida­de e um envelhecim­ento muito desfavorec­ido entre os mais pobres”, constatou. “É papel do SUS, do Estado, reduzir essas desigualda­des”, indicou.

Atualmente, os idosos representa­m 14,3% da população brasileira, somando 29,3 milhões de pessoas. Em 2030, o número de idosos deve superar o de crianças e adolescent­es de até 14 anos. Segundo o estudo, a capacidade para o trabalho diminui a partir dos 55 anos. “Se você melhorar a condição de saúde da população, você também aumenta a longevidad­e no trabalho”, ressaltou Lima-Costa. A pesquisa identifico­u que 85% da população com 50 anos ou mais vive em área urbana.

Apesar da perspectiv­a de vida da população estar aumentando, o geriatra Fabio Garani, de Londrina, elencou que faltam políticas públicas voltadas aos idosos. “Existiram alguns ganhos, como calendário de vacinação, entre- tanto o acesso ainda é pequeno. Temos poucos centros de convivênci­a para os idosos. Os que saem do mercado de trabalho não têm à disposição uma continuida­de de vida ativa ou incentivo para permanecer no mercado de trabalho, seja em outra função, aproveitan­do a experiênci­a. As políticas são pobres não só na saúde, mas para o idoso como um todo.”

De acordo com o levantamen­to, sete em cada dez idosos sofrem de doenças crônicas, o que representa 69,3%. “Tivemos uma mudança no perfil da mortalidad­e ao longo do tempo. Saímos das doenças infectocon­tagiosas para as crônicas degenerati­vas, que são as não transmissí­veis, aquelas que não têm cura e sim tratamento. Esse tratamento visa evitar complicaçõ­es”, explicou Garani. Os cinco diagnóstic­os mais frequentes são hipertensã­o, dores na coluna, artrite, depressão e diabetes.

Também foi identifica­do que 10,2% dos idosos foram hospitaliz­ados uma ou mais vezes nos últimos 12 meses. “No período que a pessoa mais está produzindo o plano de saúde é relativame­nte barato, porém na fase mais decadente é mais caro, por isso o idoso acaba migrando e ficando no SUS. No Brasil, o perfil de mortalidad­e mudou muito rápido e o SUS não ficou preparado para absorver esses idosos. Falta condições de infraestru­tura para eles nos hospitais. Há mais de duas décadas, por exemplo, não vemos a construção de um hospital público em Londrina e ainda temos leitos precários”, exemplific­ou o geriatra.

O especialis­ta advertiu que a prevenção é uma das melhores formas para evitar internaçõe­s e ter uma velhice com qualidade. “A prevenção com boa alimentaçã­o e atividade física. Evidente que isso é só um começo e que as políticas públicas estão ligadas nesse aspecto. O idoso, quando interna, o tempo é maior se comparado ao jovem e o custo é mais alto”, evidenciou Garani.

Participar­am do Estudo Longitudin­al da Saúde dos Idosos Brasileiro­s mais de 9.000 pessoas com 50 anos ou mais em 2015 e 2016, em 70 municípios nas cinco regiões do País, incluindo quatro cidades do Paraná. Embora a legislação considere idosa a pessoa com 60 anos ou mais, a pesquisa é longitudin­al - vai acompanhar a evolução da situação desse público pelos próximos anos.

(Com Folhapress)

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Fotos: Ricardo Chicarelli “Quando busco consulta não demora, mas cirurgia é mais complicado”, declara Maria Benedita Bachelar
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“Tem que melhorar as calçadas para termos uma melhor mobilidade”, cobra Jurandir Sernichiar­i
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