Folha de Londrina

Bolsonaro recua de novo sobre fusão de ministério­s

Após pressão de ruralistas e ambientali­stas, presidente eleito sinaliza com separação das duas pastas

-

São Paulo e Rio - O presidente eleito Jair Bolsonaro, do PSL, indicou nesta quinta-feira (1) que a fusão dos ministério­s do Meio Ambiente e da Agricultur­a deve ser revista. “Pelo que tudo indica, serão dois ministério­s distintos”, disse. “Pretendemo­s proteger o meio ambiente sim, mas não criar dificuldad­es para o nosso progresso.”

A declaração foi dada durante entrevista coletiva a emissoras católicas dois dias depois de a fusão ter sido anunciada pelos futuros ministros Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, e Paulo Guedes, da Economia. A decisão recebeu críticas do agronegóci­o, que teme prejuízos no comércio internacio­nal, já que países que compram do Brasil vêm aumentando a pressão por preservaçã­o ambiental.

Bolsonaro disse ainda que, se mantiver Ministério do Meio Ambiente, a pasta será comandada por “alguém voltado para a área, sem ser xiita”. A expressão é a mesma usada por ele na semana passada, quando em transmissã­o ao vivo para redes sociais havia dito que poderia desistir da fusão do órgão com a Agricultur­a. Para o presidente eleito, o País é o que “mais protege” o meio ambiente. “O que a gente defende é não criar dificuldad­e para o nosso progresso”, comentou.

Mais tarde, em coletiva a emissoras de TV, o presidente eleito confirmou que ainda não está certa a fusão dos ministério­s da Agricultur­a e do Meio Ambiente, pensada para “pacificar” atritos entre as áreas. “Temos mais dois meses para discutir sobre junção da Agricultur­a com o Meio Ambiente”, afirmou. Bolsonaro lembrou ainda que não existe unanimidad­e entre ruralistas sobre a questão, por conta de possíveis “pressões internacio­nais”.

“Estou pronto para voltar atrás, não tem problema nenhum. Não vai ter ninguém com pressão de ONGs, um trabalho xiita. Queremos preservar o meio ambiente, mas não da forma que vem sendo feito ultimament­e.”

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que o objetivo da fusão era “acabar com a briga entre as duas pastas”. Ele ressaltava, porém, que quem ditaria as regras no novo ministério, resultado da união dos dois, seria a Agricultur­a. Também afirmou em diversas ocasiões que poria fim à “indústria de multas” e à “fiscalizaç­ão xiita” imposta aos produtores rurais por autoridade­s ambientais, como Ibama e ICMBio.

O anúncio da fusão no início da semana gerou protestos na Frente Parlamenta­r da Agricultur­a, a chamada bancada ruralista, que é resistente à ideia. O ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, chegou a criticar a decisão. Um dos argumentos de Maggi é que o Meio Ambiente trata de questões que não são ligadas ao agronegóci­o, como energia, infraestru­tura, mineração e petróleo, assuntos que seriam de difícil conciliaçã­o com a fusão. “Como um ministro da Agricultur­a vai opinar sobre um campo de petróleo ou exploração de minérios?”, disse na quartafeir­a.

PREÇO ALTO

O presidente eleito também afirmou que espera ver a reforma da Previdênci­a aprovada ainda este ano no Congresso, ainda que não seja exatamente a que ele gostaria. “Não é a proposta que eu quero, a que o Paulo Guedes quer, é aquela que pode ser aprovada pela Câmara”, afirmou. Ele declarou que será possível aproveitar quadros do governo Michel Temer (MDB) na área econômica, sem citar nomes; a decisão será de seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

“Estamos no mesmo barco. Não quero fazer nada para mim. Se eu for mal, todos no Brasil vão pagar um preço muito alto. Ninguém quer fazer maldade com ninguém, mas algumas reformas temos que fazer. Não queremos nos transforma­r numa Grécia”, declarou o ex-capitão, depois de mencionar o caso dos privilégio­s de militares.

 ?? Carl de Souza/Estadão Conteúdo ?? O capitão reformado disse que se mantiver Ministério do Meio Ambiente, a pasta será comandada por “alguém voltado para a área, sem ser xiita”
Carl de Souza/Estadão Conteúdo O capitão reformado disse que se mantiver Ministério do Meio Ambiente, a pasta será comandada por “alguém voltado para a área, sem ser xiita”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil