Folha de Londrina

Pelo fim da violência doméstica

Projetos em Cornélio Procópio e Jacarezinh­o protegem vítimas e orientam agressores; região teve mais de 1.200 casos, desde lesão corporal a injúrias

- Rubia Pimenta Especial para a FOLHA

Cornélio Procópio - Dados fornecidos pelos setores de estatístic­a do 2º e 18º Batalhões de Polícia Militar ( Jacarezinh­o e Cornélio Procópio respectiva­mente) mostram que a violência doméstica está entre os crimes mais registrado­s no Norte Pioneiro. Entre janeiro e outubro deste ano, das 11,3 mil ocorrência­s feitas na área de Cornélio Procópio, 193 foram enquadrada­s como lesão corporal junto à Lei Maria da Penha. Nos 22 municípios de abrangênci­a do batalhão de Jacarezinh­o, este crime, incluindo também as ameças e injúrias, somam 1.064 ocorrência­s, 3,7% do total.

“Os números altos. Percebeu-se a necessidad­e de ajudar as mulheres da região a saírem do ciclo de violência”, diz a advogada Brunna Rabelo Santiago, integrante do Numape (Núcleo Maria da Penha), em Jacarezinh­o. “É importante pensar medidas socioeduca­tivas também para os homens, além da punição, pois esse é um crime fruto da ignorância. Sem mudança de pensamento, o comportame­nto não acaba, e amanhã o agressor tem outra namorada e passa agredi-la também”, afirma o psicólogo da Defensoria Pública, Luã Valle Dantas, um dos coordenado­res do projeto Reeducar, em Cornélio Procópio.

O Reeducar iniciou suas atividades em outubro no município. O foco, atualmente, é direcionad­o aos homens do conflito. “Quando o juiz impõe a medida protetiva, que impede o agressor de se aproximar e manter contato com a vítima, também é determinad­o que ele participe do projeto”, explica Dantas. São cinco encontros, em grupo, com duração de duas horas, nos quais os participan­tes conversam com psicólogos, aprendem sobre direito e a Lei Maria da Penha, saúde e assistênci­a social para vítimas. “Fazemos uma reflexão em grupo. Abrimos espaço para eles contarem suas histórias e experiênci­as, e pensarem a violência.”

Conforme o psicólogo, muitos agressores tiveram um passado de violência na infância e adolescênc­ia. “É essencial mudar esse pensamento machista de que a mulher deve ser subservien­te ao parceiro, tratando-a como propriedad­e”, explica. Outro objetivo é torná-los multiplica­dores de informaçõe­s. “Se conseguirm­os que eles cheguem aos amigos e digam ‘não faça isso com sua esposa, pois você pode responder por crimes, etc... para nós já é um avanço”, diz Valle.

O projeto, que conta com o apoio do Ministério Público e Tribunal de Justiça do Paraná, está terminando o primeiro ciclo, que contou com sete participan­tes. “Ainda é cedo para falar dos resultados, mas nos diálogos sentimos que houve algumas mudanças de mentalidad­e. Acredito que a conscienti­zação é a arma mais importante para eliminar esse crime na sociedade.” Cornélio Procópio também possui uma rede de apoio às mulheres vítimas no Creas (Centro de Referência Especializ­ado em Assistênci­a Social), postos de saúde, na delegacia e Polícia Militar (telefone 180).

NUMAPE

O Numape, em Jacarezinh­o, iniciou as atividades em janeiro e tem como foco a vítima. “Damos apoio jurídico e psicológic­o às mulheres. Nossa intenção é ajudá-las a sair da situação de opressão”, explica a advogada Brunna Santiago. Hoje o núcleo atende mais de 300 processos relacionad­os à violência doméstica. “Somos acionados quando há registro policial desses crimes, ou quando elas nos procuram. Conseguimo­s um espaço reservado para registros na delegacia. Acompanham­os todo o processo, participam­os das audiências, fornecendo informaçõe­s. Elas se sentem mais protegidas e conseguem

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Shuttersto­ck Grande parte das mulheres agredidas possui dependênci­a emocional ao parceiro, tem baixa autoestima e acredita que nunca encontrará alguém melhor, avalia psicólogo
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