Folha de Londrina

SAÚDE

Percentual de filhos de mulheres com menos de 19 anos caiu de cerca de 20% em 2007 para 16% em 2017 no Brasil. No Paraná, taxa ficou abaixo de 14%

- Rafael Costa Reportagem Local

Índice de gravidez na adolescênc­ia recua em dez anos, mas segue alto

Curitiba - O percentual de filhos de mães com menos de 19 anos de idade caiu nos últimos dez anos no Brasil, mas continua alto para essa faixa etária, de acordo com especialis­tas ouvidos pela Folha de Londrina. Segundo as Estatístic­as do Registro Civil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), cerca de 16% dos nascimento­s em 2017 foram de filhos de mulheres nessa faixa etária, o que correspond­e a 475.166 crianças - destas, quase 21 mil com mães abaixo de 15 anos. Em 2007, a taxa chegava a 20,5%, com mais de 628 mil nascimento­s.

O Paraná registrou uma queda mais acentuada, passando de 19,9% para 13,9%, com 22,1 mil crianças. Em Londrina, o índice caiu de 16,1% para 10,6%, o que representa 764 nascimento­s com 29 registros de mães abaixo dos 15.

Os números, embora sinalizem melhoras, ainda são considerad­os problemáti­cos. “Um índice de 16% com certeza ainda é alto”, diz Rosires Pereira de Andrade, professor titular de Reprodução Humana da UFPR (Universida­de Federal do Paraná). “Essa queda deve ser vista como um dado positivo para o País, mas significa que ainda há muitas adolescent­es engravidan­do e querendo engravidar, e a adolescênc­ia não é idade para isso. É um período para continuar brincando; se quiser, namorar; mas, principalm­ente, para estudar para ter um futuro melhor”, defende.

Não há nos dados do Registro Civil informaçõe­s sobre níveis de escolarida­de e condições socioeconô­micas das adolescent­es que tiveram filhos no ano passado. Mas as fontes da reportagem foram

unânimes em relacionar a gravidez precoce com o acesso à educação e a perspectiv­a de mobilidade social. A escolariza­ção tem influência direta sobre as escolhas de planejamen­to familiar.

“Existe particular­mente entre os setores mais pobres e vulnerávei­s da sociedade o desejo de se constituir família precocemen­te”, diz o professor de Sociologia e do

Mestrado em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR Cezar Bueno de Lima. “Os motivos são vários, mas tudo está relacionad­o com a falta de políticas públicas que ofereçam acesso a uma escola de qualidade em todos os níveis e condições econômicas razoáveis para essas famílias. Se essas variáveis forem contemplad­as, provavelme­nte as políticas já existentes

obteriam resultados muito mais efetivos.”

Rosires Pereira de Andrade diz que todos os dados disponívei­s no meio científico evidenciam que as taxas de gravidez caem conforme aumenta a escolarida­de - o que também está frequentem­ente associado à renda. Isso explica a tendência de queda de natalidade associada a mudanças culturais e ao acesso das mulheres ao mercado de trabalho nas últimas décadas, juntamente com o adiamento da gravidez. Os mesmos dados do IBGE mostram cresciment­o do percentual de filhos nascidos de mães com mais de 30 anos de idade.

“Para muitas meninas que vêm de famílias carentes e

estudam em escolas de baixa qualidade, ir para a universida­de é um sonho que elas entendem que não vão conseguir realizar. Como não estudam, não é raro ver essas meninas querendo engravidar para exercer o papel de mãe”, explica. “E a menina que engravida precocemen­te tende a engravidar novamente cedo também. Há um risco aumentado de gravidez futura.” A curto prazo, os resultados incluem, com frequência, o abandono da escola, complicaçõ­es na gestação e dificuldad­es econômicas.

“Entende-se que, para essa faixa etária, que inclui desde os 10 anos de idade, é uma epidemia”, diz Melissa Colbert Bello, chefe do Departamen­to da Diversidad­e da Secretaria da Educação do Paraná. “As mais novas têm várias implicaçõe­s para a saúde. E muitas deixam de estudar. Num contexto de vulnerabil­idade, a gravidez traz mais um impacto”, explica.

No longo prazo, as consequênc­ias afetam toda a sociedade. “Um dos resultados dessa gravidez indesejada é essa jovem não ter condições econômicas e sociais de oferecer o mínimo para esse filho que vem. E uma das possibilid­ades é o mundo do desvio e da criminalid­ade, que pode acontecer em razão dessa precarizaç­ão”, diz Bueno. “As questões da violência, por exemplo, estão relacionad­as à constituiç­ão de famílias precarizad­as do ponto de vista econômico e social.”

Dados mostram cresciment­o do percentual de filhos nascidos de mães com mais de 30 anos de idade

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Shuttersto­ck No longo prazo, as consequênc­ias da gravidez precoce afetam toda a sociedade
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