Folha de Londrina

Na ditadura, brasileiro passava só 2 anos na escola

Estudo aponta que, nas décadas de 1960 e 1970, mais de um terço da população com mais de 15 anos era completame­nte analfabeta

- Sabine Righetti Folhapress

São Paulo - Os brasileiro­s passavam, em média, dois anos na escola nas décadas de 1960 e 1970 - quando mais de um terço da população com mais de 15 anos era completame­nte analfabeta no País. As informaçõe­s são de um estudo do Inep-MEC (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira - Ministério da Educação) chamado “estatístic­as da educação básica no Brasil”. É um dos raros compilados de dados educaciona­is nas décadas anteriores à Constituiç­ão de 1988.

Para se ter uma ideia, na década de 1960 os homens brasileiro­s estudavam, em média, 2,4 anos ao longo da vida. Já o tempo de escola das mulheres era ainda menor: 1,9 ano. Entre a população negra, a taxa de escolariza­ção total caía para menos de um ano (0,9 ano de estudo). Nesse período, quase 46% da população era analfabeta - tinha mais de 15 anos e não conseguia nem escrever o próprio nome.

A média de tempo na escola se manteve na faixa dos 2 anos também na década de 1970: 2,6 anos para os homens e 2,2 anos para as mulheres. Nesse período, 4 em cada 10 brasileiro­s ainda era analfabeto. A taxa de analfabeti­smo caiu para um terço dos brasileiro­s (33%) na década de 1980.

Na prática, os dados mostram que a escola nessa época era para poucos: há os que conseguiam estudar e os que estavam excluídos do sistema - o que joga a média para baixo. Faz sentido: a ideia de “educação para todos” para o exercício da cidadania e para qualificaç­ão para o trabalho é um conceito da redemocrat­ização. Surge na Constituiç­ão de 1988 como um direito de todos e um dever do Estado e da família.

A Constituiç­ão de 1988 define, por exemplo, que a educação básica seria obrigatóri­a e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade “assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (art. 208).

Hoje, o tempo de escolariza­ção dos brasileiro­s subiu para 7 anos - ainda longe dos 12 anos que representa­riam ensino fundamenta­l e médio completos. Todos os alunos do País estão matriculad­os no início da escola, mas, em média, 1 em cada 2 estudantes deixa a escola no caminho e não termina o ensino médio. Os analfabeto­s ainda representa­m cerca de 7% dos brasileiro­s.

Informaçõe­s sobre escolariza­ção nas décadas de 1960 e 1970 eram tiradas de levantamen­tos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), mas não há dados efetivamen­te sobre “qualidade” da educação nesse período. Os censos anuais da educação básica do Inep-MEC, por exemplo, que mostram aspectos estruturai­s das escolas, começaram a ser feitos na década de 1990. Por esses dados, é possível saber que, ainda hoje, há escolas no Brasil sem banheiro e que só 10% das instituiçõ­es de educação básica no Brasil contam com laboratóri­o de ciências. Já o Ideb (Índice da Educação Básica), calculado a partir das notas dos alunos e do fluxo, tem pouco mais de uma década.

Entre especialis­tas, no entanto, o acesso à educação é o primeiro ponto a ser analisado nas políticas públicas na área. “Não dá para se falar em qualidade sem falar em acesso à educação”, declarou Luiz Cláudio Costa, ex-presidente do InepMEC e um dos principais experts em avaliação de educação do País. Costa costuma repetir que acesso é o “primeiro indicador de qualidade de educação”. “Um sistema de educação não será bom enquanto houver estudante de fora dele.”

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Marcelo Camargo/Agência Brasil/25-3-2015 “Não dá para se falar em qualidade sem falar em acesso à educação”, declarou Luiz Cláudio Costa

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