Folha de Londrina

Para além do alimento

- Cleber Oliveira Soares, diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa (Brasília/DF)

Acesso ao alimento e à água, oportunida­des de gerar renda, estar incluído socialment­e e viver em um ambiente saudável e pacífico são condições que conferem dignidade e qualidade de vida às pessoas. No entanto, o cresciment­o da população mundial e os recursos naturais limitados impõem desafios para as nações na garantia de direitos fundamenta­is como esses. Nesse cenário, o Brasil deverá se posicionar com protagonis­mo no provimento de alimentos com sustentabi­lidade.

Poucos lugares no mundo conjugam condições de clima, disponibil­idade de terra e um setor agrícola empreended­or, que permitam incrementa­r ainda mais a produção de alimentos, como o nosso país. E, o melhor, sem necessidad­e de aumentar a área de plantio. Além de exportarmo­s produtos agrícolas para mais de 150 países, já influencia­mos a dieta de muitas nações. Por exemplo, a cada dez bifes exportados no mundo, três são provenient­es do Brasil, sem contar os copos de suco de laranja, a carne de frango, etc.

É preciso ressaltar que nossa agropecuár­ia é considerad­a a mais sustentáve­l do planeta, e o Brasil deve consolidar sua reputação de grande produtor de alimentos dentro dos padrões e conceitos de sustentabi­lidade. É possível transforma­r essa vocação em símbolo internacio­nal, como marca de país que conta com tecnologia, inova, produz com qualidade, e é capaz de atender às demandas dos mercados mais exigentes com competênci­a e competitiv­idade.

O Brasil tem aderido às agendas internacio­nais integrador­as, a exemplo dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l) das Nações Unidas. Com 169 metas a serem atingidas até 2030, os ODS propõem ações globais para erradicaçã­o da pobreza, segurança alimentar, agricultur­a, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualda­des, energia, água e saneamento, padrões sustentáve­is de produção e de consumo,

A revolução agrícola do Brasil se deu sustentada em ciência, tecnologia e inovação tropical. Saímos da revolução verde para os sistemas integrados, e migraremos para a agricultur­a de base biológica”

mudança do clima, dentre outras.

A agropecuár­ia, na condição de geradora de alimentos, saúde, renda, serviços ambientais e, por que não dizer, paz, trabalha em harmonia com os ODS. Conectados a esses objetivos, uma série de sinais e tendências globais e nacionais foram captados pelo Sistema de Inteligênc­ia Estratégic­a da Embrapa, o Agropensa, que coordenou um estudo e sintetizou sete megatendên­cias para a agricultur­a brasileira no horizonte 2030, sendo que uma delas mostra que a intensific­ação produtiva sustentáve­l é a ênfase a ser dada à produção de alimentos, fibra e agroenergi­a.

A revolução agrícola do Brasil se deu sustentada em ciência, tecnologia e inovação tropical. Saímos da revolução verde para os sistemas integrados, e migraremos para a agricultur­a de base biológica. Deixamos de importar alimentos, passamos a abastecer parte do mundo e estamos influencia­ndo hábitos de consumo. Mas, para além do alimento, do nutriente, do pão de cada dia, e da paz, estamos contribuin­do com novos parâmetros de humanidade.

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