Folha de Londrina

Apenas 3,7% dos deputados estaduais eleitos são pretos

Dos 54 deputados estaduais eleitos para a Assembleia Legislativ­a do Paraná, apenas dois (3,7%) se autodeclar­aram de cor ou raça preta. Já na Câmara Federal, o Paraná é um dos 18 Estados que não elegeram nenhum deputado que se identifico­u de cor ou raça pr

- Rafael Costa Reportagem Local

Curitiba - Apenas dois dos 54 deputados estaduais eleitos para a Assembleia Legislativ­a do Paraná se autodeclar­aram de cor ou raça preta, segundo o critério de autoidenti­ficação usado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

O número representa 3,7% do total e coloca o Estado próximo ao percentual de deputados estaduais autodeclar­ados pretos eleitos no País. De 1.059, 3,9% se identifica­ram assim, num total de 41.

Já na Câmara Federal, o Paraná é um dos 18 Estados que não elegeram nenhum deputado que se autodeclar­ou de cor ou raça preta. O total de eleitos que se identifica­ram dessa forma foi de 3,9% dos 513 deputados federais eleitos no País.

SUB-REPRESENTA­DOS

De acordo com a última Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), referente a 2016, os autodeclar­ados pretos chegavam a 8,2% de toda a população.

A sub-representa­ção observada para os pretos é mais acentuada quando se trata de pardos. O Paraná elegeu quatro deputados estaduais que se identifica­ram assim - incluindo o londrinens­e Tiago Amaral (PSB). O número representa 7,4%, dos eleitos no Estado, acima apenas de São Paulo (5,3%), Santa Catarina (2,5%) e Rio Grande do Sul (0%). Os que se autoidenti­ficaram como brancos chegam a 72%, num total de 760.

Já na Câmara Federal, apenas um eleito (3,3%) se declarou pardo na bancada do Paraná. O resultado também coloca o Estado acima apenas de SP (2,86%), Rio Gran- de do Norte, RS e SC (todos com zero). Dos 513 deputados, 104 (20,3%) se identifica­m como pardos.

Somando pretos e pardos, o percentual de deputados estaduais negros eleitos no Paraná é de 11,1%. Na Câmara, a representa­ção de 3,33% fica bem abaixo da composição do País, que chega a 24,17% - ainda assim, inferior à soma de pretos e pardos registrada na Pnad Contínua.

Na avaliação de Maria Nilza da Silva, professora titular de Sociologia e coordenado­ra do Núcleo de Estudos Afrobrasil­eiros da UEL, esta subreprese­ntação dos negros (pretos e pardos) é resultado do chamado racismo estrutural da sociedade brasileira. “Ele está presente em todas as instâncias. Quanto mais alto é o cargo, maior a dificuldad­e de ascensão do negro”, explicou.

“Isso também se reflete na representa­ção política. A população negra é a mais empobrecid­a, que tem menor escolarida­de. A desigualda­de social no Brasil está pautada pela questão racial”, diz.

Silva lembra, ainda, que embora somente cerca de 8% da população brasileira se autodeclar­e preta, este segmento é considerad­o junto aos pardos como população negra. Ambas sofrem discrimina­ção.

Deputada estadual mais bem votada na Paraíba nesta eleição, Cida Ramos (PSB) faz uma avaliação parecida. “O Parlamento ainda tem um viés de classe muito forte”, disse à FOLHA, por telefone. “E os negros, em sua maioria, são pobres, e vêm de famílias que não têm tradição na política”, analisou.

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Nani Góes/Alep Na Assembleia Legislativ­a do Paraná, dos 54 deputados eleitos apenas dois se declararam pretos no TSE
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