Produção industrial cai 0,3% e surpreende analistas
Rio de Janeiro - O desempenho da indústria brasileira decepcionou em agosto. A produção encolheu 0,3% em relação a julho, após já ter recuado 0,1% no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados nesta terça-feira, (2) pelo IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O setor industrial não registrava dois meses consecutivos de perdas desde o fim de 2015. Analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast esperavam um alta média de 0,3% em agosto. Diante da queda na produção, alguns já falam em viés de baixa para projeções do PIB (Produto Interno Bruto), caso os demais indicadores antecedentes também apresentem maus resultados. As previsões para 2019 estão à espera do resultado eleitoral.
“Realmente, os dados de julho e de agosto vieram num patamar mais enfraquecido. E isso pode se estender para os próximos meses. O desemprego ainda está elevado, e a recuperação do emprego está muito concentrada na geração sem carteira assinada, por conta própria”, lembrou o economista Mauricio Nakahodo, do Banco MUFG Brasil, que reconhece a possibilidade de reduzir a expectativa do banco por uma elevação de 0,7% no PIB do terceiro trimestre. “Talvez (em dezembro) a produção melhore um pouco, em razão da demanda de fim de ano”, ponderou.
A indústria brasileira opera atualmente 14,3% abaixo do pico de produção registrado em maio de 2011. “Tem impacto no PIB, tanto é que as projeções têm sido reduzidas ao longo de 2018”, opinou Rafael Cagnin, economistachefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para Cagnin, não houve melhora qualitativa nem quantitativa no setor industrial em 2018. Passada a volatilidade de maio e junho, provocada pela greve dos caminhoneiros, o setor industrial voltou ao mesmo patamar de abril.
“A produção está 1,1% abaixo do patamar de dezembro de 2017. Ou seja, passados oito meses de 2018, o setor industrial não ganhou ritmo frente ao fim do ano passado”, corroborou André Macedo, gerente na Coordenação de Indústria do IBGE.
Segundo Macedo, o mau desempenho da indústria tem relação com um número relevante de desempregados no mercado de trabalho e índices de confiança em baixa, que resultam na postergação de consumo por parte de consumidores e de investimentos por parte do empresariado.
“Tem todo um ambiente de incerteza eleitoral que ajuda um pouco também nesse adiamento de decisões de investimento e de decisões de consumo, aliado ao mercado de trabalho “, disse Macedo
Entre os setores, a principal influência negativa na passagem de julho para agosto foi a queda de 5,7% registrada pelo setor de derivados do petróleo e biocombustíveis. Em agosto, a dinâmica positiva que vinha sendo registrada pela atividade foi impactada negativamente pela interrupção da produção na Refinaria de Paulínia, em decorrência de um incêndio.
Setor não registrava dois meses consecutivos
de perdas desde o fim de 2015