O voto com raiva
Antes de um combate, os lutadores se cumprimentam e a atmosfera criada é a de que haverá, apesar das aparências em contrário, muito fair play. Foi a impressão deixada segunda-feira (8) no Jornal Nacional nas entrevistas de Bolsonaro e Haddad. Um não muito enfático manifesto pela democracia e de outro lado uma rejeição à convocação de Constituinte, de qualquer forma válidos.
Não é muito, mas para início de conversa equivale à troca de flâmulas entre jogadores antes de começar a partida de futebol. Mas na realidade não é isso que as forças em conflito expressam em função do acumulado do primeiro turno das eleições: não há espaço para o meio tom, tanto que Bolsonaro quer aprofundar o sentimento anti-PT e de forma inegociável, e Haddad tenta mostrar uma permeabilidade na qual o adversário não crê.
O eleitor em maioria absoluta votou com raiva numa rejeição à totalidade do sistema como se ele precisasse ser abolido e não há da parte dos litigantes um programa para um país quebrado na perspectiva fiscal com furo de trezentos bilhões como amostra. Da mesma forma que mostrar preocupação extrema com a falta de segurança nada garante igualmente o discurso genérico da inclusão social, não passa de uma abstração como se isso pudesse aflorar sem um mínimo de conflito e tensão dialética.
Do jeito que as coisas estão o pensamento está interditado na medida que sem o diálogo os fatos não avançam, como ensinava Sócrates na ideia da maiêutica, a parturição mental, epistemológica, dos contrastes. Infelizmente, até aqui um clima apropriado à loucura e muito distante da razão. O antipetismo e o “Ele não” são categorias que se rejeitam, que se excluem.
O que tivemos foi uma explosão coletiva do voto com raiva. E que raiva!