Folha de Londrina

Quatro em cada dez mortos no trânsito têm entre 18 e 30 anos

Número de vítimas é maior entre 18 e 30 anos em Londrina, aponta mapeamento da CMTU

- Isabela Fleischman­n Viviani Costa Reportagem Local

ACMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o) divulgou, em último mapeamento, que de janeiro a outubro Londrina teve 75 mortes no trânsito. A maior parte das vítimas (32) tinha entre entre 18 e 30 anos. Outros 27 tinham entre 31 e 59. A morte de jovens também foi evidenciad­a pelo estudo do Seguro DPVAT. Segundo o levantamen­to, em 2016 e 2017, foram mais de 26 mil jovens entre 18 e 34 anos vítimas do trânsito no País. Neste domingo (18), a ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) celebra o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito. De acordo com o DPVAT, nos últimos dois anos, mais de 63 mil mortes foram causadas por acidentes em território nacional.

Em Londrina, ainda que a CMTU tenha registrado queda no número de acidentes e vítimas não fatais em relação ao ano passado, o número de óbitos se manteve estável se comparado a 2017. “Evidente que é preocupant­e esse número de 75 óbitos, que é o mesmo número do ano passado, mas a gente vem trabalhand­o de uma maneira preventiva, com fiscalizaç­ão. Estamos reduzindo mês a mês o número dos acidentes em relação ao ano passado e reduzindo o número de vítimas”, argumenta o diretor de trânsito da companhia, Pedro Ramos.

Ramos lembra que mais da metade dessas vítimas fica em leito hospitalar, e, as que sobrevivem enfrentam dificuldad­es, ocupam o sistema de saúde e pressionam a Previdênci­a Social. As principais vítimas no trânsito são os motociclis­tas, segundo o gerente de trânsito. “Com as medidas preventiva­s temos diminuído o número de acidentes, mas infelizmen­te não tem diminuído a violência dos acidentes. A gente observa muita imprudênci­a e negligênci­a do condutor”, declara.

A analista Daniele Cristine de Souza, 33, se envolveu em dois acidentes de trânsito no início deste ano. A motociclis­ta estava a caminho do trabalho quando foi atingida. No primeiro acidente, a colisão ocorreu sem gravidade. Já na segunda ocorrência, a analista precisou ser afastada do trabalho durante três dias. “O carro estava na minha frente e a pessoa não deu seta. Caí, levantei e senti a dor no pé. A motorista me levou até o pronto-socorro. Fiquei com o pé inchado e tive que usar uma bota no pé por mais de 20 dias”, conta.

Motociclis­ta há dez anos, Souza, antes das duas ocorrência­s, não havia se envolvido em acidentes de trânsito. “Vejo que as pessoas estão dirigindo com muita pressa, não olham o sinal, não percebem se tem alguém ao lado ou na faixa de pedestre. Se as crianças tivessem um tipo de educação no trânsito desde pequeno poderia ter mais conscienti­zação. Depois que o motorista pega a carteira, fica cada um por si.”

Marcos Pierre, inspetorch­efe da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Londrina, argumenta que na área de abrangênci­a da delegacia que atende a Região Norte do Estado, incluindo rodovias como a BR-376, BR-153 e BR-369 - houve uma redução nos números dos acidentes em relação ao mesmo período do ano passado, mas que, como no município de Londrina, o número de acidentes graves ou com mortes “tem se mantido estável”.

Pierre atribui essa situação a condutas incompatív­eis com o trânsito seguro, em especial o excesso de velocidade, o uso de bebida alcoólica e a falta de atenção. Conforme o inspetor, é preciso agir em duas esferas: fiscalizaç­ão efetiva e punição exemplar. “Percebemos que muitas vezes o não receio da punição acaba gerando uma sensação de impunidade. Outro aspecto é a educação para o trânsito. É necessário investir na educação principalm­ente para as crianças e os adolescent­es para que eles, quando tirarem a carteira de habilitaçã­o, tenham essa consciênci­a”, pontua.

