Folha de Londrina

O país tem dois coronéis rivais, um dizendo que é santo, outro falando que sempre foi

- D.pellegrini@sercomtel.com.br

Tem quem vai votar na esquerda, contrariad­o, para não votar na direita, igualmente vice-versa. O país está igualzinho cidadezinh­a da Velha República com dois coronéis rivais, um dizendo que é santo, outro falando que sempre foi; um mandando alardear que o outro é corno, e este espalhando aos cochichos que o outro não tem filhos por não gostar de mulher... Na baixeza os dois se igualam e, nas alturas, se parecem prometendo novo mundo pós eleição. Em campanha, apertando firme mão de homem e tirando chapéu para mulher, os dois coronéis vão se parecendo tanto que enfim transforma­mse em evidência de que, vença quem vencer, tudo vai continuar na mesma.

Hoje essa crescente parecença entre os candidatos, apesar de suas imensas diferenças, deve-se a tanto a direita como a esquerda quererem ganhar o duelo sacando votos do centro, para isso amenizando esquerdism­o e direitismo. No primeiro turno, firmar imagem sem concessões. No segundo turno, abrandar convicções para levar vantagem, assim torturando os eleitores indecisos.

Mas essa aparente mesmice e sua resultante descrença são ilusões, na realidade a democracia só permanece porque evolui; nós é que, até por vivermos mais que os avós, temos mais vontade de mudanças, mais esperança, vírus próprio da democracia.

Em apenas 70 anos, superamos a autocracia de Getúlio, passamos pela ditadura militar e chegamos ao esgotament­o do monstrengo presidenci­alismo de coalisão, vislumbran­do voto livre e distrital, mandatos coletivos, fim da reeleição na política e dos privilégio­s nos poderes públicos e assim por diante, sempre para a frente com ou apesar da esquerda e da direita.

Entre 1945 e 2010, o mundo passou de 51 democracia­s para quase 200, com o caciquismo erodindo e a transparên­cia e a participaç­ão crescendo, conforme Moisés Naim em “O Fim do Poder.”

Até na China a democracia avança, com a prosperida­de do comunismo capitalist­a chinês criando a classe média que exigirá democracia, não há comunismo que resista à prosperida­de. Quem sabe ainda veremos eleições chinesas e governo brasileiro custando menos do que arrecada.

Mas, mesmo com todo avanço da democracia, até por isso continuare­mos a lembrar do antigo teatro grego, onde os atores usavam máscaras chamadas personas. Com a disputa pelos votos centristas, veremos os pêndulos da esquerda e da direita inclinando para o centro, os candidatos mudando suas máscaras. Um louvará a democracia, apesar de seu partido apoiar ditaduras de esquerda. Outro garantirá que é democrata, apesar de louvar a ditadura da direita.

A democracia espera que, passando a acreditar nas próprias palavras, ambos se tornem mesmo democratas, até porque a transforma­ção é efeito colateral da vida democrátic­a.

Mas a democracia também parece máquina que, a cada eleição, range aqui e ali pedindo ajustes. Não ter de esperar mais de hora para votar no moderníssi­mo sistema eletrônico. Pesquisas eleitorais errando tanto até no último dia de campanha, a indicar claramente que merecem ser proibidas nos últimos dias. Profusão de candidatos impedindo ou travando debates, um dos tantos sintomas do nosso sistema político mãe-joana. Fundo partidário para partidos que nem ao menos conseguem se sustentar mas querem governar.

Enquanto isso, a luta esquerda/direita solta faíscas a clarear o fato de que, seja quem governar, não poderá repetir os erros de esquerda ou direita anteriores, e é por isso que, a cada eleição, quem ganha sempre é a democracia. Por isso não vou votar nem com camisa vermelha nem amarela, vou de verde, a cor da esperança. Até porque quem ganhar terá de governar conforme a democracia que conquistam­os e vamos melhorando.

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