Ata do Copom reflete incerteza sobre economia
A primeira ata Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) depois das eleições presidenciais, publicada na terça-feira (6), manteve a neutralidade no viés de juros, apesar de enxergar um cenário em que o desemprego e a ociosidade do setor produtivo estão além do esperado no início deste ano. A confirmação de Jair Bolsonaro, que apareceu como favorito do mercado financeiro durante o pleito, não foi o bastante para dar a confiança necessária de que a economia nacional se recuperará no curto prazo, pela falta de um direcionamento concreto sobre as políticas econômicas.
Na visão dos analistas ouvidos pela FOLHA, o Copom não deverá fazer qualquer aceno antes de o novo governo tomar posse. A definição contribuiu para equilibrar o cenário, mas, mesmo que a primeira reunião do comitê tenha ocorrido logo na primeira semana depois do segundo turno eleitoral, a falta de debates entre os candidatos sobre propostas para a economia e receios sobre o perfil do eleito atrasarão mais a retomada da confiança.
De acordo com a ata, a recuperação brasileira ocorre em ritmo mais gradual do que o previsto no início de 2018, “refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego”. Por isso, o Copom manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 6,50% ao ano, taxa considerada como abaixo da estrutural para estimular a economia.
A flutuação cambial, a guerra comercial no mercado internacional e a alta de preços administrados pelo governo seguem “acompanhadas de perto”, mas sem apresentar influência o bastante para gerar um processo inflacionário. “O Copom reitera sua visão de que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da sua taxa de juros estrutural, cujas estimativas serão continuamente reavaliadas pelo Comitê”, informa o BC, na ata.
O delegado do Corecon (Conselho Regional de Economia) em Londrina, Marcos Gabriel, afirma que o setor produtivo ficaria ainda mais receoso se Fernando Haddad tivesse vencido, mas as agendas para o próximo presidente são de difícil solução. “Como Bolsonaro tem uma atitude mais centralizadora, uma declarações que divergem e existe um receio entre especialistas sobre o que vai ocorrer”, diz, sobre a incerteza em relação à “carta branca” que será dada ao futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Posição essa que deve ser esclarecida somente a partir de janeiro. “Tivemos uma campanha em que não se discutiu propostas para a economia e estamos em começo de transição de governos, então não temos uma sinalização forte”, diz o presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes.
Antunes considera que o Copom também não enxerga uma tendência para o País e mantém certo receio de pressão inflacionária. “Se não é por questão cambial e temos esse desemprego alto, pode ser pelos preços administrados como gás e energia elétrica”, diz.
Professor de Economia do Setor Público na UFPR (Universidade Federal do Paraná), José Moraes Neto afirma que não está claro como o próximo presidente enfrentará problemas estruturais do País, como gastos públicos estrangulados pela baixa na arrecadação, falta de crédito e juros reais altos, que são questões que ajudam a definir os investimentos de empresários. “O governo Temer está paralisado há muito tempo e uma política monetária ativa vai depender do próximo presidente.”
Moraes Neto lembra que não haverá solução rápida. “Uma reforma previdenciária só daria resultados em longo prazo e uma tributária, que pode ser de vários tipos, precisa mudar essa estrutura de cobrança de imposto sobre consumo, que vem dos anos 60, se adequar à quarta revolução industrial em que os serviços e os bens intangíveis crescem de importância, além de termos estados quebrados. É algo demorado.”
Analistas dizem que BC evita viés para juros por pressão de expectativas diante do novo governo federal