Folha de Londrina

Meses coloridos de conscienti­zação

Saiba o significad­o das cores no calendário das doenças

- Gabriel Alves, Phillippe Watanabe e Dhiego Maia Folhapress

São Paulo - Setembro é amarelo, outubro é rosa, novembro é azul, dezembro é laranja, mas também vermelho. Sociedades de médicos, pacientes e ONGs se acotovelam na disputa por um espaço no calendário para promover os chamados meses de conscienti­zação de algumas doenças. Mas nem tudo por trás das campanhas, em sua maioria apoiadas por farmacêuti­cas, é cor-de-rosa. As ações nem sempre se traduzem em mais saúde e, para especialis­tas, podem levar a consultas e exames desnecessá­rios.

O mais famoso dos meses coloridos, o Outubro Rosa, foi criado há mais de 20 anos e envolvia a distribuiç­ão de laços rosas como forma de alertar sobre o câncer de mama, o mais comum entre as mulheres depois do câncer de pele. O mesmo mês de outubro é também de conscienti­zação da artrite reumatoide.

Já a cor de setembro, o amarelo, faz referência ao suicídio. Dados do Ministério da Saúde mostram que 11.433 pessoas morreram por suicídio no país em 2016 (dado mais atual) -algo próximo de 31 casos por dia.

O próprio governo admite que o número real pode ser ainda maior por causa da subnotific­ação nos registros. Em 2016, a taxa de mortalidad­e por suicídio no Brasil foi 5,8 casos a cada 100 mil habitantes. Para comparação, em 2007, esse índice era de 4,9 mortes a cada 100 mil habitantes - um aumento de 18%.

Segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatri­a), a campanha surgiu para disseminar informaçõe­s que podem auxiliar a sociedade a desmistifi­car o tabu sobre o tema e auxiliar profission­ais da saúde a identifica­r os fatores de risco para tratar e instruir melhor os pacientes. No país, a campanha foi iniciada em conjunto pelo CVV (Centro de Valorizaçã­o da Vida), que atua na prevenção ao suicídio, Conselho Federal de Medicina e pela ABP no ano de 2014, em Brasília. De lá para cá só ganhou força. Para chamar mais atenção, vários monumentos icônicos do país são iluminados com a cor amarela neste mês, como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Em 2019, janeiro começará com o verde, para a campanha de conscienti­zação sobre o câncer de colo de útero; em fevereiro, o laranja lembra a leucemia e o roxo, a fibromialg­ia, o Alzheimer e o lúpus. E assim por diante. No mês de novembro, duas doenças “brigam” pelo mês e pela cor azul: o câncer de próstata e o diabetes.

Historicam­ente, o Dia Internacio­nal do Diabetes - celebrado em 14 de novembro é mais antigo, de 1991, e sua criação contou com o respaldo da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde). A ideia de alargar o período de conscienti­zação diabetes de um dia para um mês inteiro nasceu em 2009, no ABC paulista, relata Márcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes. Nascia aí um Novembro Azul.

Em 2004, surgiu então o Moustache November (Movember), ou “novembro de bigode”, para levantar fundos contra o câncer de próstata na Austrália.

Tentando repetir o sucesso do Outubro Rosa e do Novembro Azul, outros meses coloridos surgiram, como o Setembro Verde, que incentiva a doação de órgãos, o Dezembro Laranja, do câncer de pele, e o Junho Vermelho, da doação de sangue.

Especialis­tas lembram que muitas dessas campanhas incentivam a realização de exames. Check-ups e exames sem a presença de sintomas ou sem evidências científica­s de que funcionem para rastrear doenças em certas faixas etárias são, inclusive, questionad­os por várias entidades, como a U.S. Preventive Services Task Force, ligada ao governo americano. Isso porque podem indicar falsos-positivos e gerar angústia e procedimen­tos desnecessá­rios.

“Há uma superinfor­mação, também com viés mercadológ­ico, de que quanto mais exames, melhor. Mas o certo é quanto melhor indicado os exames, melhor”, diz Mônica Assis, sanitarist­a da divisão de detecção precoce do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

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Shuttersto­ck O Outubro Rosa foi criado há mais de 20 anos e envolvia a distribuiç­ão de laços rosas como forma de alertar sobre o câncer de mama

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