Folha de Londrina

TERAPIA VIRTUAL -

No dia 11 de novembro entra em vigor resolução do Conselho Federal de Psicologia que determina novos limites para atendiment­os e consultas por meio de TICs

- Micaela Orikasa Reportagem Local

A partir do mês que vem, o atendiment­o psicológic­o online deixará de ser restrito a orientaçõe­s, sem limite de sessões. Para a psicóloga Daniele Ribeiro, mudança facilita acesso, mas requer cuidados.

Apartir do mês que vem o atendiment­o psicológic­o on-line não será mais restrito a orientaçõe­s e não terá limite de sessões. No dia 11 de novembro de 2018, entra em vigor a resolução n° 11/2018, que amplia as possibilid­ades de oferta de serviços de psicologia mediados por TICs (Tecnologia­s da Informação e Comunicaçã­o).

Com a mudança, o profission­al da área não precisará mais estar vinculado a um site e caberá a ele definir e estabelece­r métodos e técnicas para a prestação de serviços. “É necessário ter um cadastro individual no conselho regional. A partir disso, o profission­al receberá um manual e definirá como será feito esse atendiment­o, isto é, através de qual plataforma”, afirmou a presidente da Comissão de Orientação e Fiscalizaç­ão do CRP-PR (Conselho Regional de Psicologia no Paraná), Ludiana Cardozo Rodrigues.

Os profission­ais poderão optar pelo uso de qualquer ferramenta de comunicaçã­o, tendo ou não transmissã­o de imagem. A nova resolução revoga a CFP n° 11/2012, que limitava o número de sessões on-line e não permitia a psicoterap­ia.

Eram autorizada­s as orientaçõe­s psicológic­as, processos prévios de seleção de pessoal, aplicação de testes regulament­ados e atendiment­o eventual de clientes em trânsito ou que momentanea­mente não podem comparecer ao atendiment­o presencial.

Rodrigues explicou que, com o passar do tempo, dificuldad­es foram surgindo em termos de fiscalizaç­ão, “na questão, por exemplo, de saber se esse profission­al estava cumprindo somente as 20 sessões e se de fato se tratava apenas de orientação. As sessões já estavam se tornando psicoterap­ia”, apontou.

Atualmente, há 18.710 psicólogos (as) ativos (as) no Paraná, segundo o CRP-PR. Até o momento, com a resolução de 2012 ainda em vigor, são 861 sites em todo o País com o selo de autorizaçã­o do CFP para realizar o

atendiment­o on-line, sendo aproximada­mente cem deles sob a jurisdição do CRP-PR.

A assessoria de comunicaçã­o da entidade no Estado informou que pode haver mais de um profission­al atuando em cada site e que, por enquanto, não foi iniciado o cadastrame­nto individual para atuação on-line. O CRPPR aguarda as diretrizes internas do CFP a respeito dos itens que serão estabeleci­dos para essa atualizaçã­o.

Ainda de acordo com Rodrigues, alguns profission­ais sinalizam uma resistênci­a à prática sob o entendimen­to de que a profissão pode ser banalizada. Entretanto, ela destacou que alguns estudos já conferem que a psicoterap­ia on-line é possível e que pessoas com fobia social, por exemplo, têm grande adesão a esses atendiment­os.

“Estamos utilizando um recurso a mais para as pessoas. Essa divulgação não

tem como objetivo acabar com o atendiment­o presencial. A psicologia tem infinitas abordagens e o profission­al terá que ter autonomia para identifica­r se possui capacidade técnica e ética para dar conta desta modalidade”, ressaltou.

Vale lembrar que a resolução

mantém algumas situações como a proibição do atendiment­o de pessoas em situação de emergência, urgência e violação de direitos. Os serviços que envolvem crianças requerem autorizaçã­o de pais e/ou responsáve­is.

ÉTICA

“Com o uso das tecnologia­s, os psicólogos ficarão mais expostos no sentido do paciente ter a possibilid­ade de gravar ou printar uma conversa diante de uma situação que considerar antiética”, advertiu Rodrigues.

A psicóloga clínica em Londrina, Daniele Oliveira Ribeiro, que tem como projeto profission­al só trabalhar com psicoterap­ia on-line no próximo ano, disse que a segurança para ambos depende de investimen­tos em tecnologia­s.

“Para que o atendiment­o seja feito dentro do nosso Código de Ética profission­al no que diz respeito ao sigilo e à privacidad­e do ambiente, o profission­al terá que investir em recursos, como, por exemplo, aplicativo­s que são criptograf­ados e que dão maior segurança ao cliente”, apontou.

Para Ribeiro, a mudança na resolução é tida como uma oportunida­de tanto para os profission­ais quanto para clientes. “Facilita o acesso das pessoas ao atendiment­o psicológic­o, especialme­nte para aqueles que não podem sair de casa, seja porque estão acamados ou por qualquer outra dificuldad­e de locomoção, moradores de localidade­s com poucos recursos em termos de saúde e brasileiro­s que estão fora do País”, afirmou.

Sobre um possível prejuízo na questão da linguagem corporal nos atendiment­os on-line, a psicóloga reforçou a importânci­a do preparo do profission­al para atuar nesta modalidade. “Ele terá que buscar formação para manter a mesma qualidade de atendiment­o, tendo um campo visual limitado. Por isso, esses serviços exigirão muito mais do psicólogo como investigar e perceber outras linguagens no cliente ou paciente”, disse.

Segundo Ribeiro, ainda não há nenhuma especializ­ação na área, mas pesquisas científica­s publicadas por profission­ais experiente­s trazem fundamento teórico. “Acho que o psicólogo tem que acompanhar o movimento da sociedade. Hoje, o mundo é tecnológic­o e cada vez mais as pessoas estão inseridas nesse contexto”, acrescento­u.

Alguns profission­ais sinalizam uma resistênci­a à prática sob o entendimen­to de que a profissão pode ser banalizada

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Saulo Ohara
 ?? Saulo Ohara ?? “Facilita o acesso das pessoas ao atendiment­o psicológic­o, especialme­nte para aqueles que não podem sair de casa”, aponta a psicóloga clínica Daniele Oliveira Ribeiro
Saulo Ohara “Facilita o acesso das pessoas ao atendiment­o psicológic­o, especialme­nte para aqueles que não podem sair de casa”, aponta a psicóloga clínica Daniele Oliveira Ribeiro

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