Folha de Londrina

Propinas custaram caro ao usuário dos pedágios no PR

Estimados em R$ 58 milhões pela Operação Integração II, “pagamentos indevidos” são ninharia frente ao faturament­o de R$ 21 bilhões das concession­árias no período investigad­o

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Um carreta tipo bitrem que sai da região de Foz do Iguaçu até o Porto de Paranaguá deixa R$ 812 nas praças de pedágio que encontra no caminho. Um dos mais caros do País, o pedágio paranaense chega a representa­r 40,8% do valor de frete do calcário e 7,4% do custo operaciona­l da produção de milho, segundo a Ocepar (Organizaçã­o das Cooperativ­as do Paraná). Desde que o governo de Jaime Lerner privatizou o anel de integração, no final da década de 1990, as tarifas de pedágio castigam a economia do Estado. E a sociedade não reconhece o benefício dos serviços prestados pelas concession­árias um vez que, apesar de os contratos estarem no final (vencem em 2021), poucos trechos foram duplicados.

Por que então os pedágios são caros? Na última quartafeir­a (26), a RFB (Receita Federal do Brasil), a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) ajudaram a responder a essa pergunta. Parte do dinheiro deixado pe- los usuários nas cancelas serve para sustentar um enorme esquema de corrupção implantado há vários anos, segundo os órgãos. Durante a operação Integração II, que faz parte da Lava Jato, foram expedidos 73 mandados, sendo três de prisão preventiva e 16 de prisão temporária. Entre os presos, José Richa Filho, o Pepe, irmão do ex-governador Beto Richa e o presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias), João Chiminazzo. “A corrupção impacta diretament­e na economia, além das vidas perdidas pelas obras que deixaram de ser feitas. A maior parte da sociedade é honesta e trabalhado­ra. Infelizmen­te, é governada pela minoria corrupta”, afirma o procurador da República Diogo Castor de Mattos, responsáve­l pela operação.

O Ministério Público estima que as propinas pagas tenham sido de R$ 58 milhões, sem correção. A reportagem somou os valores de receita bruta informados pelas seis concession­árias desde 1998. Também sem correção, eles totalizam R$ 20,9 bilhões.

O presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), Edson Campagnolo, diz que o pedágio alto e sem contrapart­ida de pistas duplicadas tira competitiv­idade do Paraná em relação a outros Estados. Ele não se admira das informaçõe­s reveladas pela operação. “Sempre dissemos que havia uma caixa preta nessas concessões”, afirmou.

A Fiep foi uma das entidades que se manifestar­am contra a renovação dos contratos ventilada

no governo Richa. “Sabíamos que tinha uma coisa estranha.” Campagnolo diz que, quando discutiam os valores de pedágio com o governo, sentiam-se discrimina­dos pelas autoridade­s, servidores e concession­árias. “Sempre batemos nessa tecla da tarifa alta

e serviço ruim. Chegaram a publicar uma nota paga na imprensa nos desqualifi­cando”, lembrou.

Ele conta que, junto com o deputado estadual Tercílio Turini (PPS), tentou aprovar projeto de lei na Assembleia Legislativ­a para que o tráfego de

veículos fosse contado. Mas os deputados sempre barravam a proposta. Para ele, as empresas podem ter informado ao governo a passagem de menos carros. Segundo o presidente da Fiep, muita coisa ainda deve ser revelada. “Os usuários foram roubados”, considera.

 ??  ??
 ?? Marcos Zanutto ??
Marcos Zanutto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil