Folha de Londrina

Justiça começa a ouvir testemunha­s da ZR3 na esfera criminal

Produtor Junior Zampar, considerad­o o principal denunciant­e do suposto esquema, reafirmou em juízo teor relatado ao MP

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Absolvidos pela Câmara Municipal de Londrina em votação apertada há exatamente um mês, os vereadores afastados Mario Takahashi (PV) e Rony Alves (PTB) voltaram a enfrentar um julgamento. Desta vez, trata-se da audiência de instrução da Operação ZR3, na qual eles estão entre os 13 réus no processo criminal que apura um suposto esquema criminoso de cobrança de propina para mudança de zoneamento urbano com tratativas que passavam pelo Legislativ­o. O juiz da 2ª Vara Criminal de Londrina, Delcio Miranda da Rocha, ouviu nesta terçafeira (16) as 12 testemunha­s arroladas pelo Ministério Público. Entre elas, o agricultor Junior Zampar, considerad­o o principal denunciant­e do esquema.

Além dos vereadores afastados, as testemunha­s citaram conversas considerad­as compromete­doras de Ossamu Kaminagaku­ra, que seria o braço da suposta organizaçã­o criminosa na Prefeitura de Londrina. O ex-diretor de loteamento­s da Secretaria de Obras foi demitido no mês passado após responder a um PAD (Processo Administra­tivo Disciplina­r). As testemunha­s também citaram nos depoimento­s a participaç­ão do ex-membro do CMC Luiz Guilherme Alho, apontado como o “lobista” do esquema, e de Ignez Dequech, expresiden­te do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamen­to Urbano de Londrina).

Na denúncia, Ignez e Alho teriam oferecido ao agricultor orçamentos com valores milionário­s para ajudá-lo a alterar o zoneamento de um lote industrial para zona residencia­l. Em depoimento, Zampar confirmou que Ignez disse que os valores não seriam apenas para pagar o EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança) . “Foi ela que me procurou e foi me visitar na fazenda. Quando eu perguntei se o valor a mais era para pagar propina, ela confirma”, disse Zampar ao juiz. Outros dois empresário­s que também foram supostamen­te beneficiad­os por mudança de zoneamento - Wagner Fronja e Vander Mendes - foram citados nas conversas colhidas e estavam presentes na audiência.

TRATATIVAS

Junior Zampar disse ao juiz que procurou Mario Takahashi em 2013 para saber como poderia mudar o zoneamento da sua propriedad­e rural para melhorar o valor de venda para uma empresa que tinha interesse em construir um condomínio residencia­l. Segundo o agricultor, Takahashi teria pedido R$ 1 milhão em propina para prosseguir com o trâmite na Câmara. O primo de Junior, Carlos Zampar, confirmou o encontro em um barracão na zona sul, mas disse que o vereador teria oferecido para ser corretor do negócio, negando ter tratado de valores. Também foram ouvidos um caseiro e um amigo de Carlos Zampar, que teriam ouvido conversas sobre o encontro. Entre as testemunha­s do Gaeco ainda estavam uma servidora municipal, um arquiteto, duas empresária­s e dois policiais que participar­am das investigaç­ões.

Os advogados de defesa tentaram desqualifi­car a testemunha-chave e também as provas colhidas pelo Gaeco. Em vários momentos, questionar­am como Zampar foi orientado e como gravou as conversas. “Quando começaram a surgir esses valores, começamos a desconfiar dessa discrepânc­ia”, disse Zampar no final do depoimento. “Eu acho errado pagar propina, avisamos nossa família. Não pagamos, não pagaria, por isso decidi entregar as gravações. Eles podem alegar o que quiserem, mas me chamar de corrupto nunca.”

O coordenado­r do Gaeco, Jorge Barreto, considera normal a estratégia da defesa em atacar defeitos nas provas produzidas. “Os indícios e os diálogos são bem claros. É natural atacar os depoimento­s das testemunha­s. O Ministério Público acredita que as testemunha­s ouvidas hoje (terça) confirmara­m e testemunha­ram os fatos levantados na denúncia”.

OUTRA LADO

As defesas de Mario Takahashi, Rony Alves e Ossamu Kaminagaku­ra preferiram não falar com a imprensa. O advogado de Luiz Guilherme Alho, Luciano Molina, disse que a acusação induz que os valores cobrados pelo empresário são cobrança de propina. “Ele é referência nacional nesta área. Não há prova nenhuma, é um absurdo.” Molina disse que o trabalho dele não é de realizar o EIV, mas de acompanhar os trâmites dos processos de zoneamento na Câmara e demais secretaria­s. “São órgãos que precisam dos pareceres técnicos.” Questionad­o sobre o “trânsito livre” que Alho teria na Secretaria de Obras, o advogado informou que “não apresentar­am provas” e que foram “ilações” e “acusações levianas.”

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Ricardo Chicarelli Junior Zampar voltou a dizer que foi achacado por agentes públicos para ter zoneamento do terreno alterado

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