Discurso armamentista elege mais votados no PR
Na esteira do fenômeno Bolsonaro, os candidatos a deputado estadual e federal mais bem votados no Paraná trazem como bandeiras o endurecimento das penas e o armamento da população. Ao menos nove candidatos à Assembleia Legislativa eleitos no último domingo (16%) são ligados a setores militares, entre eles o mais votado, Delegado Francischini, com 427 mil votos. O filho dele, Felipe Francischini (241 mil votos) foi o segundo deputado federal mais votado no Estado, atrás apenas do sargento aposentado Gilson Fahur (314 mil votos). Para analista, discurso dá a sensação de que problema de segurança pública vai ser resolvido rapidamente, numa saída mágica.
“Produz nas pessoas uma sensação de que o problema da segurança pública vai se resolver rápido, numa saída mágica”, descreve o cientista político e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina, Elve Cenci, sobre o discurso de candidatos que defendem o armamento da população.
“Tem efeito imediato sobre as pessoas, as pessoas imaginam que se tiverem acesso elas vão se sentir mais seguras, que uma polícia que mata mais vai garantir mais segurança porque os bandidos vão ficar intimidados e, na verdade, as coisas não passam por esse caminho”, critica.
Cenci lembra que quando se desenvolve esse discurso normalmente se tem, também, uma crítica aos direitos humanos e uma “negação, quando, na verdade, a dignidade conferida às pessoas é que vai ajudar no enfrentamento do problema”, pondera.
Outro ponto pouco aprofundado nas discussões sobre segurança pública que passam pela flexibilização do porte de armas é o mercado que se desenvolveria “de uma hora para outra”, justamente interessado na comercialização dessas armas.
“Como antigamente, você tinha uma loja no shopping que vendia armas. Ela ficava ali na vitrine, qual é o problema concreto disso? É que a maior parte dos crimes não são levados adiante pelos crimes em si, mas são os passionais, e estes são cometidos pelas ditas ‘pessoas de bem’. Um desentendimento, ciúmes, brigas de trânsito”, exemplifica.
O professor cita casos como a intervenção federal no Rio de Janeiro e o enfrentamento do crime organizado ao lado do narcotráfico na Colômbia como exemplos de cenários em que o combate ao crime estruturado no enfrentamento tradicional não apresentou os resultados esperados.