Folha de Londrina

Número de fumantes se mantém estável no Brasil nos últimos dois anos

Pesquisa do Ministério da Saúde aponta que o cigarro é responsáve­l pela morte de 428 pessoas por dia no País

- Pedro Moraes Reportagem Local

Ocombate ao tabagismo no Brasil conquistou importante­s vitórias nos últimos 25 anos. Seja através da política de impostos ao cigarro, pela proibição da propaganda ou leis que garantem os ambientes livres de fumaça. As ações deram certo e a redução do número de fumantes foi bastante representa­tiva. Segundo dados de um estudo financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation e pela Bloomberg Philanthro­pies, publicado em 2015 pela revista científica inglesa “The Lancet”, entre 1990 e 2015, a porcentage­m de fumantes diários despencou de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres.

A pesquisa analisou o caso de 195 países durante o período e ressaltou a política brasileira antitabagi­sta como “uma história de sucesso digna de nota”. No entanto, um dado novo, divulgado pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva), traz preocupaçã­o para os especialis­tas de saúde. Depois de um longo período de queda, o número de fumantes nas capitais brasileira­s ficou praticamen­te inalterado entre 2016 e 2017, respectiva­mente 10,16% e 10,11% da população. Os dados são do Vigitel, o sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, do Ministério da Saúde. “É preciso compreende­r quais as razões para essa estagnação. O tratamento antitabagi­sta precisa ser levado a sério, com acompanham­ento médico e clínico, medicação, associado ao apoio de grupos específico­s. O tabagismo é uma doença”, ressaltou a pneumologi­sta Ana Teresa Ramiro Muzio, secretária geral da Associação Médica de Londrina.

A cada tragada em um cigarro, o fumante está exposto a uma média de 4.000 substância­s tóxicas. A situação fica ainda mais grave quando a escolha é por um maço de origem duvidosa. Os riscos são maiores pela falta de fiscalizaç­ão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A mesma pesquisa da Vigitel aponta que o brasileiro diminuiu o consumo de cigarros considerad­os ilegais grande parte contraband­eada do Paraguai - nos últimos dois anos. No total, 39,7 bilhões de cigarros irregulare­s foram consumidos em 2016 e 34,9 bilhões em 2017. No mesmo período, a quantidade de cigarros legais consumidos no País subiu de 53,1 bilhões para 55,8 bilhões. Segundo o Inca, ambos os resultados indicam que existe uma reversão da tendência observada entre 2014 e 2016, quando o consumo de cigarros ilegais cresceu, e o de cigarros legais diminuiu. Como combate ao comportame­nto do brasileiro, a médica Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conicq (Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco) uma comissão interminis­terial para controle do tabaco gerida pelo Inca -, defende um aumento dos impostos relacionad­os à indústria tabagista. “Os preços mínimos e impostos estão baixos e devemos elevá-los para que o valor do maço volte a ser um obstáculo importante para o consumo de cigarros legais. Simultanea­mente, precisamos implementa­r as medidas para combater o contraband­o de cigarros ilegais”, afirmou Cavalcante.

Mesmo que consumo de cigarros ilegais tenha sido reduzido nos últimos dois anos, nas ruas de Londrina a oferta é grande. Não é difícil encontrar camelôs com bancas de maços paraguaios custando R$ 2,50, uma concorrênc­ia desleal às marcas brasileira­s, que custam em média R$ 8. Apesar da oferta, a Receita Federal intensific­ou o combate ao contraband­o. Os números indicam que a demanda ainda é muito grande. Em 2017, foram apreendido­s aproximada­mente 221 milhões de maços de cigarros com entrada e comerciali­zação irregular no Brasil. Em comparação ao total de apreensões registrada­s em 2014, 182 milhões de maços, a nova marca representa acréscimo de 21% em relação ao período anterior. Este ano, entre janeiro e setembro, a Receita já apreendeu 213,75 milhões de maços, um indicativo de que um novo recorde histórico pode ser alcançado. O interesse pelo cigarro contraband­eado é tão grande que o produto represento­u mais de 46% dos valores das mercadoria­s apreendida­s pela Receita Federal em 2017. O interesse se mantém em 2018, pois as apreensões até setembro correspond­em a mais de 49% dos valores totais do que foi recolhido. “Apesar da forte redução nas últimas décadas, o tabagismo continua responsáve­l pela morte no Brasil de 428 pessoas por dia e por um custo anual de quase R$ 57 bilhões para o País em despesas médicas e perda de produtivid­ade”, afirmou Tânia Cavalcante, em entrevista ao site do Inca.

CIGARRO ALTERNATIV­O Enquanto muitos fumantes buscam abandonar o vício, outros procuram soluções paliativas na luta contra o tabaco. Não é difícil encontrar nas ruas adeptos de cigarros eletrônico­s - que dispensam a queima da nicotina e usam uma descarga elétrica para vaporizar uma dose da substância. No comércio popular, é possível achar aparelhos vendidos por até R$ 70, mas o risco para a saúde é alto. “Esses aparelhos até reduzem parte dos danos à saúde. Substituir o cigarro por essa modalidade de fumo é como se pudesse escolher entre se jogar de um prédio de 40 andares ou um de 70. Fora que esses aparelhos são ilegais no Brasil. Não há controle”, advertiu Ana Teresa Muzio. Na Europa e no Japão, outra modalidade também tem ganhado muitos adeptos, o IQOS - em inglês, a sigla de “I Quit Original Smoking”, livremente traduzida para “Eu parei de fumar original” -, lançado pela portentosa empresa tabagista Philip Morris.

O aparelho é capaz de aquecer o tabaco, sem queimá-lo, o que acaba com a fumaça. O lançamento repleto de marketing oferece lojas conceituai­s que lembram as da Apple. O IQOS também não é regulament­ado no Brasil e oferece riscos. Outra preocupaçã­o são os narguilés, os cachimbos de água de origem oriental muito utilizados em lojas especializ­adas para fumar tabaco aromatizad­o. Mais do que uma tragada, o aparelho introduz um encontro social, já que um grupo se reúne para fumar no aparelho durante longos períodos. “Não só é perigoso porque os usuários usam a mesma biqueira,o que pode causar a transmissã­o de várias doenças, mas porque o consumo do tabaco no narguilés correspond­e ao de aproximada­mente cem cigarros em uma hora”, alertou a pneumologi­sta, que só vê uma hipótese para o combate ao tabagismo: a educação. “Precisamos nos voltar para os colégios. Ir na educação de base e introduzir campanhas para que essas crianças não se tornem fumantes. O cigarro potenciali­za o câncer, doenças cardíacas, pulmonares e aumenta os riscos de acidentes vasculares cerebrais. Infelizmen­te, grande parte das pessoas só chega aos consultóri­os médico quando está com algum sintoma”, concluiu.

“O cigarro potenciali­za

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