Transgênicos Orgulho e preconceito
Os transgênicos passaram a fazer parte da agricultura brasileira somente há duas décadas e já dominam os campos nacionais, com participação que beira os 90% na média entre soja, milho e algodão. O avanço não se deu sem motivo. O uso de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) facilitou o trabalho do produtor rural de commodities, ao reduzir a necessidade de aplicações de defensivos, e levou à disparada também do volume colhido. Isso sem contar os ganhos ambientais e a racionalização do uso de insumos.
Os dados fazem parte do estudo “20 anos de transgênicos no Brasil: impactos ambientais, econômicos e sociais”, feito pela consultoria Agroconsult com o apoio do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia). A pesquisa traz indicadores de que, para atingir o mesmo ganho de produtividade sem a biotecnologia desde 1998, o Brasil precisaria de um aumento da área plantada de 9,9 milhões de hectares (ha), o que equivale a toda a lavoura do Mato Grosso.
Esse caminho não foi, e ainda não é, tranquilo e livre de críticas. Estudos feitos pelas comunidades científicas americana e europeia indicam que os transgênicos são seguros para a alimentação humana, animal e para o meio ambiente. O mais recente é o relatório da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (2016), que se soma ao aval da OMS (Organização Mundial de Saúde) ao consumo de OGM, que vem desde o desenvolvimento de vacinas e da insulina aplicada em diabéticos.
Mesmo assim, países da União Europeia, Rússia e China pagam prêmios maiores pela soja convencional. Parte dos consumidores brasileiros e internacionais também entortam a boca para produtos que trazem a letra “T” em amarelo, no canto da embalagem, o que faz com que parte pequena dos agricultores brasileiros opte por esse cultivo.
O fato é que os transgênicos vieram para ficar nas nações que são as principais produtoras de grãos e de algodão. Estados Unidos, Brasil, Argentina, Canadá e Índia são, pela ordem, os maiores usuários dessa tecnologia, segundo o estudo. Quando se pensa somente em grãos, é no continente americano que até 80% dos produtores estão, conforme a Embrapa, o que mostra o tamanho da importância da biotecnologia para a alimentação mundial.
INFORMAÇÃO
A diretora-executiva do CIB, Adriana Brondani, afirma que há nichos de mercado para todos, mas que é preciso evitar a desinformação. “Nossa percepção é que essa dificuldade tem sido superada em vários países, porque tinha mais a ver com o fato de ser uma novidade”, diz, ao lembrar que 20 anos de estudos permitem derrubar os preconceitos. “Há pessoas que sustentam que não querem consumir transgênicos e isso cria uma oportunidade a produtores, que podem decidir ou determinar quando é mais vantajoso plantar as variedades convencionais.”
Brondani conta que a tecnologia permitiu a introdução de uma característica de outras espécies em plantas, mas sempre levando em consideração a segurança alimentar. Ela cita que mesmo um gene de bactéria resistente a determinado defensivo ou de outras plantas e que foram incluídas no DNA de uma semente, por exemplo, eram de organismos próximos à soja ou ao milho.
Por outro lado, a diretora-executiva do CIB alerta para interesses econômicos na criação de mitos sobre os transgênicos. Em parte, o desenvolvimento de uma semente transgênica demanda altos investimentos em pesquisa, o que eleva o custo ao produtor e críticas ao pagamento de royalties por esse serviço. “Também existe uma questão política de países importadores, que usam essa questão como uma forma de negociação.”
Mesmo assim, ela lembra que houve redução de um terço nas aplicações de defensivos em soja e algodão. Em 20 anos, deixaram de ser usados no campo brasileiro 839 mil toneladas (t) de agroquímicos, 363 mil t de princípios ativos distintos e 77 milhões de litros de combustíveis. Isso equivale a deixar de emitir 26,5 milhões de t de gás carbônico na atmosfera. “Em muitas situações houve ganhos. Deixamos de usar vários outros herbicidas na soja para usar o glifosato, que se degrada mais facilmente do que os que se usava antes”, diz o pesquisador Alexandre Nepomuceno, gestor do Portfólio de Projetos de Engenharia Genética da Embrapa. “Não tinha como ficarmos de fora”, completa.
Do ponto de vista econômico, a biotecnologia representou uma injeção adicional de R$ 45,3 bilhões na economia do Brasil e um aumento de R$ 731 milhões em arrecadação de impostos. Mas, para Brondani, é importante ressaltar que os transgênicos transformaram o trabalho no campo. “Era comum que a atividade fosse considerada difícil e sacrificante e, a partir do emprego dessa e de outras tecnologias, tornouse mais atraente e recompensadora.”
Uso de transgênicos na agricultura nacional completa 20 anos, chega a quase 90% de participação na produção de commodities e ainda demanda trabalho de pesquisadores na luta contra discriminação
Também existe uma questão política de países importadores, que usam esse tema como uma forma de negociação”