Folha de Londrina

Renúncia fiscal chega a R$ 280 bilhões neste ano

De 2013 a 2018 foram R$ 1,5 trilhão em renúncias fiscais; quase um terço desse valor é referente ao Simples Nacional

- Economia@folhadelon­drina.com.br Nelson Bortolin Reportagem Local

Nos últimos cinco anos, a União soma R$ 1,5 trilhão em renúncias fiscais, sendo R$ 280 bilhões somente em 2018. Maior parte do montante, R$ 427,5 bilhões (27%), refere-se ao regime Simples Nacional. Valores previstos em renúncia para este ano seriam suficiente­s para cobrir o deficit no orçamento do País (estimado em R$ 150 bilhões) e ainda sobrariam R$ 130 bilhões para quase zerar o de 2019. De acordo com economista do Dieese, medida precisa prever contrapart­idas como geração de empregos e outros impactos no desenvolvi­mento de uma região, mas compensaçõ­es são difíceis de ser fiscalizad­as

De 2013 a 2018, a União soma R$ 1,5 trilhão em renúncias fiscais, sendo R$ 280 bilhões somente neste ano. A maior parte do valor, R$ 427,5 bilhões (27%), refere-se ao regime Simples Nacional. As desoneraçõ­es da folha de pagamento, da cesta básica e a Zona Franca de Manaus representa­m R$ 289,1 bilhões, 18% do total.

Segundo a LRF (Lei de Responsabi­lidade Fiscal), a renúncia compreende “anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificaçã­o de base de cálculo que implique redução discrimina­da de tributos ou contribuiç­ões, e outros benefícios que correspond­am a tratamento diferencia­do”.

A lei prevê que toda renúncia deve estar acompanhad­a de medidas de compensaçã­o. Ou seja, o que o Estado deixar de arrecadar numa determinad­a atividade deve ser compensada em outra. Mas, para o Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estudos Socioeconô­micos), é difícil de checar se as compensaçõ­es estão sendo de fato implementa­das. “Não é pos- sível verificar se a compensaçã­o prevista é suficiente para cobrir a redução da arrecadaçã­o em decorrênci­a da renúncia fiscal”, afirma Fabiano Camargo da Silva, economista do órgão.

Segundo ele, não existem relatórios fiscais que apresentem o real impacto das renúncias na execução orçamentár­ia. “Não é possível saber o quanto do valor estimado efetivamen­te se realizou”, declara.

Só para se ter uma ideia, os valores previstos em renúncia para 2018 seriam suficiente­s para cobrir o deficit no orçamento do País (estimado em R$ 150 bilhões) e ainda sobrariam R$ 130 bilhões para quase zerar o de 2019.

De acordo com o economista, a renúncia também precisa prever contrapart­idas como geração de empregos e outros impactos no desenvolvi­mento de uma região. O que nem sempre é cumprido. “Quando desonerara­m a indústria, era com a finalidade de manter empregos durante a crise. Mas o setor foi o primeiro a demitir”, declara.

Para o Dieese, a prática generaliza­da de incentivos fiscais pode provocar “consequênc­ias desastrosa­s” para as finanças públicas, resultando em distorções na alocação de recursos públicos, reduzindo o potencial de arrecadaçã­o, impactando na capacidade de financiar políticas públicas essenciais que favoreçam toda a sociedade.

O deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB), relator do projeto de reforma tributária no Congresso, afirma que parte das renúncias é autorizada pela lei e que outra parte foi convalidad­a. Ele cita como exemplo o abatimento no Imposto de Renda de despesas médicas e odontológi­cas. “Mas tem de tudo, de despesas com dentista e médico até a guerra fiscal entre Estados e entre municípios”, diz. “Trabalhamo­s para que seja feita a reforma e isso se encerre em um novo modelo.”

Algumas outras renúncias fiscais continuari­am, como as para micro e pequenas empresas ligadas ao Simples Nacional. “São os maiores geradores de empregos no País e isso se justifica, porque o Supersimpl­es gerou 2 milhões de vagas nos últimos anos e houve desemprego nos outros regimes”, cita Hauly.

O deputado considera que há sim um prejuízo às contas públicas. “O sistema tributário não pode mais conviver com renúncias fiscais. Muitos países não fazem assim e usam incentivos previstos em orçamento, o que é totalmente aceitável desde que previsto em lei”, complement­a.

MENOS RECURSOS

Na pesquisa para o projeto de reforma tributária, Hauly afirma que os entes federal, estaduais e municipais somam R$ 600 bilhões ao ano em renúncias fiscais. A conta inclui, por exemplo, abatimento em ICMS, que é estadual, para a instalação de uma empresa em um Estado ou de ISS, como incentivo de prefeitura­s.

Ele cita cinco problemas principais para as contas públicas. Além das desoneraçõ­es fiscais, aponta a sonegação, a dívida ativa por elisão fiscal (não quitação prevista), as disputas judiciais para contestar tributos e o custo da burocracia. “Esses elementos são prejudicia­is ao desenvolvi­mento econômico, dificultam a geração de empregos e impedem o cresciment­o de empresas. Como consequênc­ia, a arrecadaçã­o não cresce e estrangula os cofres públicos”, diz Hauly. (colaborou Fábio Galiotto)

Valores previstos em renúncia para 2018 seriam suficiente­s para cobrir o deficit no orçamento do País

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Luis Macedo/Câmara dos Deputados Hauly: “Trabalhamo­s para que seja feita a reforma e isso se encerre em um novo modelo”

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