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Chega às livrarias a aclamada biografia de Dostoiévski, escrita por Joseph Frank, e dois romances do escritor russo
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Fiódor Dostoiévski era um escritor obsessivo. Alguns de seus leitores também. Pelo menos do caso do professor norte-americano Joseph Frank (1918 - 1913) que ao longo de 50 anos se debruçou na vida e obra do escritor russo para escrever sua biografia.
Publicada originalmente na década de 1970, a biografia de Dostoiévski escrita por Joseph Frank possui mais de 3 mil páginas. No Brasil, a obra foi publicada entre 1998 e 2010 pela editora Edusp dividida em cinco volumes: “Dostoiévski I, II, III, IV e V”.
Agora a editora Companhia das Letras acaba de lançar uma versão compilada do livro com apenas mil páginas. “Dostoiévski - Um Escritor em Seu Tempo” não é uma obra com foco apenas nos detalhes da existência do escri- tor russo, trata-se de uma “biografia literária” onde Joseph Frank analisa todos os textos e livros escritos por Dostoiévski. Também aborda todos os acontecimentos históricos e sociais da Rússia em que o escritor viveu.
Considerada uma das maiores biografias literárias do século 20, a obra é um prato cheio para os admiradores da literatura do escritor russo. Para se ter uma ideia, o autor utiliza mais de 100 páginas para contextualizar um único livro, “Os Irmãos Karamázov”, publicado em 1881.
Além da biografia de Dostoiévski escrita por Joseph Frank, dois romances poucos conhecidos do escritor russo também acabam de chegar às livrarias traduzidos diretamente da língua russa, “Noites Brancas” e “O Eterno Marido”, ambos lançados pela editora Penguin.
Considerada uma “novela sentimental” pelo próprio autor, “Noites Brancas” narra um encontro inesperado entre um narrador anônimo e uma jovem nas ruas de São Petersburgo numa noite de verão. Um encontro que se repete por quatro noites sucessivas com a intimidade entre os dois se aprofundando até chegar a um final não inesperado quanto o encontro. A edição ainda traz o conto intitulado “Polzunkov”.
O destaque está em “O Eterno Marido”, romance es- crito em 1869 durante uma viagem de Dostoiévski à Alemanha. Não se tratava de uma viagem de passeio, na verdade de uma fuga: estava fugindo de agiotas que estavam cobrando uma dívida de jogo.
Coagido a levantar uma grana, escreveu uma história sobre um marido traído em apenas três meses. Deixou registrado em suas cartas: “Odiei a história desde o começo”. O fato é que Dostoiévski conseguiu com o romance uma grana para saldar as dívidas e se dedicar a escrever seu livro seguinte, “Os Demônios”.
“O Eterno Marido” narra o encontro entre dois homens que não se veem há 10 anos, Pávlovitch e Veltchanínov. Pávlovitch comunica o amigo que sua esposa morreu e está com dificuldades de criar a filha de 10 anos, uma menina que é a cara de Veltchanínov.
O detalhe é que Veltchanínov foi amante da esposa de Pávlovitch 10 anos atrás. Seu grande drama é saber se o amigo sabe sobre seu caso com a esposa ou não. E também descobrir se a filha é sua ou não. Nesse angustiante beco sem saída, a dubiedade dos homens dá origem a uma relação que beira a insanidade.
A designação “eterno marido” é o termo russo utilizado educadamente para nomear aquilo que no Brasil é conhecido como “corno manso”. Aquele marido que, apesar de todas as traições da esposa, sempre será seu marido eterno. Pávlovitch veste esse papel pelo fato de por um lado admirar Veltchanínov, por outro odiá-lo por ter se envolvido com sua esposa.
A relação avança no caminho da insanidade até Veltchanínov concluir que Pávlovitch “o ama com maldade”. Aquilo que Dostoiévski (1821 - 1881) definiu como “o mais forte dos amores”. O amor que caminha de braços dados com a maldade, aquele amor que pode provocar um ato violento e sangrento.