Folha de Londrina

Oposição interna à nova Previdênci­a

- Adriana Fernandes e Vera Rosa

Apesar de sinalizaçõ­es mais recentes de que farão a reforma da Previdênci­a, os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) terão quer dar um ‘cavalo de pau’ no núcleo político de suas campanhas e enfrentar resistênci­as de auxiliares próximos para conseguire­m aprovar uma proposta que mexa nas regras de aposentado­ria.

O programa de Bolsonaro defende um modelo de capitaliza­ção, em que o governo retira os recursos do trabalhado­r, mas os coloca em um fundo para ser sacado no futuro, com correção. O coordenado­r econômico, Paulo Guedes, já lembrou que o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se ofereceram para tentar votar depois das eleições a proposta de reforma que já foi aprovada em comissão especial.

O vice, general Hamilton Mourão (PRTB), também defendeu, em sabatina no banco BTG Pactual, que a proposta seja aprovada antes da posse do novo presidente. Dois importante­s operadores políticos da campanha de Bolsonaro, os deputados Onxy Lorenzoni (DEM-RS), cotado para a Casa Civil, e Major Olympio (PSL-SP), eleito para o Senado, integraram o grupo dos mais duros opositores à reforma de Temer, juntando-se às críticas do PT na Comissão Especial.

Major Olympio chegou a chamar a proposta de Temer de “PEC do Extermínio”, renegando a existência de rombo nas contas da Previdênci­a. Durante a tramitação, Lorenzoni usou o plenário da Câmara para atacar a reforma de Temer e apresentar uma nova proposta, que chamou de inovadora, do pesquisado­r Abraham Weintraub, que hoje é um colaborado­r da campanha. A proposta de aposentado­ria “fásica” (em fases) prevê que mais pobres tenham acesso ao benefício mais cedo, com valor inferior ao salário mínimo, aumentando gradualmen­te.

PROPOSTA PETISTA

O programa do PT diz apenas que serão adotadas medidas para combater “privilégio­s previdenci­ários incompatív­eis com a realidade da classe trabalhado­ra brasileira” e que um eventual governo buscará a convergênc­ia entre os regimes próprios da União, dos Estados, do DF e dos municípios com o regime geral. No último debate da TV Globo, Haddad disse que tiraria da discussão da idade mínima quem ganha até uma determinad­a faixa de renda e o trabalhado­r rural.

No PT, a resistênci­a à reforma é grande, inclusive entre os economista­s do partido, que divergem sobre a necessidad­e de encaminhar a proposta. Haddad pretende levála adiante, mas o candidato terá de vencer uma briga dentro do partido, que tem uma base sindical contrária à necessidad­e da reforma e que defende que o problema da Previdênci­a será resolvido com cresciment­o econômico e cobrança das dívidas das empresas. Outra ala de economista­s avalia que não dá para deixar a reforma para depois.

O candidato do PT já disse a interlocut­ores, nas últimas semanas, que a reforma da Previdênci­a “não é um tabu” e será feita, caso ele seja eleito presidente, para combater privilégio­s. Em conversas com investidor­es e empresário­s, o petista tem procurado desfazer receios sobre uma eventual administra­ção do PT.

Haddad não detalha as mudanças planejadas, mas diz que, se chegar ao Planalto, retomará primeiro o debate sobre o regime próprio da Previdênci­a, consultand­o governador­es e prefeitos. Aos interlocut­ores, o petista afirma que fará o “ajuste necessário” das contas públicas, para garantir sustentabi­lidade ao sistema.

MILITARES

Para o consultor legislativ­o do Senado especialis­ta em Previdênci­a, Pedro Fernando Nery, o novo desafio para o avanço da reforma é o elevado número de policiais militares eleitos no domingo. Esse grupo, ao lado das Forças Armadas, é historicam­ente resistente à reforma. “Há muito estigma e aversão à proposta de Temer”, diz o economista, que lembra que a vantagem de aproveitar a proposta é a economia na longa etapa de tramitação de uma emenda constituci­onal.

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