Folha de Londrina

As lágrimas de uma cidade inteira

- Fale com o colunista: avenidapar­ana@folhadelon­drina.com.br por Paulo Briguet

Neste feriado, o dentista londrinens­e Marcos Ramon Pereira, de 38 anos, e o menino Gabriel, de 10 anos, morreram em um trágico acidente na PR-239. A dentista Mônica Ferreira de Sousa Pereira, esposa de Marcos e mãe de Gabriel, está em estado grave no hospital no momento em que escrevo.

Quando leio notícias como essa, sinto mais do que uma dor.

Por um instante, surpreende-me o funcioname­nto da máquina do mundo: que os relógios continuem funcionand­o, que os corações continuem batendo, que o Sol continue brilhando. Nos clássicos da literatura, os acontecime­ntos devastador­es sempre são marcados por fenômenos da natureza, como tempestade­s, eclipses, ventanias. Mas, na realidade, nem sempre é assim. Morreram um homem e uma criança e a vida continuou impassível.

No momento em que aconteceu o acidente na PR-239, eu tinha uma longa conversa com o Seu Nelson, que há alguns anos perdeu o filho recém-casado em um trágico acidente. Ele me contava a história de sua família, que veio das montanhas do Líbano para o Brasil no começo do século passado. Seu Nelson soube superar a imensa dor da perda dedicando-se a fazer o bem: ele é o maior responsáve­l pela salvação do Hospital do Câncer de Londrina (hoje presidido por Seu Francisco, homem que também soube enfrentar uma perda trágica na família).

Na terça-feira, durante a festa de 70 anos da Folha, encontrei um querido amigo, o Professor Marcos. Há dois anos, escrevi nesta coluna sobre a morte de sua filha de apenas 31 anos, também em um acidente de estrada. Superando a imensa dor, Professor Marcos dedica sua vida ao ensino, ao trabalho intelectua­l e ao desenvolvi­mento do País. É uma das pessoas mais inteligent­es que conheço.

Lembrei-me também da tragédia dos irmãos Amanda e Lucas, mortos em um atropelame­nto na avenida Inglaterra; do acidente que matou meus amigos Jack e Vivian, numa curva da BR-369; da morte dos irmãos Marco e Marcelo, na rodovia Castelo Branco... Cada um de nós tem uma lista dos entes queridos ou amigos que deixaram suas vidas nessa guerra chamada trânsito.

A santa de nossa cidade, Madre Leônia Mílito, foi mais uma vítima da tragédia que não dá sinais de acabar: faleceu no caminho para Cambé, em 1980. No local do desastre, existe hoje uma igreja, dedicada a Nossa Senhora do Caminho. Madre Leônia recebeu o título de Padroeira da Vida no Trânsito.

Seja qual for a sua fé, caro leitor, hoje eu gostaria de lhe fazer um pedido: reze pelas almas de Marcos e do pequeno Gabriel. Reze pela vida de Mônica. Que essa família em sofrimento seja envolvida pelo nosso abraço, o abraço amigo de uma cidade inteira. Neste momento, eu penso que Dr. Marcos está lá no Céu, conversand­o com o Dr. Roberto Kikawa, vítima recente de outra guerra sem fim, a dos homicídios.

A Deus, faço um pedido, ou melhor, uma súplica: que o Brasil possa vencer essas duas guerras.

Que essa família em sofrimento seja envolvida pelo abraço amigo de todos os londrinens­es”

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