Folha de Londrina

‘Progresso e desenvolvi­mento são somente das empresas’

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O coordenado­r do Mabe (Movimento de Atingidos por Barragens), Robson Formica, afirma que o discurso do desenvolvi­mento, do progresso e da modernidad­e depois da construção de usinas hidrelétri­cas é limitado. “Isso acontece porque há o progresso e o desenvolvi­mento das empresas, mas do ponto de vista da sociedade e das regiões ela significa aumento da exploração”, aponta. Formica explica que atualmente há sobra de energia produzida no Paraná devido ao aumento do parque de construção de usinas que houve nos últimos dez anos.

“Mesmo assim é o povo quem paga a conta da construção das usinas. A maior parte da energia elétrica no Brasil é de fonte hidráulica, que tem custo baixo de produção, mas ela é vendida como se fosse produzida a partir de termoelétr­icas geradas a partir do carvão, do diesel ou do gás, que têm custo muito mais elevado. Produzimos energia com custo de produção baixa e pagamos uma das tarifas mais caras do mundo, por conta do controle do setor elétrico estar nas mãos de grandes corporaçõe­s depois das privatizaç­ões dos anos 90”, explica.

Formica ressalta que o custo de produção de energia das usinas mais antigas já está amortizado, mas o valor alto é mantido. “Essas empresas possuem taxas de lucro que são dez vezes o custo de produção”, revela.

Ele destaca que as empresas apresentam, no processo de mapeamento do local de construção, a versão de que a obra será “maravilhos­a”, que vai gerar emprego e impostos e que isso vai trazer prosperida­de para a região, o que não se confirma depois. “Isso não vai aumentar postos de saúde ou vagas em escolas. A mão de obra local utilizada nesses empreendim­entos é pouca, porque essas empresas importam mão de obra de outras regiões”, destaca. Ele acrescenta que a mão de obra importada muitas vezes não consegue voltar para as cidades de origem e isso vai gerando uma série de problemas. Sobre os impostos, Formica explica que o ICMS recolhido com a obra é destinado ao local de consumo e não ao local de produção. “Isso faz com que aqui o Paraná fique com o passivo da obra, e não com os benefícios”, explica.

Ele expõe que todo projeto de usina elétrica possui fluxo de caixa garantido, com contrato de longo prazo. “A maioria das usinas que ainda podem ser construída­s é de pequeno ou de médio porte. Nesses projetos normalment­e há uma empresa estatal associada e o investimen­to é público. Não é o setor privado que investe”, destaca.(

V.O.)

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