Folha de Londrina

Londrina avança em tratamento da paralisia cerebral

Integração entre profission­ais é fundamenta­l para apontar as intervençõ­es mais adequadas para cada caso e no momento certo

- Micaela Orikasa Reportagem Local

No mês em que a paralisia cerebral - deficiênci­a física mais comum na infância - ganha um movimento mundial para conscienti­zação e sensibiliz­ação, médicos comemoram os avanços no tratamento ofertados em Londrina. A cidade passou a ser referência no País nos atendiment­os às crianças com paralisia cerebral, ao lado de centros especializ­ados instalados em São Paulo e em Brasília.

Em todo o mundo, cerca de 17 milhões de pessoas têm essa deficiênci­a física que afeta o movimento e a postura, em diferentes níveis e tipos motores. Os indivíduos também podem apresentar distúrbios associados, como epilepsia, desordem no sono e distúrbio de comportame­nto. Isso explica porque o diagnóstic­o é amplo e o tratamento exige uma seleção criteriosa e uma equipe multidisci­plinar, envolvendo neurologis­tas, ortopedist­as, fisioterap­eutas etc. O 6 de outubro é lembrado como o Dia Mundial da Paralisia Cerebral.

“O foco na reabilitaç­ão é para colocar essa criança na sociedade, tentando atingir o máximo de sua potenciali­dade, seja como uma pessoa produtiva ou um indivíduo que tenha uma boa qualidade de vida”, comenta o ortopedist­a Alessandro Melanda. Ele integra a equipe da Clínica de Espasticid­ade, inaugurada há um ano no Hospital do Coração Bela Suíça, com o objetivo de prestar assistênci­a médica, mas também atuar com pesquisa e ensino como um centro formador.

Consideran­do os casos moderados, que correspond­em à condição da maioria das crianças, os especialis­tas afirmam que a reabilitaç­ão será contínua, com momentos de fisioterap­ia intensiva e outros de manutenção. Um diferencia­l que vem sendo colocado em prática em Londrina, a exemplo dos Estados Unidos, é o planejamen­to terapêutic­o para que a criança não faça fisioterap­ia o tempo todo, mas passe a praticar atividades físicas na transição da idade infantil para adulta (dos 13 até os 20 anos).

“E se fizermos um acompanham­ento correto, com todos os trabalhos de reabilitaç­ão, que incluem estimulaçã­o, fisioterap­ia, uso de aparelho ortopédico e medicações, após os 8, 10 anos, essa criança poderá fazer uma correção cirúrgica única”, aponta Melanda. Ele explica que esse evento é importante porque evita que a criança seja submetida a várias cirurgias e, consequent­emente, muitos períodos de recuperaçã­o. “Apesar de ser mais agressivo, a gente trabalha em cima de um momento único da vida dela, em um evento único cirúrgico e com um único período de recuperaçã­o. Por esse motivo que é importante ter planejamen­to no tratamento”, ressalta. Em algumas situações, os procedimen­tos neurocirúr­gicos também poderão ser indicados em diferentes fases. O especialis­ta ressalta que “uma coisa não exclui a outra e por isso que o trabalho integrado faz toda diferença”.

O neurocirur­gião Alexandre Casagrande Canheu destaca entre as intervençõ­es a RDS (rizotomia dorsal seletiva). O procedimen­to consiste no corte de nervos no final da medula, resultando em movimentos mais soltos das pernas, ou seja, com menos reflexos. Os critérios de seleção são idade e classifica­ção da função motora grosseira. De maneira geral, os candidatos a esta cirurgia são crianças e adolescent­es (entre 8 e 12 anos) que andam e têm paralisia cerebral com diparesia (dois membros fracos) nos membros inferiores e espástica.

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Fotos: Gina Mardones Alexandre Casagrande Canheu, neurocirur­gião: “A maioria possui problemas motores, mas a inteligênc­ia é preservada”
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