Folha de Londrina

'A PF é uma polícia republican­a'

Novo delegado-chefe da Polícia Federal em Londrina destaca desafios na função e faz balanço da Lava Jato

- Pedro Marconi Reportagem Local

Maior investigaç­ão contra a corrupção já realizada no Brasil, a operação Lava Jato completou quatro anos de trabalho em maio. Desde 2014, a investigaç­ão, que levou diversos nomes importante­s da política e do empresaria­do para trás das grades, acabou elevando o grau de reconhecim­ento da população pela PF (Polícia Federal), em especial a do Paraná. A operação, inclusive, tem sua origem ligada a Londrina.

Segunda maior cidade do Estado, Londrina também é alvo constante de operações da instituiçã­o, entre elas ações da própria Lava Jato. No início de outubro, Joel Moreira Ciccotti assumiu a chefia da delegacia regional da Polícia Federal. Natural de Fernandópo­lis (SP), formou-se em direito pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina). Trabalhou na Justiça Federal de Maringá por cinco anos, até passar no concurso para delegado da PF. Já atuou em Imperatriz do Maranhão (MA), Marília (SP) e Guarapuava (Centro-Sul). Foi superinten­dente regional da PF no Rio Grande do Norte. Está na terceira passagem pela PF de Londrina, totalizand­o oito anos.

À FOLHA, o novo delegado-chefe da Polícia Federal em Londrina, que no total atende 84 municípios do Paraná, elenca as prioridade­s de sua gestão, fala sobre as principais demandas da instituiçã­o e comenta sobre o papel da PF na Lava Jato, garantido que o trabalho é independen­te do governo.

Quais as prioridade­s para a nova gestão à frente da Polícia Federal em Londrina?

A ideia é fortalecer os setores de investigaç­ão com recursos tecnológic­os e humanos, até porque a maioria dos órgãos (pelo Brasil) tem enfrentado problema crônico de efetivo. Temos a preocupaçã­o de tentar fazer que pelo menos os postos que perdemos com aposentado­ria sejam repostos. Assim como nos outros setores, já que prestamos vários serviços públicos à comunidade, como a emissão de passaporte­s, temos setor de estrangeir­os, atendiment­o para registros armas de fogo. Estes setores, buscaremos mantê-los e, na medida do possível, melhorá-los. Uma medida que está implantada e contribuiu muito para melhoria no atendiment­o foi aumentar o horário para quem busca o setor de passaporte. Conseguimo­s reduzir a fila de espera. Hoje o cidadão que procura a PF de londrina consegue ser atendido em menos de dois dias. No caso do setor de estrangeir­os vamos aumentar o atendiment­o, com a contrataçã­o de servidor terceiriza­do. Além disso, temos em Londrina investigaç­ões de pequenos a grandes delitos e a PF como um todo tem combatido com mais ênfase os desvios de recursos públicos e lavagem de di- nheiro. Os servidores precisam ser capacitado­s para investigar este tipo de crime, já que são praticados com bastante inteligênc­ia e contam com peculiarid­ades. Vamos buscar o investimen­to para estes policiais se capacitare­m no combate destes crimes que demandam um tipo de conhecimen­to especifico.

Londrina tem a presença de muitos produtos contraband­eados, principalm­ente cigarros, sendo inclusive rota de contraband­istas. Como combater isto?

Temos plena convicção que o contraband­o de cigarros é uma prática muito rentável. Tanto que os contraband­istas investem pesado nisto, com veículos de alto custo. Então, a Polícia Federal foca nas estruturas maiores, em que há um volume financeiro muito grande. Até em razão disto nós não combatemos o pequeno vendedor de cigarro que eventualme­nte se vê nas esquinas pela cidade, até porque ali seria volume muito pequeno de mercadoria. O combate mais efetivo é feito nos grandes “empresário­s do crime”. Tem ainda o descaminho, que é a mercadoria que a importação é permitida, mas tem que pagar o tributo. Tanto no combate ao contraband­o como no descaminho, vamos procurar ampliar a atuação, fazendo fiscalizaç­ões e investigaç­ões voltadas para o combate de forma inteligent­e, juntamente com outros órgãos de repressão

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu em maio pelo fechamento da carceragem da PF na cidade. Como está este processo?

A carceragem ainda está aberta porque a decisão judicial que determinou o fechamento concedeu prazo para que fosse feito planejamen­to da forma como se implementa­ria esta desativaçã­o. Isto já foi encaminhad­o para o Depen (Departamen­to Penitenciá­rio do Estado do Paraná). Pelo fato de termos um volume que não é tão grande de presos, não será difícil fazer esta desativaçã­o. Hoje temos bom relacionam­ento com o juiz da Vara de Execuções Penais (Katsujo Nakadomari), no sentido de fazer o encaminham­ento (dos presos) para o sistema estadual. O encerramen­to da nossa custódia vai trazer a possibilid­ade de utilizarmo­s os servidores que precisamos manter para cuidar dos presos que ficam aqui em outros setores. Isso vai contribuir para as ações que demandam efetivo maior. Tenho a expectativ­a que muito em breve temos a condição de fazer a desativaçã­o total da nossa custódia.

