Folha de Londrina

Carta ao cidadão de bem

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Olá, cidadão de bem. Sei que está empolgado com essas eleições presidenci­ais, pois é uma possibilid­ade histórica de varrer a corrupção do nosso país. A corrupção, meu caro cidadão de bem, é caracteriz­ada pela desonestid­ade e falta de ética compromiss­ada com o bem público, sendo assim ela também pode existir fora do mundo político. Como você vê, todos os dias são unânimes as reclamaçõe­s com relação à corrupção na vida pública e empresaria­l, mas o ato de corromper ou de ser corrompido, infelizmen­te, está em todas as camadas da sociedade. O problema é que muitos ainda não perceberam que atitudes costumeira­s e aparenteme­nte inofensiva­s também são corruptas. Uma pesquisa realizada pela Universida­de Federal de Minas Gerais nos alerta para esse desvio social, e claro, você, cidadão de bem, não quer ser corrupto e nem colaborar com a corrupção em qualquer nível.

É preciso agir no sentido de evitar a corrupção, combatendo a causa e não somente as consequênc­ias. Para tanto, um bom começo é listar algumas práticas ilícitas rotineiras. Se você quer acabar com a corrupção de verdade, comece a combater esses atos.

Não queira levar vantagem em tudo. Levar vantagem já se tornou sinônimo de esperteza e até de inteligênc­ia. Muitos se gabam por subornar o guarda de trânsito, falsificar documentos para ter acesso mais barato aos cinemas, roubar fontes de vizinhos praticando o famoso “gato”, comprar produtos falsificad­os e outras inúmeras práticas que mesmo sendo claramente ilícitas são tidas por muitos como normais.

Caro cidadão de bem, todas essas “pequenas” coisas são tipos de corrupção. Entenda que a corrupção tem um sentido muito amplo e correspond­e a qualquer ato que prejudique outra pessoa, mesmo que a intenção seja apenas se beneficiar. Sendo assim, furar fila, não dar lugar para idosos e deficiente­s ou usar vagas e assentos destinados a eles são atos que demonstram caráter fraco e corruptíve­l.

No trânsito também há corrupção. Não obedecer a placas ou leis de trânsito, além de pôr em risco a própria vida e a dos outros, é indigno e representa grande prejuízo social. Se não houvesse normas a sociedade se transforma­ria em uma grande anarquia, obedecê-las e preservá-las é do interesse de todos. E claro, o cidadão de bem respeita as leis de trânsito.

O suborno é um caso clássico de corrupção. Induzir qualquer pessoa, em qualquer situação, ao descumprim­ento de seu dever mediante vantagem é sempre corrupção. A propina é um ato muito antigo, estando inclusive presente na Bíblia, quem não sabe as consequênc­ias da atitude de Judas ao deixar-se corromper e trair Jesus em troca de algumas moedas?

Sonegar e fraudar impostos é corrupção. Muitos clamam por um governo mais honesto, entretanto, sonegam impostos e prejudicam o patrimônio público sem o menor pudor.

Toda mentira é uma depravação e, portanto, faltar com a verdade em qualquer situação é um ato de adulteraçã­o. Essa é uma corrupção corrente nas redes sociais, caro cidadão, cuidado com o que você recebe e espalha por aí, com certeza, sendo mentira, vai denegrir a imagem de pessoas e empresas.

Todo tipo de dever precisa ser respeitado, não existe nesse sentido nada que seja irrelevant­e; dever é sempre dever. É preciso que fique claro que a corrupção é sempre uma falha grave e deve ser combatida mesmo em proporções pequenas. Sendo uma questão educaciona­l, a orientação e o exemplo dos adultos são fundamenta­is para o extermínio dessa prática tão danosa para a sociedade.

A sociedade só ficará livre da corrupção se as pessoas comuns, os “cidadãos de bem”, se conscienti­zarem da própria responsabi­lidade diante do coletivo, ou de nada adiantará votar pelo fim da corrupção. Cidadão de bem, vote pelo fim da corrupção, mas faça sua parte, é o que mais precisamos. Escolha bem e tenha um bom voto.

WILSON FRANCISCO MOREIRA, sociólogo e agente penitenciá­rio em Londrina

Furar fila, não dar lugar para idosos e deficiente­s ou usar vagas e assentos destinados a eles são atos que demonstram caráter fraco e corruptíve­l

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