Endereços em Ivaiporã deixam moradores confusos
Endereços em Ivaiporã deixam confusos moradores e entregadores; mudanças em nomes de ruas e a ausência de um padrão para a numeração são apontadas como complicadores
Na letra da música “A Casa”, de Vinícius de Moraes, o imóvel que não tinha teto, paredes ou chão ficava na rua dos Bobos, número zero. Pelo menos tinha um endereço simples para se chegar nele. Em Ivaiporã vários imóveis precisam de uma série de referências além do endereço para serem encontrados. Aparecida Torres dos Santos, 44, é zeladora de uma igreja, que fica na rua Vereador Orlando Burato, localizada no Centro de Ivaiporã, mas para explicar onde trabalha, precisa dizer que a igreja fica na antiga rua Rolândia, localizada no Centro da cidade, pois é assim que os moradores mais antigos conhecem a via. Porém, existe uma rua Rolândia em outra região da cidade.
“Uma vez uma pessoa veio aqui para fazer uma entrega na rua Rolândia, mas a entrega era para ser realizada na rua Rolândia que fica no bairro Vila Nova Porã, que é conhecida como Vila do Maneco, um local bem retirado do centro”, explicou. Para complicar, se a pessoa procurar pela rua Rolândia na Vila Nova Porã no Google Maps, ela pode se deparar com várias ruas com esse mesmo nome no mesmo bairro, que são paralelas e perpendiculares entre si.
A questão é que várias vias em Ivaiporã tiveram seus nomes trocados com frequência e por vezes isso gera nomes em duplicidade ou mesmo vias com até quatro nomes. Na tentativa de tentar resolver o problema, houve a ten- tativa de unificar as denominações, mas não houve o cuidado para criar um padrão para a numeração, com números pares de um lado e números ímpares de outro e seguindo uma sequência lógica. Um mesmo lado da via pode começar com 10 e a casa vizinha ter o número 43 e na sequência ser seguida pelo número 120 e depois a numeração pode retornar para o número 50.
O relações públicas do Corpo de Bombeiros de Ivaiporã, tenente Rafael Alves Blasques Dias, afirma que para a sua corporação essa confusão nos nomes e numeração não influencia tanto o trabalho, porque para os atendentes não basta pegar simplesmente o endereço da ocorrência, mas sim o máximo de referências possíveis quando recebem ligações da população para atender ocorrências. “Uma padronização sempre ajuda, mas a população nunca será prejudicada, porque faz parte do treinamento do pessoal pegar o máximo de informações possíveis na hora da triagem das chamadas”, ressaltou. Ele explicou que não basta pegar o endereço da ocorrência.
Entretanto o presidente da Câmara Municipal, Fernando Dorta, afirma que o município tem enfrentado várias dificuldades em relação a isso. “A avenida Maranhão quatro nomes. Além de Maranhão, a via se chamava avenida Estevão Marciano dos Santos, avenida Presidente Café Filho e avenida Rubens Teixeira. Resolvemos unificar os nomes de acordo com aquele que tinha a maior extensão”, declarou. Só que a numeração dos imóveis permaneceu a mesma de quando a via tinha diferentes nomes. Isso fez com que surgissem endereços duplicados, com o mesmo nome de via e mesma numeração.
O coordenador dos Correios na região de Ivaiporã, Marcos Hideo Kague, ressaltou que mais de 50% dos endereços estão confusos, com ruas de nomes duplicados, ou calha da mesma via possuir dois ou mais nomes; ou existem os imóveis que estão com a numeração errada. “Atrapalha bastante a entrega da correspondência, principalmente para os carteiros mais novos. O carteiro antigo conhece as pessoas pelo nome e consegue fazer entrega, mas quando ele falta ou sai de férias, outro carteiro assume e, como não conhece a região, faz a entrega pelo endereço que consta na correspondência. E é aí que começa a confusão.” Ele ressaltou que a cidade de Ivaiporã possui um único CEP (código de endereçamento postal) para a cidade toda.
“Como a gente está contratando mão de obra temporária e esses funcionários não conhecem a região, quando há a modificação dos nomes das ruas traz um transtorno grande, porque não é feita campanha para o morador alterar o cadastro dele na prefeitura. Só os carteiros mais antigos sabem onde entregar qual correspondência”, declarou.
“Eu não entendo porque se muda tanto os nomes das ruas em Ivaiporã. Lá tem a rua Juarez Clevi, que na verdade o nome agora é rua Alagoas. O carteiro tem de se desdobrar para saber onde fica a Juarez Clevi. Outro exemplo é a rua Estevão Marciano, que agora é rua Piauí”, destacou.
O presidente do Conselho Municipal do Plano Diretor, Jair Burato, justificou o problema com o fato da cidade ter 56 anos. “A sinalização das vias é muito precária. Seria preciso criar uma identificação das vias mais clara nas casas de esquina e nos postes. São poucas as ruas que são identificadas e é preciso fazer a adequação em toda área urbana”, apontou.
A solução para a numeração confusa apresentada por Fernando Dorta, presidente da Câmara, é submeter o projeto de modificação aos Correios para fazer a numeração correta das vias.
“O carteiro antigo conhece as pessoas pelo nome e consegue fazer entrega”
“Todos os loteamentos novos já devem ter as vias sob esse novo padrão. Quando o projeto de adequação dos nomes chegar aqui, vamos enviar aos Correios para eles colocarem a numeração, já que possuem mais experiência nisso”, afirmou Dorta.
O coordenador regional dos Correios, Marcos Hideo Kague, ressaltou que os Correios não podem ter essa atribuição. “Isso é responsabilidade do município”, argumentou. Ele afirmou que o máximo que podem fazer é aconselhar qual seria a melhor maneira.
O prefeito de Ivaiporã, Miguel Amaral (PSDB), ressaltou que toda mudança ou criação de identificação de rua precisa ser enviada para a Câmara. “É ela quem denomina a via e manda para o executivo sancionar”, destacou. Ele apontou que é preciso um projeto para adequar a situação e implantar as placas de identificação das vias nas ruas. “Vamos buscar recursos para viabilizar o projeto. Assim que estivermos com o projeto pronto, vamos encaminhá-lo ao Ministério das Cidades para conseguir implantar essas mudanças. Acredito que é possível fazer o levantamento das vias até fevereiro do ano que vem e se isso for feito nesse prazo, acreditamos que até junho de 2019 os recursos devem sair. Em no máximo um ano todas as vias podem estar identificadas adequadamente”, projetou. Ele explicou que os bairros mais críticos são aqueles que foram colonizados primeiro. “Antigamente a loteadora cortava o terreno, não fazia infraestrutura e ia embora. O novo plano diretor determina que as loteadoras devem fazer a identificação das vias, quando implantam o novo bairro”, explicou.