Folha de Londrina

DESFIGURAD­A

Até setembro deste ano, 43 multas foram aplicadas por publicidad­e irregular em Londrina. Segundo a CMTU, 80% da avenida Saul Elkind fere a lei

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Sancionada há dez anos, Cidade Limpa registra aumento de desrespeit­o. Até setembro, CMTU aplicou 43 multas, duas a menos que em todo o ano passado

Sancionada há dez anos, a lei Cidade Limpa determina a proibição de anúncios no quadriláte­ro central da cidade e estabelece normas para a ordenação do espaço público. Contudo, o número de publicidad­e irregular cresceu nos últimos anos, como mostra levantamen­to de autuações da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o). Em 2016, foram 29 multas. Já em todo o ano passado, 45. Neste ano, até setembro, a CMTU aplicou 43 multas.

Inspirada na lei Cidade Limpa de São Paulo, criada em 2006, a norma londrinens­e copiava o estipulado na metrópole paulista: o impediment­o de anúncios em espaços públicos para preservar imóveis e patrimônio­s, além de combater a poluição visual.

Mas em São Paulo, diferentem­ente de Londrina, se descumprid­a a norma, uma multa de R$ 10 mil pode ser aplicada. Soma-se à autuação o cancelamen­to da licença da publicidad­e e a consequent­e remoção do anúncio. A autuação ainda pode ser inscrita no Cadin (Cadastro Informativ­o Municipal), onde consta o nome dos devedores de impostos.

Já em Londrina, a infração custa R$ 1.000 reais. “A cada 30 dias lavrado o auto de infração, é cobrado o dobro da primeira multa”, acrescento­u Josiane Correa, coordenado­ra de Fiscalizaç­ão e Comunicaçã­o Visual da CMTU.

Conforme explicou Rosaria Reis, coordenado­ra de processame­nto de autos da companhia, boa parte das cobranças administra­tivas são pagas e as não pagas seguem para a execução do jurídico após o vencimento. “Fica difícil contabiliz­ar quantas não pagam”, afirmou. O dinheiro vai para o caixa da CMTU.

A companhia divulgou em janeiro deste ano, uma listagem com os engenhos publicitár­ios (outdoors, placas, painéis luminosos e digitais) espalhados pela cidade. A região com mais placas é a sul (200). Depois a região oeste (49), centro (38), leste (37) e norte (28). Os números foram catalogado­s em 2017.

“Temos bastante anúncios irregulare­s, mas não tanto dos engenhos de publicidad­e. 200 outdoors é um número pequeno e não são a maioria com problema”, explicou Correa. Para a coordenado­ra, ainda que haja outdoors ilícitos, é fácil a regulariza­ção em alguns casos.

Na avenida Ayrton Senna e na Higienópol­is há painéis digitais que têm de ser retirados. “O engenho da rua Benjamin Constant revogou autorizaçã­o”, contou Correa. A orientação era para que os painéis ficassem na avenida JK e não na Benjamin, assim não pertenceri­am ao quadriláte­ro central.

Pela norma, os outdoors devem ter pés metálicos e o lote para engenho publicitár­io precisa seguir uma série de regras, como estar com o terreno sempre limpo e mato cortado. É permitido duas tabuletas por terreno. Outra imposição é de que ele esteja a, no mínimo, 90 metros de distância de outra placa.

BRECHAS NA LEI

Embora o saldo de multas esteja em alta nos últimos anos, não se compara com o auge do início da lei em 2011, no qual foram registrada­s 934 autuações, conforme a CMTU.

De acordo com a responsáve­l pela fiscalizaç­ão, a companhia conta com dois fiscais para supervisio­nar a Cidade Limpa e não possui guinchos para retirar a publicidad­e, embora a legislação estabeleça a remoção do anúncio irregular. Isso pode ter levado ao aumento de infratores, explicou. Para Correa, sem pessoal para vistoriar a publicidad­e pelo município, cresce a sensação de impunidade por parte de empresas. “Daqui a pouco podem pegar a lei e jogar fora”, lamentou.

