A política sem amor e sem limites
As eleições de 2018 foram marcadas por uma polêmica que pôs por terra a ideia de um Brasil pacífico. Como ensina a psicanálise, as neuroses se repetem quando os conflitos só estão aparentemente resolvidos. Assim, vimos um embate ideológico que expôs esquerda e direita como damas desequilibradas que bem merecem um divã. Assistimos a um pandemônio de acusações mútuas, no qual as campanhas ratificaram a política, em alguns momentos, como uma casa de loucos, na qual muitos querem entrar como “donos da razão”.
Na democracia não há verdades absolutas, há uma convivência de tendências que apontam para a diversidade que é o cerne do equilíbrio. Nas democracias consolidadas não existe um pensamento único, nem um partido único, mas uma convergência de forças que moldam as diferenças para compor o que não é justo apenas para alguns, mas para todos.
Infelizmente, até aqui, foram meses de impropérios e ofensas que chegaram ora como piada, ora como memes, ora como notícias falsas, num processo em que o eleitor responsável se sentiu exausto. Alguns confessam que “não aguentam mais a política”. Dentre estes se destacam muitos de nossos leitores que são também eleitores.
A eleição não poderia ser um jogo, um reality show cujas provas constrangem a democracia. Mas a prática aponta para um vale-tudo que apenas se sofisticou com a tecnologia, sem um avanço real no plano das ideias. Sofremos de uma democracia imatura, uma jovem que quer andar de salto alto, mas muitas vezes tropeça.
Neste cenário, nem sempre os programas partidários, que são o que mais interessa, se destacaram como o coração das escolhas. As eleições deveriam ser antes de tudo um gesto afetivo, de amor dos brasileiros pelos rumos do País, de amor dos governantes pelos rumos da nação. A alma da democracia é a alternância, mas quando a legitimidade das mudanças cede a um conflito destemperado, resta ao Brasil se dividir entristecido.
Na democracia podemos discordar, porque nem tudo é consenso. E a arma mais eficaz da discordância é o voto, mas quando a opção racional cede ao desejo de “eliminar o adversário” e se fala em armas, invasões, fechamento das instituições que garantem o Estado de Direito, o processo democrático se torna imaturo, como criança sem limites. Como dizia São Paulo: “Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”.
O que se viu até este 28 de outubro, em muitos momentos, beirou mais a infantilidade do que a um embate de homens feitos. Mas, finalmente, chegamos neste domingo às urnas para depositar o voto que alinhará nosso futuro pelos próximos quatro anos. Só podemos desejar que, enfim, o grito ceda ao diálogo, que a ofensa ceda ao perdão e, como na Carta de São Paulo aos Coríntios, os vencedores percebam que, ainda que falem a língua dos homens, sem o amor eles nada serão.
Na democracia não há verdades absolutas, há uma convivência de tendências que apontam para a diversidade que é o cerne do equilíbrio