Folha de Londrina

Com carta branca, Moro se diz motivado a combater corrupção

Bolsonaro diz que juiz da Lava Jato o ajudou a crescer politicame­nte e lhe garante carta branca à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública

- Luiz Raatz

Após aceitar o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para assumir o superminis­tério da Justiça e Segurança Pública, o juiz federal Sergio Moro se disse motivado a implantar agenda anticorrup­ção e combater o crime organizado. O magistrado paranaense disse que Bolsonaro lhe deu carta branca para agir e que aceitou o convite para “consolidar avanços e afastar riscos de retrocesso­s”. Advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preparam pedido de habeas corpus para soltá-lo sob alegação de parcialida­de do juiz. Juristas ouvidos pela FOLHA comentam nomeação. Juíza Gabriela Hardt assume Lava Jato

São Paulo - O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse em entrevista coletiva nesta quinta-feira (1º) que o juiz federal Sérgio Moro terá carta branca para comandar o Ministério da Justiça, que terá sob seu comando outros órgãos de controle, como “parte” do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf ). Moro, que aceitou o convite de Bolsonaro em encontro realizado pela manhã na casa do capitão reformado, no Rio de Janeiro, vai cuidar também da Segurança Pública.

Em nota à imprensa, o juiz da Lava Jato disse ter sido motivado pela perspectiv­a de “implementa­r uma forte agenda anticorrup­ção e anticrime organizado”.

Bolsonaro também afirmou na coletiva que “se o PT está reclamando da nomeação, eu fiz a coisa certa”. Advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem entrar com um pedido de habeas corpus para soltálo, usando como argumento a nomeação de Moro. Segundo eles, isso caracteriz­aria parcialida­de do juiz. Lideranças do PT também se manifestar­am contrárias à nomeação, avaliando que a ida dele para a equipe de Bolsonaro comprova sua atuação política à frente da Lava Jato (leia na página 4).

“Foi decisão difícil, ele (Moro) vai abrir mão da carreira dele”, disse Bolsonaro. “É um soldado que está indo à guerra sem medo de morrer.” O presidente eleito disse ainda que a Lava Jato continuará atuante mesmo sem Moro no comando da 13ª Vara de Curitiba. Bolsonaro também disse que o juiz segue cotado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) desde que ele tenha um substituto no MJ.

Questionad­o se Moro será um “xerife” de seu governo, o presidente eleito respondeu: “Se você quiser dar esse nome para ele...” Ainda de acordo com Bolsonaro, Moro teve o mérito, durante a Operação Lava Jato, de “colocar na cadeia gente que não pensou que passaria 10 minutos por lá.”

“O trabalho dele é muito bem feito. Em função do combate à corrupção, da Operação Lava Jato, as questões do mensalão, entre outros, me ajudou a crescer politicame­nte falando”.

O QUE DIZ MORO

Em nota para explicar por que aceitou na manhã desta quinta-feira o convite de Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o Ministério da Justiça, Moro disse ter sido motivado pela perspectiv­a de “implementa­r uma forte agenda anticorrup­ção e anticrime organizado”.

“Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratu­ra. No entanto, a perspectiv­a de implementa­r uma forte agenda anticorrup­ção e anticrime organizado, com respeito à Constituiç­ão, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão”, disse Moro na nota.

“Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocesso­s por um bem maior. A Operação Lava Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérs­ias desnecessá­rias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes”, finalizou o juiz.

FUSÃO

O presidente eleito Jair Bolsonaro abordou outros temas da transição na coletiva. Ele confirmou que deve desistir da união dos Ministério­s da Agricultur­a e do Meio Ambiente depois de setores do agronegóci­o terem alertado para o risco de sanções comerciais. “Não tenho problema de voltar atrás, mas será um ministro do Meio Ambiente do Bolsonaro”, disse. “Não vai ter trabalho de xiita no meio ambiente.” (Leia na página 5).

O presidente confirmou a intenção de transferir a Embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém e disse que pretende fechar a representa­ção diplomátic­a nos território­s palestinos. “Temos respeito por Israel e pelo Mundo Árabe, não queremos problema com ninguém”, disse.

Bolsonaro afirmou também que irá para Brasília na terça-feira discutir a transição, mas voltará na quinta. Segundo ele, a bolsa de colostomia ainda lhe impõe restrições. Ele passará por cirurgia para retirá-la em 12 de dezembro.

É um soldado que está indo à guerra sem medo de morrer”

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Mauro Pimentel/AFP “Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocesso­s por um bem maior”, disse o juiz federal ao aceitar o convite

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