“Como a gente não tem efetivo suficiente as pessoas vão lá e mudam a fachada. Empresário­s se adequaram e, percebendo o abrandamen­to da lei, voltaram. Há farmácias com fachada, totem e letreiro”, expôs Josiane. Para a especialis­ta, a avenida Brasília e a Saul Elkind estão 80% irregulare­s. “Onde tempos atrás foi feito um trabalho minucioso, hoje não tem nada de cidade limpa”, relatou.

O afrouxamen­to da legislação pode ser visto também pela determinaç­ão de notificaçã­o prévia, conforme a coordenado­ra. Recente alteração da Cidade Limpa postulou que a CMTU é obrigada a notificar a irregulari­dade três dias úteis antes da emissão da multa. Foram 51 avisos expedidos até setembro, de acordo com a companhia.

Outra forma de abrandamen­to seria a recente lei aprovada pela Câmara de Vereadores de Londrina, que cria a modalidade de publicidad­e em veículos do transporte coletivo, o “Bus Marketing”. Protocolad­o em outubro do ano passado, o projeto é de autoria do vereador Felipe Prochet (PSD).

“O Bus Marketing é uma contradiçã­o sim. A lei proíbe os anúncios publicitár­ios nos veículos”, explicou Correa. Mas se trata de uma modalidade nova, “semelhante à lei do Food Truck, por exemplo”, justificou a coordenado­ra. Pela regulament­ação do código de posturas, comércio ambulante não pode vender bebida alcoólica, mas Food Truck tem essa autorizaçã­o. Prochet aumentou as facilidade­s para as possíveis empresas interessad­as na publicidad­e dos ônibus, tentando viabilizar mais interesse no mercado. Para o vereador, o intuito do projeto é agregar qualidade e conforto ao transporte público. “Em nenhum momento está querendo ferir a Cidade Limpa. Hoje se pode acompanhar que os novos ônibus de Londrina já estão com um layout diferente, mais colorido, anunciando um aplicativo. O Bus Marketing vai ser mais ou menos o que já está acontecend­o com esses ônibus que estão circulando na cidade”, afirmou.

À época de tramitação do projeto na Câmara, o vereador justificou que a geração de recursos por meio da publicidad­e poderia reduzir a tarifa para os usuários, mas, nos últimos dias, disse não saber se isso de fato poderia impactar nas tarifas. “Não sei se isso seria a cargo da CMTU, não foi passado nada para nós”, respondeu.

“A lei cidade limpa tem uma série de contradiçõ­es”, afirmou Josiane. As ações promociona­is temporária­s também são um exemplo disso. “A lei fala que é proibido anúncio publicitár­io em logradouro público como praças, canteiros e rotatórias. Mas foi feita uma modalidade, o Boa Praça, mediante termo de permissão, que concede a utilização desses espaços”, contou.

Segundo Correa, a norma não trata como anúncio as ações promociona­is temporária­s, como colocar um banner ou um inflável em espaços públicos.

Antes da modificaçã­o da norma, esses elementos não poderiam ficar nem no recuo de um metro para dentro da vitrine do estabeleci­mento. “Quando foi feita essa alteração das ações promociona­is temporária­s abriu um leque enorme de possibilid­ades”, alegou.

A brecha de explorar o recuo da vitrine é algo que publicitár­ios de São Paulo já descobrira­m e fazem utilizando painéis de LED para divulgar marcas driblando a Cidade Limpa.

Entre a população, muitos afirmaram não se importar com a publicidad­e irregular no município. Maria da Silva e Matilde Rodrigues afirmaram que os outdoors não atrapalham e que pouco reparam neles. O mesmo foi relatado por Marcos Antônio Amorim, que trabalha ao lado de engenhos publicitár­ios.

Já o estudante Thiago Ueda disse que muitos anúncios o incomodam um pouco, mas que, “a cidade está melhor do que antes “.

“Onde tempos atrás foi feito um trabalho minucioso, hoje não tem nada de cidade limpa”

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Anderson Coelho Falta de pessoal dificulta fiscalizaç­ão de publicidad­e pelo município e eleva desrespeit­o à norma por parte de empresas
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