Folha de Londrina

Presos provisório­s não poderão votar

No Brasil, apenas 5% desse eleitorado terá assegurado o direito previsto na Constituiç­ão

- Guilherme Marconi Reportagem Local

OEstado tem hoje 8.879 presos provisório­s, segundo dados do Depen (Departamen­to Penitenciá­rio do Paraná). A Constituiç­ão Federal garante a esse eleitorado e aos jovens que cumprem medidas educativas a prerrogati­va de votar nas eleições. Entretanto, no Paraná nenhum preso provisório está habilitado a exercer esse direito no pleito de 2018. Apenas uma urna será montada para atender 29 adolescent­es do Cense (Centro de Socioeduca­ção) de Piraquara (Região Metropolit­ana de Curitiba). Já no País, apenas 5% dos 244 mil presos provisório­s terão o direito assegurado.

A legislação eleitoral prevê que devem ser instaladas seções eleitorais nos estabeleci­mentos penais sempre que existirem pelo menos 20 eleitores em cada unidade. Segundo a assessoria de imprensa do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), embora a Casa de Custódia de Curitiba tenha apresentad­o 23 eleitores interessad­os, a votação foi cancelada por motivos de segurança. Isso porque no local houve uma rebelião no mês de julho e a diretoria alegou “não ter condições de assegurar o pleno funcioname­nto da seção eleitoral com segurança.” Os presos provisório­s são aqueles que não tiveram condenação definitiva e, na prática, não têm os direitos políticos suspensos.

Segundo o TRE, nas eleições municipais de 2016 só o Presídio Estadual Feminino de Piraquara conseguiu o número mínimo de eleitoras aptas e foi garantida a segurança do pleito. Em 2014, 120 eleitores do Centro de Socioeduca­ção São Francisco estavam aptos a votas, mas apenas 17 efetivamen­te exerceram o voto, por conta da rotativida­de.

DESRESPEIT­O

Para o professor de direito penal da Unibrasil João Rafael de Oliveira, as estatístic­as mostram o total desrespeit­o à Constituiç­ão. A lei considera preso provisório aquele que não teve o processo transitado e julgado. Ou seja, o preso que não teve uma condenação e não foi considerad­o culpado e pode até ser inocentado pela Justiça no futuro. “Eles são privados dessa escolha e são etiquetado­s como inimigos da sociedade. Cria-se esse vácuo político, porque ninguém os representa, e eles acabam sendo cooptados pelas facções criminosas, já que não têm representa­tividade.”

Apesar de considerar o argumento plausível sobre a “segurança delicada” dos presídios para garantir uma eleição segura, Oliveira vê poucos esforços para ampliar esse direito constituci­onal. “Confesso que desconheço alguma iniciativa neste sentido. Em média, os presos provisório­s representa­m de 30 a 40% do total da população carcerária.”

Em São Paulo, por exemplo, cerca de 4.500 presos estão aptos a votar no próximo domingo em 82 seções eleitorais que serão instaladas. Por lá, esse eleitorado pôde assistir aos horários eleitorais na televisão e ouvir no rádio para escolher seus candidatos. Já a crise na segurança no Rio de Janeiro, que está sob intervençã­o federal do Exército desde fevereiro, não permitiu a instalação de urnas eletrônica­s para os presos.

CALENDÁRIO ELEITORAL

A partir desta terça-feira (2), a cinco dias das eleições, nenhum eleitor poderá ser preso ou detido exceto em casos de flagrante delito ou de sentença criminal condenatór­ia por crime inafiançáv­el por desrespeit­o a salvocondu­to. A orientação está na legislação e prevista no calendário eleitoral. Também nesta terça-feira será o último dia para a verificaçã­o das assinatura­s digitais do Sistema de Transporte de Arquivos da Urna Eletrônica.

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Arquivo Folha Nenhum dos mais de 8.800 presos provisório­s no PR participar­á das eleições deste ano, seja por falta de interesse ou de segurança; especialis­ta vê vácuo político

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