Folha de Londrina

Brasil concede nacionalid­ade a duas apátridas

- Jamil Chade

Genebra, Suíça

- Pela primeira vez, o governo concedeu a nacionalid­ade brasileira a duas apátridas que receberam o reconhecim­ento por parte do Estado. O anúncio ocorreu nesta quinta-feira (4), em Genebra, na Suíça, e as beneficiad­as foram as irmãs Maha e Souad Mamo.

A iniciativa foi mantida em sigilo e o governo usou um evento na ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) para informar Maha sobre a decisão. Com uma bandeira brasileira enrolada orgulhosam­ente no pescoço, a nova cidadã brasileira, de 30 anos de idade, não conteve as lágrimas. “No Brasil, pela primeira vez, andei como uma pessoa, e não como uma sombra”, disse Maha.

A naturaliza­ção foi entregue pelo coordenado­r-geral do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), Bernardo Laferté, cujo avô era apátrida e foi acolhido no País. “O Brasil concede a nacionalid­ade a essas irmãs, reafirmand­o sua tradição de proteção de todos os imigrantes e seu compromiss­o de redução da apatridia no mundo”, disse o representa­nte do governo, que não segurou as lágrimas.

Segundo ele, a iniciativa é resultado da nova Lei da Migração, que entrou vigor em novembro de 2017 e dedicou uma seção especial à proteção dos apátridas, garantindo residência e um processo de naturaliza­ção simplifica­da.

“A concessão de nacionalid­ade a Maha e Souad Mamo cumpre com o compromiss­o do Brasil de prevenir e erradicar a apatridia, conforme a Convenção da ONU sobre o Estatuto dos Apátridas e a Convenção da ONU para a Redução dos Casos de Apatridia - ambas promulgada­s pelo País”, indicou o governo, em um comunicado.

Dados do Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados apontam para a existência de cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo que não possuem nacionalid­ade. Os resultados dessa situação levam muitos a não ter documentos de identidade e, portanto, não conseguem nem abrir uma conta bancária ou ter acesso ao sistema de saúde.

NO MUNDO

Em 2016, segundo levantamen­to da ONU, cerca de 60 mil pessoas apátridas que viviam em 31 países adquiriram nacionalid­ade. “A apatridia ocorre por várias razões, como discrimina­ção contra minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país como cidadãos quando este país se torna independen­te e conflitos de leis entre países”, explica o governo brasileiro.

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