Folha de Londrina

Tragédia em Mariana fica sem solução

Três anos após rompimento da barragem da Samarco, não houve punição no âmbito administra­tivo

- José Marques Folhapress

São Paulo - Três anos depois do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), investigaç­ão interna do governo mineiro sobre eventuais responsabi­lidades de funcionári­os públicos ao revalidare­m a licença de operação do complexo de barragens da empresa, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, não tem previsão de encerramen­to. Há indícios de que essa renovação foi aprovada sem as exigências necessária­s serem cumpridas. A gestão mineira também abriu uma apuração para tratar de problemas na fiscalizaç­ão, que foi arquivada apesar de apontar indícios de “comportame­nto omissivo” por parte dos responsáve­is.

Os dois procedimen­tos, chamados sindicânci­as administra­tivas investigat­órias, foram abertos pela CGE (Controlado­ria-Geral do Estado) pouco após a ruptura, que aconteceu em 5 de novembro de 2015, matou 19 pessoas e deixou um rastro de destruição que chegou ao litoral do Espírito Santo. Elas foram motivadas por questionam­entos dos Ministério­s Públicos sobre falhas das autoridade­s em dar licenças e fiscalizar o reservatór­io. À época da renovação do licenciame­nto do complexo onde fica a barragem de Fundão, no fim de 2013, a obra irregular que provocou a ruptura já estava sendo feita.

O governo sabia da construção. Em 2016, a Folha de S.Paulo revelou que a intervençã­o que vinha sendo feita na barragem foi vistoriada ao menos três vezes antes da tragédia, antes e depois da renovação do licenciame­nto. Além de a licença ter sido renovada, não foram aplicadas punições à Samarco. A CGE afirma que a sindicânci­a sobre o licenciame­nto “se encontra em fase de instrução”. “Estão sendo feitas diversas diligência­s e se trata de um trabalho bastante minucioso, por isso demanda mais tempo. Ainda não há data para conclusão da sindicânci­a.” A investigaç­ão está sob sigilo.

Na outra sindicânci­a, arquivada, a corregedor­ia diz que fiscais e gerentes da Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente, ligada à Secretaria de Meio Ambiente) provavelme­nte sabiam que havia pendências da Samarco em relação à segurança das estruturas, mas não cobraram providênci­as. O órgão pediu que fossem abertos processos administra­tivos disciplina­res contra três pessoas. Porém, após serem juntados pareceres da Advocacia-Geral do Estado, o governo chegou à conclusão de que a responsabi­lidade pela fiscalizaç­ão de segurança é do DNPM (Departamen­to Nacional de Produção Mineral), órgão federal.

O DNPM e a CGU (Controlado­ria-Geral da União) foram questionad­os pela reportagem se chegaram a abrir algum procedimen­to para apurar problemas na fiscalizaç­ão da barragem de Mariana. Segundo a CGU, a responsabi­lidade por esse tipo de apuração é do próprio DNPM. O departamen­to não se manifestou, mas em 2016 disse que considerav­a a Feam como responsáve­l pela fiscalizaç­ão.

A Samarco diz em nota que “reitera que sempre cumpriu toda a legislação relativa ao licenciame­nto ambiental e à operação de barragens. A empresa reforça que todas as suas barragens possuíam Licenças de Operação concedidas pelos órgãos competente­s”. Além de um acordo civil entre governos, Promotoria e mineradora­s, há uma ação penal em que a cúpula da Samarco, além de membros da Vale e BHP respondem por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar) e crime ambiental. As mineradora­s também são acusadas de crimes ambientais. Todos negam ter cometido qualquer irregulari­dade. A ação penal corre em vara federal de Ponte Nova (MG).

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Warley Soares/AM Press & Images/Estadão Conteúdo Rastro de destruição persiste em Mariana três anos depois da maior tragédia ambiental da história do País

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