Folha de Londrina

A maquiagem usada contra os consumidor­es

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As indústrias estão usando de um artifício legal (mas questionáv­el) para aumentar o lucro na venda de seus produtos. A mágica é simples: elas diminuem a quantidade das embalagens, mas os preços continuam os mesmos. Basta ver o que ocorre no segmento de materiais de limpeza.

O papel higiênico, por exemplo, há mais de 30 anos é comerciali­zado em rolos de 40 metros. Agora, na mesma embalagem e com o mesmo preço, é vendido com 30 metros. Ou seja, o consumidor continua pagando o preço dos 40 metros, mas leva para casa 25% a menos de produto. O sabonete, que sempre esteve no mercado com o peso de 100 gramas, agora está na prateleira com a embalagem mostrando 90 gramas. O preço não diminuiu. O pior é que a estratégia parece estar contaminan­do todos os setores da indústria.

Produtos quantitati­vos antes padronizad­os pelo governo federal, através de portarias do Inmetro, passaram a ter dois pesos e duas medidas. O Brasil abriu mão de uma padronizaç­ão com a criação do Mercosul. Países como Argentina e Uruguai estavam em estágios de modernizaç­ão mais atrasados do que o Brasil. Exemplos: biscoito no Uruguai, 132,7g; na Argentina, 176g; no Brasil, 100g, 200g, 500g, e um quilo. Mesmo assim, o Brasil aceitou o argumento da falta de condições de se adaptarem de imediato às regras.

Com isso, o Brasil cedeu e recuou no modelo de padronizaç­ão, para facilitar a entrada das mercadoria­s produzidas no Mercosul. Um retrocesso: o Brasil que já estava próximo dos padrões do Primeiro Mundo, perto da realidade de países como a Alemanha e os Estados Unidos, colaborou com as mudanças na legislação para que as indústrias pudessem manipular à vontade a quantidade dos seus produtos.

Uma abertura para o lucro fácil, sem o mínimo respeito para com o consumidor. E a indústria não vem demonstran­do qualquer preocupaçã­o em informar ao consumidor sobre tão significat­ivas modificaçõ­es nas quantidade­s dos produtos e nas embalagens, adotadas obviamente com um só objetivo: maquiar o aumento de preço das mercadoria­s colocadas no mercado.

De novo, quem paga é o povo.

MARCELO TRAUTWEIN é servidor público em Londrina

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