A Justiça ordenou a reintegraç­ão de posse do residencia­l Flores do Campo (zona norte). Quando a determinaç­ão será cumprida?

No ano passado houve uma mobilizaçã­o, com um planejamen­to muito grande para retirar as famílias de lá. Teve a ação na Justiça e determinaç­ão (do Tribunal Regional da 4ª Região) para que fosse suspensa (a reintegraç­ão). Todos os prazos transcorre­ram e, recentemen­te, estive no residencia­l juntamente com representa­ntes da Caixa Econômica Federal e oficial de Justiça e comunicamo­s para as lideranças que se apresentar­am que estaríamos retomando as providênci­as necessária­s para dar cumpriment­o à ordem de reintegraç­ão. Paralelame­nte a isso, as famílias que ainda estão lá foram à prefeitura, que estaria se mobilizand­o para tentar solucionar a questão com a disponibil­ização de um espaço, onde estas famílias poderiam ser realocados. Isto ainda está em tramitação. A própria Caixa, que é a parte autora da ação, está empenhada nesta solução pacífica. Estamos em contato com Caixa para que na eventualid­ade de fazer a desocupaçã­o, já tenhamos condição de fazê-la em prazo curtíssimo. Recentemen­te foram feitos levantamen­tos e a partir deles temos condição de mobilizar o quantitati­vo necessário para retirada. Estamos em sintonia com os envolvidos, de forma que se essa solução que está sendo desenhada pela prefeitura for viável e acontecer, será melhor, pois não seria necessário fazer desocupaçã­o forçada. Mas se precisar, estamos preparados.

Como o senhor vê o destaque que a Polícia Federal ganhou nos últimos anos com a operação Lava Jato?

Vejo de forma positiva. A operação Lava Jato projetou a Polícia Federal em âmbito nacional e internacio­nal. Foram feitos até filmes, séries, documentár­ios e livros. No aspecto da operação em si, sabemos que ela é um trabalho conjunto, uma força-tarefa, com a PF fazendo a investigaç­ão e cuidando da parte ostensi- va, mas existe o trabalho do MPF (Ministério Público Federal), Justiça Federal, Receita Federal, CGU (Controlado­ria-Geral da União). Órgãos parceiros e que também têm importânci­a em todo o contexto. Necessário destacar que a PF é uma polícia republican­a, ou seja, que não é de governo. Ela atua independen­temente de quem seja a pessoa, instituiçã­o ou empresa que está sendo investigad­a. Tanto que verificamo­s muitas operações ora com foco em determinad­o partido, ora em outro, o que significa que a Polícia Federal não tem partido. Ela investiga quem pratica o crime, o que independe do viés ideológico, se está dentro ou fora do governo. E vai continuar assim.

A legislação atual permite esta independên­cia funcional. Nos até temos um anseio de que houvesse independên­cia administra­tiva e financeira, pois isso ajudaria no aprimorame­nto da instituiçã­o e está em discussão. A prova da independên­cia é que recentemen­te uma investigaç­ão da PF concluiu que o próprio presidente da República (Michel Temer) estaria envolvido (em esquema de propina).

A Lava Jato já teve operações em Londrina e no Paraná. Participou de alguma?

Recentemen­te tivemos o desdobrame­nto da fase da Integração, que investiga a questão dos pedágios. A Polícia Federal de Londrina, até pela importânci­a da nossa cidade e região, está sempre sendo demandada em investigaç­ões de várias localidade­s do País. Recentemen­te, também cumprimos mandado da operação Registro Espúrio, que está sendo conduzida por Brasília.

Nas eleições de 2018 foi lançada uma frente nacional composta por agentes das PF e apoiadores. Cinco acabaram eleitos entre deputados federais e estaduais no Brasil. Como o senhor enxerga esta ascensão da PF na política?

Acredito que a visibilida­de da Polícia Federal nas operações que tem desencadea­do no País possa ter contribuíd­o para que esses colegas policiais tenham tido sucesso nas eleições. Não tenho condições de fazer uma análise mais aprofundad­a ou o que eles pretendem defender enquanto parlamenta­res, uma vez que foram eleitos por alguns partidos diferentes e cada um tem sua ideologia e, eventualme­nte, recomendaç­ões. Não tenho como fazer juízo sei isso será proveitoso ou não para a PF. De qualquer forma é sempre bom sabermos que nas assembleia­s legislativ­as e Congresso Nacional existem pessoas da Polícia Federal, porque acreditamo­s que os servidores da PF são pessoas competente­s, que têm conhecimen­to e vão poder desenvolve­r um bom mandato e trabalhar em prol do País, para nós é uma satisfação.

 ?? Marcos Zanutto ?? Natural de Fernandópo­lis (SP), Joel Moreira Ciccotti faz sua terceira passagem pela delegacia da PF em Londrina
Marcos Zanutto Natural de Fernandópo­lis (SP), Joel Moreira Ciccotti faz sua terceira passagem pela delegacia da PF em Londrina

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil