Folha de Londrina

‘O que era sonho virou pesadelo'

- (I.F.)

Rosimeire da Silva Lima parou de trabalhar devido a um problema de tendinite na mão. Hoje, ela recebe Bolsa Família e reside em um apartament­o do programa Minha Casa, Minha Vida no Vista Bela, na zona norte. Nesta semana Lima compareceu à Justiça Federal para uma audiência de acordo com a Caixa Econômica Federal. Ela se queixa de parafusos que não param na janela, cano estourado no banheiro e piso com rachaduras. “Quando chove é um problema. Teve uma vez que chegamos em casa e estava alagada a sala”, contou. “Quando chove tiramos as coisas de perto da janela para não molhar.”

Segundo Rosimeire, todos os chuveiros instalados na casa dela queimaram. “A gente não tem chuveiro elétrico mais, só usamos solar. Quando esfria a gente esquenta água no gás para tomar banho”, contou.

Odete Aparecida Lima recebeu a casa há sete anos e também enfrenta problemas. “Tem rachaduras na cozinha e nos quartos, mau cheiro no banheiro e goteira no forro”, relatou. Ela procurou assistênci­a jurídica no ano passado e participou da audiência nesta semana.

A casa de Rosana Moreira também apresentou defeitos. Na segunda-feira (6), ela apresentou seus documentos à Justiça para buscar conciliaçã­o com a Caixa. “Como a casa era para gente simples, para pobre, eu creio que eles pensaram que como pobre nunca teve uma casinha, qualquer coisa iria ficar bom. Aí que eles erraram”, lamentou. “A minha casa chove dentro. Quando está chovendo, se eu estiver dormindo, eu já acordo sabendo, porque escorre água do lado da minha cama”, explicou.

Moreira relatou o constrangi­mento que é receber visitas, porque a descarga não funciona. “Xixi, faz normal, mas se fizer outra coisa tem de usar balde. Se vai uma visita na sua casa você fica até constrangi­do, tem de perguntar para a pessoa o que ela vai fazer para não ficar com vergonha depois”, disse.

Na casa dela também há problemas elétricos que resultaram em perda de equipament­os eletrônico­s. “A chave de energia cai toda hora, tem tomada que não funciona”, afirmou. Segundo Moreira, o terreno é desnivelad­o. “Onde tem minha máquina de lavar, temos de segurá-la quando ela bate, senão ela anda. Ficou um morro”, reclamou.

Além desses vícios, na residência não há privacidad­e, porque a casa tem paredes compartilh­adas com os vizinhos. “É uma parede para duas casas. Se seu vizinho estiver ouvindo rádio alto você ouve de casa. Eu achava que seria cada casa com sua parede, não uma parede só dividindo”, esclareceu.

“Meu marido teve de fazer uma engenhoca com os canos para que quando chovesse não entrasse água na cozinha. As paredes estão embolorada­s. Minha casa já encheu de água de esgoto duas vezes. Perdi móveis, já tive muito prejuízo. O que era sonho virou pesadelo”, lamentou. Para Moreira, resta esperar que o acordo seja feito e que os reparos aconteçam. “Eles terão de me ressarcir porque eu não ficarei no prejuízo. A gente já é pobre, trabalha, não tem condições e ainda fazem isso”, declarou.

Já Jamila Regina Corrêa teve um acordo firmado com a Caixa no ano passado. No apartament­o dela há infiltraçõ­es e a conciliaçã­o determinou que a empresa fizesse os reparos. Mas, mesmo depois de sucessivos consertos, a infiltraçã­o persiste toda vez que chove. “Eles já vieram umas cinco vezes mexer na parede da sala e não resolve. Já vai para cinco meses que eles ficaram de voltar e não voltaram. O que ficou acordado na última audiência é que o problema seria resolvido”, afirmou Corrêa. A defesa de Corrêa afirmou que irá promover a execução do acordo para que ela tenha o resultado esperado.

Por meio de nota, a Caixa alegou que “a responsabi­lidade civil é das construtor­as, no entanto, cada caso é analisado pela engenharia para subsidiar a área jurídica. Por meio do Programa de Olho na Qualidade do Minha Casa Minha Vida, se for constatado vício construtiv­o, a Caixa estabelece prazo para que a construtor­a faça contato com o proprietár­io do imóvel e acorde um prazo para o reparo necessário. Caso a construtor­a não cumpra os prazos definidos, a empresa, proprietár­ios e responsáve­l técnico são impedidos de operar com a Caixa, inclusive no programa Minha Casa Minha Vida, até que o problema seja solucionad­o”.

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Ricardo Chicarelli “Como a casa era para pobre, pensaram que qualquer coisa iria ficar bom”, critica Rosana Moreira

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