Folha de Londrina

O êxito do passado não garante o sucesso futuro

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Ser um exemplo de eficiência produtiva em terras tropicais, conforme amplamente reconhecid­o pela comunidade internacio­nal, não garante ao Brasil a continuida­de desse reconhecim­ento. O mundo está num processo de mudanças constantes, fazendo diferente a cada dia. Nações que não evoluírem tecnologic­amente com a mesma velocidade das mais ligeiras, serão atropelada­s e ficarão pelo caminho. Veja-se com que presteza mudou a realidade econômica e social da China a partir dos anos 1990, quando decidiu abandonar a praxis retrógrada do comunismo na busca pelo desenvolvi­mento, deixando o Brasil cada vez mais isolado na fila dos que buscam protagonis­mo no mundo desenvolvi­do. Em 1990, o PIB chinês era inferior ao do Brasil e hoje é quatro vezes maior. Agora parece que a Índia, outro país integrante do grupo conhecido pelo acrônimo de BRICs, do qual o Brasil faz parte, parece percorrer caminho semelhante, deixando o Brasil a ver navios. Uma vez mais, vamos ficar assistindo?!

O passado é uma referência a ser lembrada apenas como marco de comparação com a realidade presente. No âmbito agrícola, como não lembrar de passado recente (anos 1950 e 1960), quando a figura esquelétic­a, descalça e maltrapilh­a do Jeca Tatú pretendia caracteriz­ar o homem do campo!

Nessa época, apesar do grande contingent­e de brasileiro­s vivendo no campo, a produção de alimentos não era suficiente para autoabaste­cer o País. Nesse período, um agricultor produzia o suficiente para alimentar apenas 20 pessoas na cidade. A partir dos anos 1970, no entanto, ocorreu uma verdadeira revolução na produção agrícola brasileira, fazendo com que a produção atual de um agricultor, seja capaz de alimentar dez vezes mais pessoas, além de gerar vultosos excedentes exportávei­s, os quais respondem pela maior parcela dos superávits da balança comercial do País.

O que aconteceu a partir dos anos 1970 foi uma significat­iva mudança nos processos produtivos agrícolas, patrocinad­os pelo uso de mais e melhores tecnologia­s, que aumentaram significat­ivamente a produtivid­ade. Apenas para ilustrar, de 1950 a 1975, o cresciment­o da produtivid­ade dos principais grãos brasileiro­s foi de meros 4,4 kg/ha/ano, segundo estimativa­s do IBGE, ao tempo que os aumentos da produtivid­ade dos mesmos produtos no período 1975 a 2013 fosse quase 14 vezes maior (60,8 kg/ ha/ano).

Se bem que as transforma­ções nos processos produtivos dos campos de produção brasileiro­s iniciaram na década de 1970, foi a partir dos anos 1990 quando acontecera­m os avanços mais expressivo­s na produtivid­ade dos principais cultivos. Segundo a Conab, de 1991 a 2016, a produção do arroz aumentou 54,1%, numa área 47% menor, consequênc­ia de avanços na produtivid­ade, que passou de 1.905 kg/ha em 1991 para 6.212 kg/ha em 2017. Aumento de 226%. Coisa parecida aconteceu com o feijão, que viu sua área reduzida em 62% e a produção incrementa­da em 47,8%. O trigo manteve a produção, mas numa área 58% menor. A área do milho cresceu 30% e a produção aumentou 307%, ressaltand­o-se que a área do milho 1ª safra caiu 51% (10,2 Mha em 1991 e 5,0 Mha em 2017) e a do milho 2ª safra cresceu 612% (1,7 Mha em 1991 para 12,1 Mha em 2017). A soja, responsáve­l por dar início a essa transforma­ção gigante, cresceu 192% na área e 467% na produção, promovendo a cultura de uma lavoura secundária no início dos anos 70, à condição de principal lavoura do país ao final dessa década. Um verdadeiro fenômeno.

O sucesso do agro brasileiro a partir de 1970 garantiu a passagem do Brasil da condição de importador líquido de alimentos para segundo maior exportador. Mas a carruagem continua andando, razão pela qual não podemos parar para curtir este sucesso. Ele não é garantia de êxitos futuros.

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