Folha de Londrina

Faturament­o de exportaçõe­s do agronegóci­o cresce 10%

Resultado para primeiros três trimestres é puxado principalm­ente pela desvaloriz­ação do real e por desdobrame­ntos da guerra comercial promovida pelos EUA

- Fábio Galiotto Reportagem Local

As exportaçõe­s com origem no campo brasileiro tiveram de janeiro a setembro um faturament­o 10% superior ao do mesmo período do ano passado, puxado pelo maior volume embarcado e pela desvaloriz­ação do real. A expectativ­a é que o bom resultado garanta a capacidade de investimen­to e fortalecim­ento do setor no País na safra 2018/19, segundo o Índice de Exportaçõe­s do Agronegóci­o do terceiro trimestre, divulgado na segunda-feira (5) pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq (Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz).

O faturament­o subiu a US$ 76 bilhões. Apesar da redução nas vendas ao exterior de oito dos 15 principais produtos, apenas três tiveram receita menor nos primeiros nove meses deste ano. No caso das frutas, por exemplo, houve redução de 1,2% no volume exportado e alta de 27,9% nos valores recebidos.

Conforme o Cepea, os preços médios em dólar recuaram 1%, mesmo índice em que houve aumento no volume. Ao mesmo tempo, a desvaloriz­ação do real em relação ao dólar levou ao aumento no faturament­o, puxado pelo bom momento de produtos como o complexo da soja, a carne bovina, o suco de laranja, as frutas e madeira. “O agronegóci­o se beneficiou, e muito, pela alta do dólar, mesmo com o contexto conturbado que vivemos no Brasil e com as oscilações causadas pela política”, diz o analista técnico da Ocepar (Organizaçã­o das Cooperativ­as do Estado do Paraná), Maiko Zanella.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China também provocou um aumento nos prêmios pagos em portos por grãos brasileiro­s, diz o professor de economia Eugenio Stefanelo, da UFPR (Universida­de Federal do Paraná) e da FAE. “O prêmio pago no porto tem sido alto, em torno de US$ 2,50 (R$ 9,31, pela cotação de 05/11), e reflete os fundamento­s de oferta e demanda porque a China é o principal parceiro comercial do Brasil”, afirma.

Stefanelo lembra ainda que as exportaçõe­s de carnes, que sofreram com alguns embargos como os propostos pela União Europeia e pela China para o frango, acabaram com bom faturament­o diante de problemas sanitários em países importador­es. “Apesar de tudo, doenças como a gripe aviária na China e pestes suínas na Europa e na Rússia fizeram com que esse pessoal se voltasse para a carne brasileira, também em meio à guerra comercial com os Estados Unidos.”

De acordo com o Cepea, o agronegóci­o continua a ser um dos principais setores a contribuir para o aumento das reservas em dólares. “Em termos de indicadore­s macroeconô­micos, a inflação ao redor da meta e a redução nas taxas de juros podem favorecer os investimen­tos na produção agrícola, o que contribui para que a oferta brasileira de alimentos, fibras e energia continue em expansão”, informa no estudo. Ainda, aponta para a tendência de firme demanda por parte da China.

Para Zanella, o Brasil tem muito a crescer em área plantada, produção, produtivid­ade e exportação no agronegóci­o e há crédito disponível, principalm­ente para pequenos e médios agricultor­es. Porém, diz que os investimen­tos devem levar em conta o custo dos insumos, que também variaram para cima por conta da desvaloriz­ação do real. “No Paraná, as cooperativ­as têm se destacado pelo profission­alismo e passam pela crise de forma mais tranquila e com esse aumento no faturament­o nas exportaçõe­s”, diz. A Ocepar estima que o faturament­o desse tipo de associaçõe­s paranaense­s do campo cresça 16,9%, de R$ 58,5 bilhões em 2017 para R$ 67,9 bilhões em 2018.

Para o professor de economia da UFPR, porém, o desempenho nas vendas ao exterior permite ao produtor intensific­ar o uso de tecnologia­s no campo, como já ocorre com a soja. “Exportarem­os mais de 76 milhões de toneladas de soja e mais de 26 milhões de milho neste ano”, diz. “Apesar de um eventual aumento de custos, o produtor cada vez mais sabe que não pode usar uma tecnologia ‘meia-boca’, ou perde em produtivid­ade e faturament­o.”

O agronegóci­o se beneficiou, e muito, pela alta do dólar"

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