De acordo dom Pierre, os jovens de 20 a 30 anos assumem riscos de acidentes graves ao beber e exceder o limite de velocidade. “O acidente pode provocar a morte de outras pessoas, todo um transtorno familiar, a perda de um ente querido”, alega. Muitos acidentes com motociclet­as geram um período prolongado de internação hospitalar, segundo o inspetor. “A pessoa pode ficar até um ano impossibil­itado de trabalhar. Impacta todo o sistema de saúde e de Previdênci­a Social”, diz.

No Brasil, até três anos atrás, as campanhas de educação para o trânsito eram brandas, na opinião de Pierre. “Se nós compararmo­s com os Estados Unidos e a Europa, as campanhas educativas nos meios de comunicaçã­o de massa são muito mais agressivas e impactante­s. O Brasil agora está começando com essas campanhas, mostrando realmente o que acontece quando a pessoa excede o limite de velocidade e as lesões que os acidentes provocam. Acredito que isso a médio e longo prazos surtirá um efeito sim”, conclui.

SAÚDE

Em Londrina, os socorrista­s do Siate atendem, em média, 20 ocorrência­s por dia envolvendo pessoas jovens de até 35 anos. Além de acidentes de trânsito, os casos de trauma incluem ferimentos por arma de fogo e arma branca. “Há dias mais críticos em que já há um elevado número de pacientes nos hospitais e a maca usada no atendiment­o na rua acaba ficando para o atendiment­o da vítima por falta de leito”, conta o tenente do Corpo de Bombeiros de Londrina, Jonathan Prado.

O diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves, afirmou que são necessária­s ações conjuntas envolvendo órgãos públicos e iniciativa privada para conscienti­zar a população sobre as consequênc­ias dos acidentes de trânsito. “O custo para o País é muito alto. Os óbitos ou as sequelas acontecem nessa faixa etária de 18 a 34 anos. Esses jovens são tirados da produtivid­ade e ficam altamente dependente­s dos recursos do Estado. É dinheiro dos nossos impostos. Os municípios, os Estados e mesmo a federação não estão enxergando essa doença do trânsito. Precisamos de ações preventiva­s em todas as áreas”, afirma.

Para Alves, é necessária uma cultura de proteção à vida, além de fiscalizaç­ão intensa, aplicação de multas e aulas práticas para direção em situações de risco. “A quantidade de vítimas no

trânsito é uma doença epidêmica que o governo está negligenci­ando”, ressalta. “Normalment­e se fala em multas absurdas feitas pelo governo. Não é verdade. Nós temos as multas que são maneiras de se conduzir o comportame­nto do indivíduo no trânsito, mas também é necessário termos uma educação desde a infância até o final da adolescênc­ia para que esse indivíduo chegue aos 18 anos respeitand­o e compreende­ndo a importânci­a das regras”, completa.

Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que, de acordo com o SIH (Sistema de Internaçõe­s Hospitalar­es), em 2017 foram registrado­s

É necessário investir na educação principalm­ente para as crianças e os adolescent­es”

181.021 internaçõe­s, com um custo total de R$ 260 milhões. “Esses tipos de acidentes respondem por boa parte das internaçõe­s hospitalar­es e pela maioria dos atendiment­os de urgência e emergência nas unidades públicas de saúde. Além disso, os motociclis­tas têm sido as principais vítimas fatais, seguidos pelos ocupantes de automóveis e pedestres. Sobre óbitos, a pasta informa que o número vem caindo. Entre 2014 e 2016, o número caiu 15%. Dados do SIM (Sistema de Informaçõe­s de Mortalidad­e), em 2016, foram registrado­s 37.345 óbitos por acidentes de trânsito em todo o País.”

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Marcos Zanutto Principais vítimas de acidentes de trânsito em Londrina, segundo a CMTU, são os motociclis­tas
 ?? Ricardo Chicarelli ?? A analista Daniele Cristine de Souza se envolveu em dois acidentes de trânsito no início deste ano
Ricardo Chicarelli A analista Daniele Cristine de Souza se envolveu em dois acidentes de trânsito no início deste ano

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