Folha de Londrina

Produtores sofreram com instabilid­ade de preços

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Os produtores de café demonstrar­am sua insatisfaç­ão, principalm­ente com a instabilid­ade de preços do mercado internacio­nal e a determinaç­ão de cotas de exportação. O confisco cambial retinha parte da renda da exportação do café para a industrial­ização do País e para a construção de Brasília. Os produtores rurais já tinham sofrido perdas com geadas em 1953 e 1955 e temiam sofrer mais perdas financeira­s. O aumento de preço do café no mercado externo naquele período gerou campanha nos Estados Unidos, principal consumidor do produto, contra o café brasileiro, afetando as contas externas no País.

Em 1957 e 1958, a superprodu­ção de café não foi amparada por medidas protetoras que impedissem uma queda nos preços. Isso gerou um efeito cascata, já que a economia local era baseada na monocultur­a do café. Com menos lucro, houve menos dinheiro circulando no município e na região, consequent­emente ocorreu uma visível redução da atividade econômica em todos os setores. Vale ressaltar que, na época, em função da quase inexistênc­ia de indústrias no País, quase tudo o que se consumia por aqui era importado, desde ferramenta­s a papel, maquinário­s e utensílios domésticos.

Em março de 1958, o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) enviou uma missão ao Brasil para avaliar a capacidade do País de honrar um empréstimo de US$ 300 milhões. O relatório sugeria adequações nos gastos do governo JK. Os primeiros sinais de crise nos preços do café surgiram um ano antes, em 1957. O ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, decidiu então reter parte da receita oriunda da exportação do café visando comprar os excedentes previstos para o ano.

Os cafeiculto­res de São Paulo, Minas Gerais e Paraná propuseram pela primeira vez realizar a Marcha no dia 18 de junho de 1957, mas ela acabou não acontecend­o devido a desentendi­mentos entre seus líderes. Contudo, foi a partir dessas manifestaç­ões que os cafeiculto­res passaram a reivindica­r a saída de Alkmin do Ministério da Fazenda.

Em maio de 1958, quando os cafeiculto­res de São Paulo tentaram novamente realizar a Marcha da Produção, o ministro da Guerra, marechal Henrique Batista Lott, reagiu da mesma forma que no ano anterior, impedindo a realização do movimento.

Em junho de 1958, Alkmin pediu demissão do cargo e foi substituíd­o por Lucas Lopes, que então presidia o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico). Lopes ameaçou a continuida­de da aplicação do Plano de Metas, incluindo a construção de Brasília nos prazos previstos, e acabou com os subsídios dirigidos a diferentes setores, inclusive o cafeeiro. Com isso os cafeiculto­res foram intensific­ando cada vez mais suas pressões, mas não obtiveram sucesso em terem suas demandas atendidas.(

Em 1957 e 1958, a superprodu­ção de café não foi amparada por medidas que impedissem queda nos preços

V.O.)

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