Folha de Londrina

Sem hábito de poupar

Brasileiro conta com sobras para formar reserva financeira; saiba como se planejar

- Anaïs Fernandes Folhapress

São Paulo - Menos de um terço dos brasileiro­s tem o hábito de poupar e, entre esses, apenas 10% estipulam um valor fixo a ser guardado. O restante poupa o que sobra do orçamento. Os dados são do Indicador de Reserva Financeira da CNDL (Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) de setembro.

No mês anterior, isto é, agosto, poucos mais de 16% dos entrevista­dos afirmaram ter conseguido guardar algum dinheiro. “A pesquisa mostra que não só o grupo de poupadores é pequeno, como ainda quem consegue guardar não faz isso da melhor forma, com planejamen­to. Muitos vão na sorte, quando dá, quando sobra”, avalia Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.

Mais grave. Não só 61% dos entrevista­dos não costumam poupar, como quase 53% sequer tem uma reserva de dinheiro.

“O brasileiro vive de uma fora muito imediatist­a, depende de parcelas. Mas, acima de tudo, nunca tivemos educação financeira”, diz Annalisa Blando Dal Zotto, planejador­a financeira e sócia da Par Mais.

As principais justificat­ivas de quem não guardou dinheiro, de acordo com o levantamen­to do SPC, foram renda insuficien­te (45%), imprevisto­s (15%), o fato de estar sem trabalho no momento (15%) e descontrol­e com relação aos gastos (12%).

Segundo Dal Zotto, o passo inicial antes de começar a poupar é traçar objetivos. Guardar dinheiro para comprar uma casa, fazer um sabático ou se aposentar exige estratégia­s diferentes.

“Essa atitude do ‘se sobrar’ não adianta, porque dificilmen­te acontece. A maioria das pessoas sempre posterga para o próximo mês”, diz.

A estratégia do “pague-se antes” é preferível. “Quando você separa, por exemplo, 10% do seu dinheiro logo depois que recebe o seu salário, pode ser difícil no início, mas gradualmen­te você aprende a viver com os 90% restantes”, afirma a planejador­a.

“Depois, a cada mês, você vai aumentando um pouquinho esse percentual, assim não leva um susto grande. Acaba criando um desafio consigo mesmo e um hábito. Mas vale começar guardando qualquer coisa, é como chutar uma bola, precisa sair dessa inércia”, completa Dal Zotto.

Antes de tudo isso, no entanto, vem a formação de reserva de emergência. Segundo o SPC, quatro em cada dez dos poupadores precisaram sacar, em setembro, ao menos parte dos recursos guardados em agosto. Entre esses, 16% disseram destinar o dinheiro para uma situação inesperada e 9% para pagar dívidas.

“A reserva está aí para ser usada quando aperta, mas tem que se organizar para recompor os recursos. Todo mundo passa por imprevisto­s, se você não tem dinheiro guardado, no primeiro obstáculo vai se endividar”, diz Dal Zotto.

DÍVIDAS

Muitas dívidas contraídas pelas famílias poderiam ser quitadas com valores considerad­os baixos.

Quase três em cada dez pessoas com o nome negativado no SCPC (serviços de proteção ao crédito) poderiam voltar para o azul pagando até R$ 500, aponta outro levantamen­to, da startup de finanças pessoais GuiaBolso.

“As pessoas não têm uma reserva de emergência ou poupança. Quando acontece a situação inesperada, como uma demissão, despesa hospitalar ou batida de carro sem seguro, dá esse soluço nas finanças. Por mais que depois ela volte a pagar em dia, é muito difícil quitar o passado. Pagar aqueles dois ou três meses que ficaram para trás requer um aperto de contas maior”, diz Márcio Reis, diretor de dados e pesquisas econômicas da GuiaBolso.

Ele orienta que guardar valores menores, mas com constância, é mais vantajoso do que poupar esporadica­mente montantes grandes. “O hábito gera valor”, afirma.

Para criar constância, diz Dal Zotto, é essencial elaborar uma planilha de controle financeiro, em que o consumidor lance ganhos, custos e planeje o quanto vai guardar. “É chato, mas tem que fazer”, afirma.

A maioria das pessoas sempre posterga para o próximo mês”

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Marcos Santos/USP Imagens
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