ESTUDO
Estudo da Proteste mostra que, em dois anos, tarifas de saneamento no País subiram quase três vezes mais do que a inflação
Tarifas de saneamento subiram quase três vezes mais do que a inflação
Estudo realizado pela Proteste, associação de consumidores, comparando tarifas de água e esgoto de companhias de 19 Estados aponta que o preço teve um acréscimo três vezes maior do que a inflação em dois anos. De acordo com a pesquisa, a Sanepar apresentou o maior aumento do valor da tarifa mínima no período.
Foram comparadas 25 tarifas de 23 companhias localizadas em 19 dos 26 Estados, além do Distrito Federal. A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), do Rio de Janeiro, cobra o encargo mais alto de consumo a partir de 30m³, enquanto outras, como a Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas), só o exigem a partir dos 150m³ consumidos.
Entre a menor e a maior tarifa de esgoto, a discrepância pode chegar a quase 4.000% a mais para o consumidor. Já para o serviço de distribuição de água, a diferença entre esses índices, por m³, é de 3.313%. Considerando apenas as 23 companhias do teste, o aumento na água entre janeiro de 2016 e agosto de 2018, foi de 27%, contra 25% da taxa de esgoto. Ao comparar, porém, a inflação de ambas as tarifas, água e esgoto, do próprio IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), foi constatado um acréscimo de 34%, no geral. Ou seja, três vezes a inflação total de 11% no período.
De acordo com o estudo, o maior aumento, de 126%, foi visto na Sanepar (PR), seguido pelos 107% da Embasa (BA), ambos na menor faixa de consumo, mostrando, ainda, que as residências com uso reduzido de água sofreram mais com a inflação da taxa.
“Em janeiro de 2016 a água (Sanepar) custava R$ 30,54 / 10 m3, ou seja, R$ 3,054 / m3. Em agosto de 2018 a água custava R$ 34,58 / 5 m3, ou seja, R$ 6,916 / m3. Um aumento de 126%. No caso da Sanepar a comparação entre 2016 e 2018 é um pouco mais difícil pois houve mudança nas faixas de consumo”, afirmou Rafael de Castro Bonfim, analista de mercado da Proteste.
Para a realização do estudo, a Proteste utilizou como base o consumo de 24 metros cúbicos de água por mês. Com este parâmetro, o consumidor paranaense paga fatura de R$ 222,91, uma das mais baratas. Na outra ponta, a tarifa mais alta pelo mesmo volume é da companhia alagoana com R$ 374,42.
Em 2017, a Sanepar alterou as faixas de consumo, reduzindo a tarifa mínima de 10 metros cúbicos para cinco e criando seis faixas. Na época o reajuste foi de 12,8% na maioria das faixas. A faixa até 5 m3 até tiveram redução (2,5%). Em maio de 2018, o reajuste foi de 5,12%. “O aumento médio entre 2017 e 2018, ficou em 18,6%, acima dos 9,6% da inflação. A conta pesou mais para quem se enquadra na faixa de 1115m3 onde o acréscimo foi que quase 600%”, explicou Marcos Rambalducci, economista da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e colunista da FOLHA.
Ele ressaltou que a conta de água é mais impactante para as pessoas de baixa renda, pois o rico e o pobre consomem a mesma quantidade de água. Mas o valor pago tem impacto diferente no orçamento. “Uma pessoa que ganha um salário mínimo do Paraná e consome 24 m3 (R$ 222,91) vai comprometer 1/5 do salário. O mesmo consumo para uma pessoa que ganha R$ 10 mil terá um impacto de 2,5% no seu salário”, afirmou Rambalducci.
FECHANDO A TORNEIRA
De acordo com Rafael Bonfim, o objetivo do estudo é chamar a atenção da população dos valores pagos e mostrar que com pequenas atitudes no dia a dia é possível reduzir o peso da fatura no orçamento familiar. “Com uma redução de 10% no consumo de água, o cliente da Sanepar pode ter uma redução de 12% na conta”, explicou o analista da Proteste.
Assustados com o valor da conta de água, uma família da zona sul de Londrina, que prefere não se identificar, decidiu fazer um poço artesiano na propriedade para diminuir o consumo de água da Sanepar. “A conta ultrapassava os R$ 600 por mês. Agora, com o poço, caiu para pouco mais de R$ 100”, contaram. A família manteve algumas torneiras instaladas na rede da companhia estadual.
A conta era tão alta que eles pensaram que poderia haver vazamentos na tubulação. “Por mais que conseguíssemos economizar a conta continuava alta. A gente reaproveita água da chuva, toma banho rápido. Quando dá banho nos cachorros desligamentos a água enquanto estamos ensaboando. Tudo para economizar. Agora é mais por uso consciente do que para redução do custo”, comentaram. Segundo eles, com a economia na conta de água já foi possível pagar o investimento no poço artesiano.
O aumento médio entre 2017 e 2018 ficou em 18,6%, acima dos 9,6% da inflação”