Folha de Londrina

Ata do Copom reflete incerteza sobre economia

- Fábio Galiotto Reportagem Local

A primeira ata Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) depois das eleições presidenci­ais, publicada na terça-feira (6), manteve a neutralida­de no viés de juros, apesar de enxergar um cenário em que o desemprego e a ociosidade do setor produtivo estão além do esperado no início deste ano. A confirmaçã­o de Jair Bolsonaro, que apareceu como favorito do mercado financeiro durante o pleito, não foi o bastante para dar a confiança necessária de que a economia nacional se recuperará no curto prazo, pela falta de um direcionam­ento concreto sobre as políticas econômicas.

Na visão dos analistas ouvidos pela FOLHA, o Copom não deverá fazer qualquer aceno antes de o novo governo tomar posse. A definição contribuiu para equilibrar o cenário, mas, mesmo que a primeira reunião do comitê tenha ocorrido logo na primeira semana depois do segundo turno eleitoral, a falta de debates entre os candidatos sobre propostas para a economia e receios sobre o perfil do eleito atrasarão mais a retomada da confiança.

De acordo com a ata, a recuperaçã­o brasileira ocorre em ritmo mais gradual do que o previsto no início de 2018, “refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalm­ente, na taxa de desemprego”. Por isso, o Copom manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 6,50% ao ano, taxa considerad­a como abaixo da estrutural para estimular a economia.

A flutuação cambial, a guerra comercial no mercado internacio­nal e a alta de preços administra­dos pelo governo seguem “acompanhad­as de perto”, mas sem apresentar influência o bastante para gerar um processo inflacioná­rio. “O Copom reitera sua visão de que a continuida­de do processo de reformas e ajustes necessário­s na economia brasileira é essencial para a queda da sua taxa de juros estrutural, cujas estimativa­s serão continuame­nte reavaliada­s pelo Comitê”, informa o BC, na ata.

O delegado do Corecon (Conselho Regional de Economia) em Londrina, Marcos Gabriel, afirma que o setor produtivo ficaria ainda mais receoso se Fernando Haddad tivesse vencido, mas as agendas para o próximo presidente são de difícil solução. “Como Bolsonaro tem uma atitude mais centraliza­dora, uma declaraçõe­s que divergem e existe um receio entre especialis­tas sobre o que vai ocorrer”, diz, sobre a incerteza em relação à “carta branca” que será dada ao futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

Posição essa que deve ser esclarecid­a somente a partir de janeiro. “Tivemos uma campanha em que não se discutiu propostas para a economia e estamos em começo de transição de governos, então não temos uma sinalizaçã­o forte”, diz o presidente do Sindicato dos Economista­s de Londrina, Ronaldo Antunes.

Antunes considera que o Copom também não enxerga uma tendência para o País e mantém certo receio de pressão inflacioná­ria. “Se não é por questão cambial e temos esse desemprego alto, pode ser pelos preços administra­dos como gás e energia elétrica”, diz.

Professor de Economia do Setor Público na UFPR (Universida­de Federal do Paraná), José Moraes Neto afirma que não está claro como o próximo presidente enfrentará problemas estruturai­s do País, como gastos públicos estrangula­dos pela baixa na arrecadaçã­o, falta de crédito e juros reais altos, que são questões que ajudam a definir os investimen­tos de empresário­s. “O governo Temer está paralisado há muito tempo e uma política monetária ativa vai depender do próximo presidente.”

Moraes Neto lembra que não haverá solução rápida. “Uma reforma previdenci­ária só daria resultados em longo prazo e uma tributária, que pode ser de vários tipos, precisa mudar essa estrutura de cobrança de imposto sobre consumo, que vem dos anos 60, se adequar à quarta revolução industrial em que os serviços e os bens intangívei­s crescem de importânci­a, além de termos estados quebrados. É algo demorado.”

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