Montros no fundo do abismo
A democracia brasileira, emanada da Nova República, elaborou uma Constituição com a finalidade de nortear sua natureza eminentemente social para as futuras leis regulamentadoras de suas normas... a questão é que o Estado não possuí uma capacidade inesgotável de recursos. Além disso, parte substancial que deveria assegurar o regular exercício dos benefícios necessários para diminuir as diferenças sociais foram dispersas com medíocres administrações e gestões; a garantia de “privilégios” - quando comparados aos demais cidadãos; e a corrupção.
Nessas eleições, as pesquisas eleitorais estão convergindo na polarização de candidaturas presidenciais extremistas de direita e esquerda que, ao seu modo, possuem um modus operandi semelhante quanto aos seus apoiadores mais radicais, além de uma incômoda sensação de insuficiência ou inviabilidade do programa político apresentado.
Ah, mas isso é a democracia, diriam alguns. Os eleitos são legitimados pelos votos da maioria da sociedade eleitora. Só que não. Nos últimos pleitos eleitorais, mais de 20% dos eleitores não compareceram às urnas, se abstendo de votar. Um contingente de 10% vota em branco ou nulo. Dificilmente nas próximas eleições o vencedor terá votos suficientes para suplantar os do seu adversário e aqueles que declinaram da possibilidade de voto.
Democracias presidencialistas possuem mecanismos de controle entre os Poderes Executivos, Legislativos e o Judiciário - incluo o Ministério Público por minha conta, ante a sua atuação proativa que, especialmente nos casos de corrupção, vem desenvolvendo um trabalho para prevenir ilícitos e reparar o erário.
Todavia, esses Poderes no Brasil não funcionam de forma adequada. Para começar, para uma República Federativa o governo federal intervém demasiadamente com a arrecadação de tributos e distribuição de recursos nos entes federados que, nos termos da Constituição, mantém apenas uma estrutura federativa pro forma nos Estados e municípios. Sem falar nas constantes ingerências entre os próprios Poderes, que acabam sendo nocivas ao extrapolarem com suas funções.
Uma democracia “madura” - como eventualmente ouvimos relatos na imprensa, deveria conter coletivos dentro da sociedade que abarcassem as defesas de interesses próprios, mas também de outros e especialmente de todos, mas a verborragia delimita o alcance das discussões. Eu defendo a liberdade de expressão, mas não me conformo com a facilidade de proliferação de partidos políticos, sindicatos e até mesmo igrejas (o Estado é laico, mas como cristão eu considero que toda religião deve ter uma doutrina estabelecida e não em convenções e convicções pessoais de suas lideranças, e da mesma forma agremiações e associações políticas).
De certa forma, vislumbro nas eleições brasileiras uma repetição de um padrão mundial, com algumas peculiaridades: a direita que não é nacionalista (se efetivamente fosse, seria inclusiva com a própria população, e não preconceituosa), e uma esquerda popularesca personalista que demonstrou não ter competência para administrar o País, bem como sucumbiu às práticas de corrupção. Infelizmente não temos uma terceira via viável - aliás, não temos sequer uma população preparada e muito menos dispostas para “sacrifícios” como a perda de direitos, conforme pesquisa Ibope vinculada na semana do dia 18/9.
Parafraseando Nietzsche, quando olhamos muito para o abismo acabamos vendo “monstros”. O problema é quando o “abismo” - problemas econômicos e sociais -, começar a olhar para nós e finalmente virem como uma horda em nossa direção.
Nos últimos pleitos, mais de 20% dos eleitores não compareceram às urnas, se abstendo de votar