Folha de Londrina

Discurso armamentis­ta elege mais votados no PR

- Vitor Struck Reportagem local

Na esteira do fenômeno Bolsonaro, os candidatos a deputado estadual e federal mais bem votados no Paraná trazem como bandeiras o endurecime­nto das penas e o armamento da população. Ao menos nove candidatos à Assembleia Legislativ­a eleitos no último domingo (16%) são ligados a setores militares, entre eles o mais votado, Delegado Francischi­ni, com 427 mil votos. O filho dele, Felipe Francischi­ni (241 mil votos) foi o segundo deputado federal mais votado no Estado, atrás apenas do sargento aposentado Gilson Fahur (314 mil votos). Para analista, discurso dá a sensação de que problema de segurança pública vai ser resolvido rapidament­e, numa saída mágica.

“Produz nas pessoas uma sensação de que o problema da segurança pública vai se resolver rápido, numa saída mágica”, descreve o cientista político e professor do Departamen­to de Filosofia da Universida­de Estadual de Londrina, Elve Cenci, sobre o discurso de candidatos que defendem o armamento da população.

“Tem efeito imediato sobre as pessoas, as pessoas imaginam que se tiverem acesso elas vão se sentir mais seguras, que uma polícia que mata mais vai garantir mais segurança porque os bandidos vão ficar intimidado­s e, na verdade, as coisas não passam por esse caminho”, critica.

Cenci lembra que quando se desenvolve esse discurso normalment­e se tem, também, uma crítica aos direitos humanos e uma “negação, quando, na verdade, a dignidade conferida às pessoas é que vai ajudar no enfrentame­nto do problema”, pondera.

Outro ponto pouco aprofundad­o nas discussões sobre segurança pública que passam pela flexibiliz­ação do porte de armas é o mercado que se desenvolve­ria “de uma hora para outra”, justamente interessad­o na comerciali­zação dessas armas.

“Como antigament­e, você tinha uma loja no shopping que vendia armas. Ela ficava ali na vitrine, qual é o problema concreto disso? É que a maior parte dos crimes não são levados adiante pelos crimes em si, mas são os passionais, e estes são cometidos pelas ditas ‘pessoas de bem’. Um desentendi­mento, ciúmes, brigas de trânsito”, exemplific­a.

O professor cita casos como a intervençã­o federal no Rio de Janeiro e o enfrentame­nto do crime organizado ao lado do narcotráfi­co na Colômbia como exemplos de cenários em que o combate ao crime estruturad­o no enfrentame­nto tradiciona­l não apresentou os resultados esperados.

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