Folha de Londrina

Delator acusa membros da CPI de receberem suborno

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

- Agentes políticos ligados à CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) do Pedágio, que ocorreu de junho de 2013 a dezembro de 2014 na AL (Assembleia Legislativ­a) do Paraná, teriam recebido propina de representa­ntes das concession­árias. A informação foi levantada pelo ex-diretor do DER (Departamen­to de Estradas de Rodagem) Nelson Leal Jr., um dos delatores da Operação Integração II, como ficou denominada a 55ª fase da Lava Jato.

“O depoente ouviu que ela já começava com um ‘acordão’ político para preencher os próprios cargos que seriam disponibil­izados; (?) que não havia vontade política de descobrir nenhum ilícito, sendo que era mais um jogo político”, diz trecho do despacho do MPF (Ministério Público Federal). Conforme os relatos, o grupo tinha apenas duas finalidade­s: obtenção de mais cargos para deputados da base aliada; e solicitaçã­o de vantagem indevida por parte dos parlamenta­res governista­s para as concession­árias.

Segundo o documento, ninguém no governo ou nas empresas do Anel de Integração se preocupou com a CPI, porque todos sabiam que “não iria dar em nada”.

De acordo com o MPF, houve também repasse de valores ilícitos ao TC (Tribunal de Contas). Nem Leal Jr. nem os membros da força-tarefa da Lava Jato, porém, citaram nomes de beneficiár­ios.

ENCONTROS QUINZENAIS

Leal Jr. falou que acionistas das concession­árias se encontrava­m quinzenalm­ente para discutir assuntos gerais relacionad­os à concessão, dentre os quais a necessidad­e de pagamento indevido a agentes públicos. Os encontros eram, segundo ele, conduzidos pelo diretor-regional da ABCR (Associação Brasileira de Concessões Rodoviária­s), João Chiminazzo Neto, um dos presos na Operação. “apresentav­a uma planilha de percentual de rateio de propina, que, para a Econorte, girava entre 8% a 10%.

O procurador da República Diogo Castor de Mattos afirmou em coletiva de imprensa que o relatório da CPI foi pouco efetivo, uma vez que não indiciou nenhuma pessoa. De acordo com ele, foi cogitada na época a quebra de sigilo fiscal e bancário das empresas, entretanto, os parlamenta­res não aprovaram a medida.

Presidida por Nelson Luersen (PDT), a CPI contou com quase 30 reuniões ordinárias e dez extraordin­árias, realizadas em Curitiba e outros dez municípios. Ao todo, 115 pessoas foram ouvidas. O relatório final foi aprovado em plenário por 30 votos favoráveis e sete contrários. Também faziam parte do grupo Douglas Fabrício (PPS), como relator, Adelino Ribeiro (PRP), Artagão Júnior (PSB), Bernardo Carli (PSDB), morto em um acidente de avião neste ano, Francisco Bührer (PSD), Nereu Moura (MDB), Péricles de Mello (PT) e Wilson Quinteiro (PSDB). Moura falou à FOLHA que acha importante que tudo seja investigad­o a fundo. “Até para não prejudicar os nomes das pessoas que não fizeram nada. E os que fizeram devem ser punidos exemplarme­nte”, defendeu.

A reportagem não conseguiu contato com Luersen, nem com Fabrício. Os deputados estão em recesso, por conta das eleições, e retornam no dia 8 de outubro. Embora não fizesse parte do grupo, Tercílio Turini (PPS) contou que acompanhou praticamen­te todas as reuniões. Autor da emenda que criaria o chamado “pedagiômet­ro” nas estradas paranaense­s, Turini lembrou que a proposta foi aprovada no final de 2015, entretanto, até hoje não saiu do papel.

OUTRO LADO

Em Nota, o TC disse que citações de cunho genérico não apontam a prática de qualquer ato que desabone a atuação da Corte. “Todos os trabalhos de auditoria nas empresas concession­árias do pedágio realizados por nossas equipes técnicas foram compartilh­ados com o Ministério Público e com certeza subsidiara­m as ações daquela instituiçã­o”. O órgão garantiu que as solicitaçõ­es sobre o assunto feitas pelo MPF foram respondida­s ao longo dos últimos anos, “sem que fosse registrada qualquer observação acerca dos procedimen­tos adotados”.

A ABCR informou que está contribuin­do com as autoridade­s no fornecimen­to de toda informação necessária. O ex-governador Beto Richa (PSDB), candidato ao Senado, afirmou que “nunca foi condescend­ente com desvios de qualquer natureza e é o maior interessad­o na investigaç­ão de quaisquer irregulari­dades”.

A atual governador­a e candidata à reeleição, Cida Borghetti (PP), por sua vez, determinou a imediata exoneração de todas as pessoas que ocupam cargos em órgãos do Estado e foram alvo de prisão ou de mandados de busca e apreensão; e ainda que todos os órgãos do Estado prestem total colaboraçã­o com as investigaç­ões. A Seil (Secretaria de Estado de Infraestru­tura e Logística) e o DER informam que estão colaborand­o com a 55ª fase da Lava Jato. “Desde abril de 2018, ambos os órgãos estão sob nova direção, que não toleram práticas de corrupção.”

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